Crédito escasso e falta de confiança empacam comércio, indústria e empregos

Tatiana Moraes
tmoraes@hojeemdia.com.br
09/06/2017 às 19:57.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:00
 (Luiz Costa/Arquivo HD)

(Luiz Costa/Arquivo HD)

 Apesar dos esforços da equipe econômica do governo federal para mostrar que o Brasil começa a sair da crise, os números não projetam um cenário otimista. Segundo dados do Banco Central (BC), o crédito, tanto para pessoa física quanto para jurídica, está cada vez mais escasso, empacando comércio, indústria e empregos.

Entre março e abril deste ano, por exemplo, houve retração de 15,2% na quantidade de empréstimos feitos em instituições financeiras. Em 12 meses, considerando o período de maio de 2016 a abril de 2017, foi registrada retração de 6,3% na oferta de recursos. Sem dinheiro disponível, a economia fica estagnada e a recuperação econômica é, mais uma vez, adiada.

A falta de liquidez reflete diretamente no comércio. De acordo com dados mais recentes do IBGE, entre abril de 2016 e março deste ano o comércio de Minas Gerais recuou 2,5%. Foi a 12ª queda consecutiva do indicador, apontando comportamento sistêmico de retração nas vendas.

Com a falta de confiança do consumidor para tomar crédito, é iniciado um ciclo vicioso, conforme afirma a economista da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Ana Paula Bastos.

“Sem crédito, as empresas não investem e não criam novos postos de trabalho”, explica. Como as pessoas estão sem emprego, ou têm medo de perdê-lo, elas não compram e o comércio amarga perdas, refletindo em recuo de pedidos para a indústria. “É uma reação em cadeia”, diz a economista.

Entre março e abril, houve recuo de 16,3% na liberação de dinheiro para empresas, segundo o Banco Central. No acumulado do ano, até abril, a queda foi de 10,6%, no confronto com igual período passado.

Para depois

A fábrica de refrigerantes Mate Couro está entre as empresas que postergaram projetos que dependiam do crédito em decorrência do cenário político e econômico. De acordo com o gerente de vendas Lázio Divino Pinto, a empresa planejava comprar equipamentos modernos no começo do ano. O maquinário seria capaz de reduzir custos e aumentar a produtividade. Como reflexo, seria possível colocar um produto mais em conta no mercado e contratar mais mão de obra.

“Nossa expectativa era a de aumentar as vendas. Se vendêssemos mais, teríamos que contratar mais gente, gerando empregos. A economia giraria e seria bom para todos”, diz o gerente de vendas. No entanto, ele ressalta que a empresa não se sentiu segura para fazer o aporte.

“Mesmo que encontrássemos linhas de crédito atrativas, não achamos que o momento seja interessante para investir. Os riscos são altos. Por isso, decidimos adiar os planos”, lamenta.

De acordo com o coordenador do curso de Economia do Ibmec, Márcio Salvato, quando as empresas não acreditam que o retorno do investimento virá no prazo estimado, elas tendem a colocar o pé no freio. E é justamente o que acontece no momento.

Segundo o especialista, embora a Selic esteja em processo de queda livre, passando de 12,9% em janeiro para 10,25% na semana passada, as taxas de juros na ponta da cadeia continuam altas. “Sem contar que as expectativas das empresas estão se deteriorando. Elas ficam cada vez menos dispostas a assumir crédito”, explica.

 Cenário incerto faz consumidor desistir de compras maiores


O cenário nebuloso faz com que o consumidor passe longe de compras maiores, como veículos e motocicletas, conforme explica o economista da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Sérgio Guerra.

“Tanto as empresas quanto as famílias estão fazendo ajustes na capacidade de arcar com despesas financeiras. O consumidor está endividado e tem feito ajuste continuado. Não faz sentido contrair novas dívidas diante das incertezas que envolvem o momento atual”, rechaça.

No entanto, a leve recuperação de 1,4% na concessão de crédito à pessoa física em 12 meses faz com que empresários fiquem tenham uma dose de esperança quanto ao futuro.

O índice ainda não refletiu em melhoria nas vendas na Motovia, que comercializa motocicletas. Mas o proprietário da loja, Rodrigo Braga, percebe que a movimentação no estabelecimento aumentou.

“Antes, as pessoas não tinham nem curiosidade de ver as motos. Agora já vêm à loja. Já é um bom sinal”, diz.
O possível aumento da demanda, porém, tem sido barrado pela rigidez dos bancos, que têm elevado as restrições aos financiamentos. Como consequência, a venda não é concretizada. “Mais da metade das nossas motos são comercializadas a partir de financiamentos. E não são todas as fichas que passam”, lamenta Braga.

Calote
O motivo de as instituições financeiras negarem os pedidos de empréstimo é o risco de inadimplência. Segundo dados do Banco Central (BC), os calotes aos financiamentos aumentaram 0,3% nos últimos 12 meses, terminados em abril. No acumulado do ano, houve elevação de 0,2%.

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