Cautela pra investir: mesmo com sinais de recuperação econômica, incertezas ainda exigem prudência

Evaldo Magalhães
efonseca@hojeemdia.com.br
19/01/2018 às 22:52.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:52
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

De um lado, sinais positivos na economia, com expectativa de que o PIB do país cresça 3% ou mais em 2018, depois de seguidas quedas. De outro, ares de terra devastada no setor público, atingido em cheio pela chamada crise fiscal –gerada pela perda de arrecadação, durante a recessão dos últimos dois anos, e a elevação permanente de gastos, como os destinados à folha de servidores inativos.

Para completar, é ano eleitoral, o que sempre mexe com o humor do mercado financeiro. Nesse cenário, as pessoas ficam sem saber o que fazer para proteger patrimônio e dinheiro, não importa o montante. O Hoje em Dia ouviu especialistas no assunto e a resposta para pequenos e médios investidores é simples: o momento pode induzir a certa euforia, mas a palavra de ordem é cautela.

“Temos bons sinais de recuperação econômica e de continuidade desse processo no país em 2018, mas o contexto ainda é de incertezas, como as provocadas pela próxima eleição e a crise fiscal dos estados e da própria União”, diz o professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (Face/UFMG) e vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), Juliano Pinheiro. 

“O melhor a fazer para quem tem aplicações é não correr riscos. Um bom conselho é manter o dinheiro na poupança ou em opções como os fundos de renda fixa, mesmo que a rentabilidade tenha caído bastante nos últimos dois anos, junto com a taxa básica de juros, que passou de 14,25% para 7%, no final de 2017”, acrescenta.

Renda fixa
Nas alternativas de renda fixa, atreladas à Selic, os destaques, um pouco acima da poupança – cujo rendimento está em 0,5% ao mês –, são os Certificados de Depósito Bancário (CDBs), as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e as Letras de Câmbio (LCs), todas com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para aplicações até R$ 250 mil. O Tesouro Selic também é uma opção. 

“O rendimento dessas modalidades de investimento está baixo porque os juros caíram e a inflação está sob controle, o que é normal no momento em que saímos de uma recessão, mas há perspectivas de melhora com a recuperação da economia”, sustenta Pinheiro.

As bolsas, no Brasil e em países como os EUA, embora sejam investimentos ousados, apresentam histórico bastante positivo nos últimos meses. Mas entrar nesse mundo, alertam os especialistas, é arriscado.

 
Consultor desaconselha bolsa para inexperientes no mercado

O consultor financeiro e economista Marcelo Silva Magalhães, da V10 Investimentos, da capital, afirma que existem, no momento, três perfis mais comuns de clientes em busca de aumento de rentabilidade. 

O primeiro é o conservador, que tem aversão a perdas. “Nesses casos, a indicação é sempre pela renda fixa”, afirma, destacando que os CDBs, por exemplo, exigem investimento modesto – R$ 1 mil, em alguns bancos, ou até menos –, assim como o Tesouro Direto, todos com baixa remuneração (inferior a 1% ao mês).
Outro perfil é o do investidor moderado, que aposta na recuperação econômica a despeito de eventuais entraves políticos, comuns em anos eleitorais, e de uma piora acentuada nas finanças públicas. De acordo com Marcelo Magalhães, são pessoas que querem alternativas à baixa rentabilidade de opções atreladas à Selic. 
Para eles, as recomendações incluem investimentos em ações na bolsa brasileira (com capital mínimo de R$ 5 mil) e em fundos imobiliários, no sistema de cotas, já que o setor apresenta potencial de retomada. “Também indicamos a economia real, ou seja, participação em negócios como franquias e na área do comércio”, afirma.

O terceiro tipo, diz o consultor, é mais arrojado e busca proteger suas finanças e patrimônio em caso de uma quebradeira econômica no país – cenário que, felizmente, ainda improvável. “As opções nesse caso são investimentos no exterior, em ações norte-americanas, por exemplo, ou no fundo cambial”, explica, lembrando que, para papéis dos EUA, o capital mínimo exigido é de R$ 25 mil.

