Desemprego leva à reinvenção do trabalho para sobreviver

Janaína Oliveira
joliveira@hojeemdia.com.br
01/04/2016 às 14:56.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:44
 (Flávio Tavares )

(Flávio Tavares )

 Daniela Rodrigues era funcionária de uma indústria mecânica. Virou dona de biscoiteria. Ex-chef de cozinha em uma rede de hotéis, João Paulo Simões agora “pilota” uma bicicleta, onde vende doces. Sem oportunidade de trabalho, o publicitário Marcos Vasconcelos desistiu temporariamente da carreira e abriu um delivery de sanduíches para sobreviver. E Verônica Lima, que era dona de loja de roupa infantil, hoje tem tantas funções quantos os dedos de uma mão: manicure, vendedora de lingerie, motorista de crianças, confeiteira e cerimonialista.

Em meio ao mar de gente sem emprego no país – são quase 10 milhões de desocupados, segundo último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - , brasileiros como Daniela, João Paulo, Marcos e Verônica têm se virado como podem. Usam e abusam da criatividade, mudam de profissão, fazem malabarismos para esticar o dinheiro até o final do mês e se reinventam para enfrentar a crise que parece não ter um ponto final.

“O mercado de trabalho vem encolhendo gradativamente. E as pessoas com maior qualificação estão ficando mais tempo à procura de uma vaga. Como não encontram portas abertas na profissão de origem, acabam exercendo outras funções, muitas vezes, com remuneração menor e piores condições. Se arriscam em outras áreas por uma questão de sobrevivência”, diz o professor de Economia do Ibmec/MG Felipe Diniz Leroy.

Em outubro de 2015, a gestora de RH Daniela Rodrigues ouviu do chefe a notícia mais temida por qualquer trabalhador. Deu adeus à indústria e com o dinheiro do acerto abriu a Biscoiteria Platina, no Prado, projeto antigo do marido, o administrador de empresas Warlley Leite dos Reis.

“Quando me formei, em 2010, elaborei o plano de negócios. Mas faltava capital de giro. A oportunidade surgiu em meio a um momento difícil e a minha esposa abraçou meu sonho”, conta Reis.Flávio Tavares / N/A

CRISE – Daniela Rodrigues abriu uma biscoiteria com o dinheiro da demissão

Com investimento de R$ 25 mil, o casal inaugurou a loja em janeiro. “Vemos muitas pessoas sendo demitidas. Mas a crise também pode ser a chance para colocar a mão na massa e reverter o quadro ruim”, diz o sócio. A aceitação dos biscoitos, quase todos de fornecedores de São Tiago, cidade mineira famosa pelos quitutes, tem sido tão boa que a criação de uma franquia já é estudada.

Pedalando para superar as adversidades do momento

Exausto com a rotina puxada e o acúmulo de tarefas, após o corte de pessoal na rede de hotéis em que trabalhava, o ex-chef João Paulo Simões deu um giro na vida profissional. Na carona dos food bikes, as charmosas bicicletas que circulam por feiras e pontos da cidade, ele foi pedalar, literalmente.
Todos os dias, acorda às 5 horas para enrolar os seis tipos de docinhos, que custam R$ 2 cada. Percorre 2 km de casa até a avenida Contagem, no Santa Inês. O esforço vale a pena: são 200 brigadeiros, cajuzinhos e canudinhos de doce de leite vendidos por dia. “Só uso ingredientes de primeira qualidade. Com isso, já estou ganhando mais do que antes”, comemora.

O publicitário Marcos Vasconcelos ainda não teve a mesma sorte. Após distribuir currículos por um ano, desistiu da profissão e abriu a Hamburgueria Butiquim. Mas, com pouco capital, o negócio ainda não decolou conforme o esperado. O faturamento bruto ainda está entre R$ 130 e R$ 140 por dia. “Comprei uma chapa maior na semana passada e, assim, vamos poder atender mais pedidos”, espera.

Formada em Turismo e Gestão Hoteleira, Verônica Lima tem mil e uma utilidades: aceita encomendas de doces e salgados, é manicure, faz transporte escolar de crianças da vizinhança e vende lingerie. “É uma correria danada e fico bem cansada. Mas o bacana é que organizo meu tempo e posso cuidar dos meus filhos”, afirma.

O jornalismo já não é mais a prioridade de Pierre Menezes. O plano B inclui a função de personal chef e professor de culinária. “Com a crise, a procura pelo serviço caiu pela metade. Mas é uma vida que me dá muito mais prazer”, diz.

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