(Flávio Tavares)
Se as eleições para a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) fossem hoje, João Leite (PSDB) iria para a disputa do segundo turno, de acordo com as pesquisas. Deputado estadual pelo sexto mandato consecutivo e ex-goleiro do Atlético, do América Mineiro e da Seleção Brasileira, o candidato tem como principal bandeira melhorar a saúde da população belo-horizontina por meio da inversão das prioridades do investimento. Ao invés de gastar com as internações, os aportes serão destinados à prevenção das doenças. O tucano promete também mais transparência na gestão municipal. Confira a quarta entrevista da série do Hoje em Dia com os candidatos à PBH.
Se eleito, qual será sua primeira medida como prefeito?
A abertura da porta principal da prefeitura, virada para a Afonso Pena, que está fechada há alguns anos. Será um símbolo da minha gestão. Por ali, Juscelino Kubitschek saiu muitas vezes para conversar com a população. Tudo que eu penso sobre BH está relacionado a esse ato.
Você pode explicar melhor?
O meu governo têm como base a Cidade Cuidadora. Vejo que na saúde, especialmente, as pessoas são cuidadas apenas no momento mais grave. Há uma distorção da política pública. A PBH gasta até mais do que o exigido por Lei, mas gasta errado. O investimento é de 58% para internação e 5% para promoção e prevenção. Quero saber o que é importante para as pessoas na Unidade Básica de Saúde (UBS). Para o diabético, o importante é o glicosímetro, mas quando vamos ao posto de saúde não tem. Sem ele, a pessoa pode precisar de internação e até de uma amputação. Para o hipertenso, o importante é o remédio. Sem ele, a pessoa pode sofrer um AVC. Para as crianças, o importante é a bombinha. Sem ela, a criança pode ter uma pneumonia. Então, a prevenção e a promoção da saúde são fundamentais, e nós teremos cuidado com isso.
É uma maneira de economizar também?
Claro. E de tratar as pessoas de uma forma adequada. Hoje, um exame especializado demora dois meses para sair a liberação. Imagina uma pessoa esperando dois meses para fazer uma constatação? Pode levar a algo muito mais grave. Não podemos errar. É uma cultura de tratar só do mais grave, sem o cuidado de prevenir. Para isso, nós vamos criar a Rede Cuidar.
Como ela funciona?
Vamos fazer um esforço de acompanhar cada caso individualmente. Para isso, nós vamos investir em tecnologia. A Unidade Básica de Saúde estará ligada ao Centro de Diagnósticos e ao Centro de Exames Especializados. Quando ela entrar ali, já saberemos qual o médico, qual o exame. Se tiver muito exame ou consulta, vamos fazer parcerias com clínicas particulares. Será mais em conta fazer isso do que deixar a pessoa esperando e faltar o básico para ela. Depois, ela iria ao hospital, por exemplo. É por isso que vemos sempre hospitais superlotados.
Na saúde, haverá alguma prioridade?
Sim, os casos que requerem maiores cuidados, como as doenças crônicas. E um capítulo especial que são as grávidas. Sou muito entusiasmado com isso. Já tive filhos e agora tenho netos. E sou muito entusiasmado com criança e com grávidas. Dentro da Rede Cuidar, nós teremos o “Nascer em BH”, que será uma festa. A grávida vai ser cuidada, o bebê vai receber cuidado individualizado. A mãe terá chamamento para as vacinas das crianças deste bebê, para os exames. Será um bebê cuidado, forte.
No que diz respeito à transparência, como será sua gestão?
A ideia é termos uma auditoria permanente na prefeitura, em cada contrato, em cada obra.
As contas do transporte público serão abertas, caso você assuma a gestão?
Sim. Ficarão ‘abertíssimas’ à população, que paga impostos e tem o direito de conhecer os gastos da prefeitura.
Para a educação há algum projeto específico?
Dentro da Cidade Cuidadora, nós temos educação. Em Belo Horizonte temos 17 mil crianças, a maioria de zero a 3 anos, fora das creche. A Umei é muito legal, mas não atende a todos. E nós tivemos adensamento em algumas regiões de Belo Horizonte, pelo Vila Viva, que não são atendidas por creches. É outra prioridade absoluta. Nasceu, tem que ter uma creche.
