Apesar do agravamento recente da crise da Usiminas, a companhia atravessa um período difícil já há alguns anos, com reflexos negativos em Ipatinga, no Vale do Aço, fortemente dependente das atividades da usina.
A dimensão da fabricante de aços para a cidade pode ser medida pela arrecadação de IPTU. De tudo o que entra nos cofres municipais a título de Imposto Predial Territorial Urbano, metade foi pago pela Usiminas, de acordo com a Prefeitura.
Nos últimos cinco anos, o município do Vale do Aço demitiu mais do que empregou em quatro, acumulando um fechamento superior a 11 mil vagas desde 2011.
A curva que mostra a arrecadação de impostos da Prefeitura também aponta para baixo, sem perspectiva de alta, e os desdobramentos da crise se alastram para outros setores fora da fabricação de aço, como o comércio. Segundo o secretário municipal de Fazenda de Ipatinga, Fábio Mussi, o peso financeiro da Usiminas para Ipatinga mostra seus efeitos na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Impactos
O repasse de parte do tributo do Estado para a Prefeitura é calculado pelo nível de atividade econômica da cidade, representado por um indicador denominado Valor Adicionado Fiscal (VAF). Quanto maior o VAF, maior o repasse.
Desde 2010, o VAF de Ipatinga apresenta redução ano a ano, derrubando o valor dos repasses de ICMS, que em 2014 foi de R$ 170 milhões, em 2015 de R$ 152 milhões e, estima-se para este ano, R$ 140 milhões.
“O ICMS, além de ser a principal fonte de arrecadação atrelada a Usiminas, é a principal fonte de renda própria da Prefeitura. A arrecadação cair em período de crise é muito complicado, porque são nesses períodos que se aumenta a demanda por serviços públicos”, disse Mussi.
O período de redução do VAF coincide com a crise da siderurgia. Há, no mundo, um amplo excesso de oferta de aço. A estratégia agressiva da China no mercado internacional, praticando preços muito abaixo dos fabricantes tradicionais, expulsa do mercado players como o Brasil.
Cenário
Depois da queda de 2015, o Instituto Aço Brasil (IABr) estima baixa de 4% nas vendas internas em 2016.
A redução do pessoal empregado na Usiminas também gera impactos negativos para o comércio.
“É menos renda circulando, as lojas vendem menos e cortam mão de obra. Com o comércio e o setor de serviços impactados, a arrecadação de Imposto sobre Serviços (ISS) também é afetada”, disse Mussi.
De acordo com ele, desde 2014 o ISS cai mês a mês, sendo que em janeiro deste ano a retração chegou a 20% sobre janeiro de 2015.
Em meio à crise, a Usiminas está com dificuldades de vender seus ativos nesse período turbulento.
No movimento mais recente de desinvestimento, a empresa contratou o Credit Suisse para se desfazer da Usiminas Mecânica, mas ainda tem imóveis e participação na MRS que podem ser vendidos.