Carlos Velloso, novo ministro da Justiça, joga a favor da opinião pública

Filipe Motta
fmotta@hojeemdia.com.br
16/02/2017 às 20:05.
Atualizado em 15/11/2021 às 23:02

 Escolhido pelo presidente Michel Temer (PMDB) para suceder Alexandre de Moraes no Ministério da Justiça, o mineiro da pequena Entre Rios de Minas, Carlos Velloso, tem dito tudo o que a opinião pública quer ouvir. É a favor da autonomia do Ministério Público e da Polícia Federal, critica o foro privilegiado e afirma que a operação “Lava Jato” é “intocável”. Ao mesmo tempo, vem advogando em favor d o senador Aécio Neves (PSDB-MG) em desdobramentos da operação. De graça.

“Ficamos com aquela vergonha de ter a maior corrupção da administração pública do mundo, mas os brasileiros estão aí, reagindo, com a Polícia Federal e o Ministério Público, sob a supervisão judicial”, disse em entrevista à rádio Jovem Pan, na manhã de ontem, em relação à operação.

“Quando me perguntam a forma de travar, de prender a Lava Jato, eu digo que a Constituição de 1988, uma constituição democrática, deu uma nova feição às instituições, à polícia, ao MP e ao Judiciário. Nenhum ministro da Justiça, nenhuma autoridade dos poderes Executivo ou do Legislativo tem condições de interferir na operação”, completou. Em 2008, porém, havia criticado a atuação da PF no contexto da operação “Pasárgada”.

Velloso também é contrário ao foro privilegiado, que vê como “excres-cência” por, na visão dele, privilegiar um grupo de pessoas em detrimento do restante da população, e sobrecarregar o Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento de ações penais originárias.

Defensor de Aécio

Velloso defende Aécio em dois inquéritos que tramitam no STF sob os cuidados do ministro Gilmar Mendes como desdobramentos da “Lava Jato”. As investigações partem da delação do ex-senador Delcídio Amaral (ex-PT e ex-PSDB). Petista afirmou que Aécio atuou para maquiar dados do Banco Rural na CPMI dos Correios (presidida por Delcídio) que poderiam atingir membros do PSDB, e também de ter recebido propina em um esquema em Furnas. O senador tem negado qualquer envolvimento com os casos.

Velloso reforça, contudo, que as duas investigações não estão relacionadas à “Lava Jato”. “Fui amigo de Tancredo Neves, avô de Aécio, e de Aécio Cunha, pai de Aécio. E sou amigo de Aécio desde os seus 22 anos, quando o conheci, em Belo Horizonte. Sou o seu advogado nesses dois casos em razão dessa amizade. Mais até como conselheiro”, disse, por e-mail, ao Estado de S. Paulo, confirmando que atua de graça para o tucano.

Perfil

Com 81 anos, ex-integrante do STF (1990-2006) e professor de Direito, Velloso é o primeiro ministro mineiro do atual governo. Temer buscou um nome de perfil jurídico forte para repelir hipóteses de tentativas de interferência na “Lava Jato”.
Indiretamente, tentou acalmar os ânimos da bancada mineira, incomodada com a falta de representação do Estado no atual governo. Velloso deve tomar posse após a sabatina do atual ministro, Alexandre de Moraes, para o STF.

“Fui amigo de Tancredo Neves, avô de Aécio, e de Aécio Cunha, o pai. E sou amigo de Aécio desde os seus 22 anos, quando o conheci”

 Indicação divide parlamentares do PMDB de Minas, que querem emplacar ministérios

Parlamentares mineiros consideram que a escolha de Carlos Velloso para o Ministério da Justiça supera, em parte, o que apontam como lacuna da gestão atual. “Tem se falado que há quase meio século não tínhamos uma situação desse tipo, em que não havia um mineiro no primeiro escalão do governo federal”, afirma o deputado federal Domingos Sávio (PSDB), que aprovou a escolha do mineiro para a pasta antes ocupada por Alexandre de Moraes.

O PMDB estadual vinha trabalhando pela nomeação do ex-candidato à Prefeitura de BH e deputado federal Rodrigo Pacheco para a pasta da Justiça. Porém, foi descartado por Temer devido a críticas feitas no passado à atuação do Ministério Público.Deputados federais do PMDB mineiro avaliam que têm feito muito por Temer, inclusive nos momentos de maior dificuldade.

“Temos apresentado ao presidente uma lista de prioridades de investimentos, principalmente com relação às obras de infraestrutura e também à questão da melhor partilha dos royalties do minério. Esperamos que a entrega que a bancada tem feito seja revertida em investimentos no Estado”, afirma o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Fábio Ramalho (PMDB-MG), que considerou ótima a escolha de Velloso.

Newton Cardoso Jr. (PMDB-MG) vai na mesma direção. “Minas precisa de apoio para dinamizar investimentos, acelerar obras de infraestrutura, rodovias e saneamento”.

  

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