O professor Juliano Pinheiro descarta, sobretudo para quem não tenha experiência em investimentos, aplicações em bolsas de valores, brasileira ou estrangeiras, e em fundos cambiais, em razão da volatilidade do dólar e das próprias oscilações do mercado financeiro. Também não aconselha, no momento, investimentos em fundos imobiliários ou no mercado de imóveis, já que ainda é cedo para se apostar em uma recuperação significativa do setor.

“Para pessoas que não têm o hábito ou a cultura de fazer investimentos, o ideal é começar com coisas mais simples. Não é um ano para ousar, mas sim para ter cautela”, conclui.

 Especialista diz que país saiu da recessão e retoma crescimento


A conjuntura econômica brasileira, neste início de 2018, excluindo-se as dificuldades do setor público, está repleta de razões para que se acredite na retomada do desenvolvimento. Segundo Vinícius de Castro Scotta dos Passos, professor de MBA da Fumec e da PUC Minas, uma série de indicadores mostra que o Brasil saiu da recessão e que é possível projetar a volta do crescimento.

“Dois anos atrás, a Selic estava em 14,25% e hoje, em 7%; o dólar chegou a R$ 4,10 e agora está abaixo dos R$ 3,20; o desemprego atingiu 14%, recuou para 12% e deve cair mais; o PIB, que em 2017 deve ser menor que 1%, pode chegar a 3% ou mais este ano; a inflação bateu 10,5% recentemente e, em 2017, ficou em 3,9%”, afirma. 

“As pessoas podem não ter aumentado a renda no período, mas também não perderam poder de compra e começam a ver sinais de melhora econômica no dia a dia”,completa. 

Por outro lado, o governo atual, mesmo envolvido em crises políticas e enfrentando dificuldades financeiras, conseguiu aprovar matérias importantes que favorecem o desenvolvimento econômico, como a PEC do teto de gastos e a reforma trabalhista. “Mas não podemos esquecer de um outro lado da realidade, com a incerteza das eleições e a crise fiscal dos estados, que acumulam dívida de R$ 450 bilhões”, sustenta Passos. 

O importante para garantir o ciclo de crescimento, explica o professor, é que o Brasil faça o “dever de casa”, assim como outros países – casos do México e da Coréia do Sul –, e realize mais reformas, como a da Previdência, para que consolide a tendência de crescimento, atraindo investimentos duradouros, e não especulativos, como tem ocorrido. 

“O cálculo, hoje, é de que haja oito trabalhadores da ativa para cada aposentado, mas em 2040, se nada mudar, serão quatro trabalhadores para cada aposentado. Se temos, no momento, um déficit de R$ 180 bilhões na Previdência, imagine daqui a 20 anos”, diz.

Incerteza política
O também professor de finanças Marcos Melo, do Ibmec de Brasília, admite que o período pré-eleitoral, este ano, e a crise nos estados e na União podem impactar o andar da carruagem econômica, em 2018. Fatores recentes como o novo rebaixamento da nota de crédito do país pela agência internacional de risco Standard&Poor’s (S&P), de “BB” para “BB-“, e a notícia de que o próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, sugeriu que o governo federal quebrasse a chamada “regra de ouro” dos gastos públicos – que proíbe ultrapassar um limite de despesas correntes sobre a receita –, são complicadores da situação. 

Há, de acordo com ele, mais elementos com potencial para “atrapalhar a música”, como o julgamento de recurso do ex-presidente Lula, no dia 24, e até o desempenho do Brasil na Copa da Rússia. “Mas estamos reiniciando uma fase de crescimento depois de um período longo de profunda recessão e, como não temos problemas estruturais muito graves, como guerras e instabilidade social, acredito que a retomada do desenvolvimento irá continuar. Pelo menos até o próximo governo”, afirma.

 

  


 

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