Crise amplia inadimplência nas escolas

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
04/10/2015 às 07:45.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:56
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

A preocupação dos pais já não é somente com a nota, boletim ou futuro profissional dos filhos. Com a crise econômica, a apreensão ganhou um novo motivo: a dificuldade para pagar a mensalidade escolar em dia. De acordo com o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinepe-MG), as taxas de inadimplência deram um salto, passando de uma média de 4% ao mês, em 2014, para mais de 8% neste ano. Em algumas instituições, entretanto, o atraso nos pagamentos bate os 30%.

“Em função do aumento da inflação e do desemprego, o número de inadimplentes disparou. É uma situação que está tirando o sono da gente. Se o cenário continuar assim, há o sério risco de escolas fecharem as portas”, diz o presidente do Sinepe-MG, Emiro Barbini. A crise não escolhe classe social, mas as instituições particulares voltadas para alunos das classes C e D são as que mais sofrem. “Com a ascensão e o aumento do poder aquisitivo, muitos pais puderam realizar o desejo de matricular o filho em uma escola de qualidade superior. Mas agora, com o revés, está complicado honrar os compromissos”, afirma.

Ainda segundo Barbini, que também é membro do Conselho da Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino Particular, nos últimos anos o número de alunos matriculados na rede particular cresceu em torno de 7%. Para o 2016, no entanto, a expectativa é de redução de 6%. “Tudo o que foi construído pode ser perdido. É como se, ao fazer o caminho de volta, o sonho dos pais estivesse ruindo”, lamenta. Ele acredita que haverá uma migração dos estudantes da rede privada para a pública já no ano letivo de 2016, influenciada também pelo reajuste entre 10% e 14% nas mensalidades.

O Instituto Educacional Manoel Pinheiro, no bairro Guarani, cresceu impulsionado pela ascensão das famílias. “Antes a gente corria atrás de alunos. Hoje atendemos 1.000 estudantes entre 2 e 17 anos”, conta a diretora pedagógica Renata Gazzinelli. Com as salas de aulas cheias, a batalha é garantir que os pais inadimplentes acertem as dívidas. “A inadimplência que era de 5% está quase em 30%. E isso não é só na nossa escola. O que a gente mais escuta são relatos assim”, afirma.

Renata diz que são dois perfis de pais com mensalidades em atraso. “Há aqueles que estão passando por um momento de perda do emprego e de renda, mas que nos procuram para dialogar. São donos de pequenos negócios, vendedores e profissionais liberais que estão estrangulados, mas que querem negociar. Porém, tem uma minoria que nem atende o celular”, diz.

Segundo ela, diante do aperto, alguns pais optam por não pagar a escola, já que não sofrerão repressão imediata, como acontece com a energia elétrica, por exemplo. E os juros são bem menores que os cobrados no cartão de crédito e cheque especial. “No geral, a multa é de 2% mais 1% de juros ao mês”, calcula o presidente do Sinepe-MG.

Diretora da Escola Estadual Pedro II, Cristiane Justi diz que a procura por uma vaga na instituição, primeira colocada entre as públicas mineiras no Enem, disparou. “Além da crise, os pais relatam que vai ser impossível arcar com o aumento nas mensalidades”, diz.

Estabelecimentos revisam custos e projetos pedagógicos para se adequar à nova realidade

Com as mensalidades pesadas demais para o orçamento, os pais atrasam o pagamento. E complicam ainda mais a vida financeira das escolas, que também sentem no caixa o aumento dos custos fixos, como energia e água. “As instituições estão tendo que se virar. O primeiro passo é fazer uma planilha para reduzir as despesas. A gestão financeira tem que ser feita com muita austeridade”, diz o presidente do Sinepe-MG, Emiro Barbini.
Outra medida que tem sido adotada é a revisão do projeto pedagógico, com a manutenção do essencial. Ele diz que demissões podem acontecer caso a evasão, a inadimplência e a crise piorem.

A contratação de seguro educacionais, que arca com mensalidades em caso de perda do emprego do chefe da família, é citada por Barbini como uma alternativa de proteção ao calote. “No cenário de incerteza, a procura por cotações tem crescido”, diz o superintendente-executivo do segmento de Vida e Previdência da Bradesco Seguros, Marcelo Rosseti. Os preços giram em torno de 1% a 3% do valor da mensalidade.

Vice-coordenador do Sistema Logosófico de Educação, Jorge Nagem diz que a instituição estuda a contratação do seguro educacional. Enquanto isso, outras decisões para corte de custos foram tomadas. A instalação de um sistema de captação de água da chuva para lavação do pátio representou uma economia de 5% no consumo. “Mas a meta é atingir 10%”, diz Nagem. Também estão sendo substituídos lâmpadas e equipamentos de ar condicionado mais antigos por outros mais econômicos.

O gestor administrativo financeiro do Colégio Santo Agostinho em BH, Mauro Macedo, conta que a instituição implantou uma subestação de energia para reduzir a conta de luz. O próximo investimento será em um gerador. “Nossa inadimplência subiu pouco, mas temos que ficar atentos. Também fazemos um trabalho preventivo, com envio de cartas com duas parcelas em atraso”, diz.

REDUÇÃO DE CUSTOS – Jorge Nagem mostra reservatório para armazenar água de chuva, utilizada na limpeza do pátio da escola Foto: Lucas Prates

 

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