E você pretende construir mais creches?
Vamos fazer parcerias com o terceiro setor. Flávio Tavares
Para o professor há algum projeto?
Vamos criar o Centro de Referência do Professor, para capacitá-lo. Temos no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) uma boa nota, mas na Prova Brasil estamos muito ruins em matemática e português.
Como melhorar este índice?
O xadrez é uma forma simples e eficiente. Quando utilizado na escola, estimula muito as crianças, especialmente na matemática, no campo da lógica. Mas vamos trabalhar também a interpretação de texto, que é muito importante.
Quais os projetos para a segurança pública?
A Rede Cuidar também envolve segurança. Para mim é muito importante, dada a minha experiência, investir nesta área. Desde que nasci estou envolvido com segurança pública. Sou filho de um policial. A primeira memória que tenho do meu pai é ele colocando a farda e a arma para trabalhar. Meu pai sempre falou muito de segurança. Tenho vários projetos aprovados na área da segurança, como o Campos de Luz. Ele tem o propósito de iluminar campinhos de futebol. Afinal, são mais de 6 mil metros totalmente escuros no meio das comunidades. Além disso, presidi três Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI), a mais famosa delas foi sobre a fuga do Fernando Beira Mar. Indiciamos 19 pessoas.
Você pretende abrir concurso para a Guarda Municipal?
Belo Horizonte tem cerca de 2,2 mil guardas municipais, número suficiente. Eles precisam é ter mais poder. Este poder seria o de estar armado, ter comunicação. Pretendo criar um Centro de Treinamento para a Guarda Municipal. Todo guarda vai estar armado, com seu comunicador. Junto com a Polícia Militar e a Política Civil, ele estará nas ruas dando suporte à população. Vou criar um gabinete integrado em que estarão sentados a Polícia Militar, a Polícia Civil, a Guarda Municipal, o Ministério Público, a Defensoria Pública e a Justiça. Estamos ligados, também, à situação dos adolescentes em conflito com a lei. Queremos ter um enorme cuidado com isso.
Dê um exemplo.
O projeto de iluminação pública da cidade é ultrapassado. A população de Belo Horizonte paga uma taxa para iluminar a copa das árvores. Iluminam os passarinhos, não o chão.
Quais são as propostas para os moradores de rua?
A Praça 7 tem um acampamento. Tem gente que mora em barraca. Temos 3,5 mil pessoas morando no centro de cidade. Vamos fazer a abordagem dessas pessoas. É usuário, é dependente químico? Vamos oferecer tratamento. Vamos ter um trabalho firme na rodoviária, na chegada das pessoas a BH.
Qual o objetivo?
Quando conversei com os moradores de rua percebi que a maioria não é de Belo Horizonte. Alguns estariam passando pela cidade. Como não conseguiram conexão com o destino, permaneceram aqui.
E o que fazer?
Quando eu era secretário municipal, nós ajudávamos as pessoas a chegar ao destino final da viagem. É necessário.
O caixa da prefeitura é suficiente?
Tudo o que quero fazer já está dentro do programa da prefeitura. Falamos em inverter prioridades.
Caso você seja confirmado no segundo turno, há alguma estratégia?
Não, cada dia é um desafio. Cada dia é um susto com algo na cidade. Mas por causa da minha experiência, consigo imaginar um futuro. Estou preparado para este momento.
O que você acha de união homoafetiva, aborto e liberação das drogas?
A legislação brasileira já trata desses temas. O aborto é permitido, segundo a legislação, para mulheres que sofreram estupro, que deve ser um trauma muito grande, e para casos de má formação da criança. A mulher tem seu direito preservado. A questão da liberação das drogas eu sou totalmente contra. O desastre brasileiro é por causa das drogas. Temos homicídios por causa de dívida de drogas. É inaceitável. A união homoafetiva também já está pacificada pelo Supremo Tribunal Federal. O prefeito não vai tratar desse assunto. O prefeito vai tratar todos da mesma forma, independente de tudo.