Congresso paraguaio destitui Lugo em processo sumário

AFP
22/06/2012 às 21:58.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:02
 (Jorge Romero/AFP)

(Jorge Romero/AFP)

ASSUNÇÃO - O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, foi destituído pelo Congresso nesta sexta-feira (22) após um processo de impeachment sumário, apresentado pela Câmara dos Deputados e votado pelo Senado em pouco mais de 24 horas.

"Submeto-me à decisão do Congresso (...). Foi a história paraguaia, sua democracia, que foram feridas profundamente", disse Lugo. "Hoje, retiro-me como presidente, mas não como cidadão paraguaio". "Que o sangue dos justos não seja derramado", pediu Lugo, que deixou o palácio presidencial após o discurso.

O vice-presidente Federico Franco assumiu o governo logo em seguida, prestando juramento de aproximadamente 90 minutos após o discurso de Lugo acatando a decisão.
 


Vice-presidente Federico Franco assume o poder no Paraguai (Foto: Pablo Porciuncula/AFP)
 

Franco, empossado sob os aplausos do Congresso, disse que "este compromisso maior só será possível com a ajuda e a colaboração de cada um de vocês". "Quero expressar minha vontade irrestrita de respeitar as instituições democráticas. Chego sem rancor", destacou Franco, um médico cirurgião de 49 anos, que transmitiu à missão da Unasul que viajou a Assunção seu compromisso com todas as "obrigações internacionais".

No total, 39 dos 43 senadores presentes entenderam que Lugo é culpado das acusações e o presidente foi automaticamente destituído às 18h27 local (19h27 de Brasília), por mais de dois terços dos votos, como exige a a Constituição do país. Quatro senadores apoiaram a absolvição do mandatário e denunciaram o julgamento político como um atentado à democracia paraguaia.

Lugo era acusado "de mau desempenho de suas funções em razão de ter exercido o cargo de maneira imprópria, negligente e irresponsável, trazendo o caos e a instabilidade política a toda a República". A origem da crise foi a morte de 11 trabalhadores sem-terra e de 6 policiais em um confronto armado na sexta-feira passada, em Curuguaty, 250 km a nordeste de Assunção, durante a desocupação de uma fazenda.
 

 


Paraguaios vão às ruas processar contra a destituição do presidente Lugo (Foto: Norberto Duarte)

Na praça vizinha ao prédio do Congresso em Assunção, os manifestantes receberam a notícia da destituição com gritos de "Lugo presidente" e ocorreram tumultos. A polícia de choque foi mobilizada para conter os manifestantes mais exaltados.

O ex-bispo de 61 anos, eleito em 2008, apresentou uma ação de inconstitucionalidade à Suprema Corte de Justiça contra o processo de impeachment. "Não é mais um golpe de Estado contra o presidente, é um golpe parlamentar disfarçado de julgamento legal, que serve de instrumento para um impeachment sem razões válidas que o justifiquem", disse o chefe de Estado.

Lugo "acatou" o julgamento político, "que é um mecanismo constitucional, mas a partir de outras instâncias organizacionais certamente decidiremos impor uma resistência para que o âmbito democrático e participativo do Paraguai vá se consolidando".

O líder paraguaio recebeu telefonemas de apoio de seus homólogos Dilma Roussef, Hugo Chavez, da Venezuela, Rafael Correa, do Equador, Evo Morales, da Bolívia, e Cristina Kirchner, da Argentina.

Rafael Correa rejeitou a "ilegítima" destituição de Lugo e afirmou que não reconhecerá o novo chefe de governo em Assunção. "O governo do Equador não reconhecerá outro presidente do Paraguai que não seja o senhor Fernando Lugo". "Já chega destas invenções na nossa América, isto não é legítimo e não acredito que seja legal. Seguramente ignoraram os procedimentos".

Correa pediu à União das Nações Sul-Americanas (Unasul) a "aplicação da cláusula democrática" do grupo, que "determina não reconhecer tais governos e prevê o fechamento das fronteiras" com os países fora do sistema democrático.

O chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, qualificou a destituição de Lugo de "ofensa e vergonha para a democracia sul-americana". Patiño integra a missão de chanceleres da Unasul que viajou a Assunção em busca de uma "saída democrática" e não conseguiu evitar a "ruptura da ordem democrática, sem o respeito ao devido processo" no julgamento político de Lugo.

O ministro das relações exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, ameaçou aplicar todos os tratados vigentes no Mercosul e na Unasul contra a quebra da ordem democrática no Paraguai. "Viemos com a maior boa vontade. Lamentavelmente, não fomos ouvidos por aqueles que estão tomando essa decisão", disse Maduro sobre os legisladores paraguaios que empreenderam o julgamento político de Lugo.

A missão da Unasul, liderada pelo chanceler brasileiro, Antonio Patriota, tinha a missão de "assegurar o direito de defesa da democracia" no Paraguai.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por