O dinheiro perdido com a corrupção em 2015 (R$ 135,7 bilhões) é quase nove vezes superior ao valor que o Brasil necessita investir a mais ao ano para a universalização do ensino. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que seria necessário ampliar os aportes em educação em R$ 15,35 bilhões anuais, em valores corrigidos.
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Para chegar a esse número, o instituto levou em conta a necessidade de incluir 3,6 milhões de crianças e adolescentes, entre 4 e 17 anos, nas escolas e partiu do pressuposto que o governo manteria o repasse de, pelo menos, 18% na área educacional. Em 2009, o valor necessário era R$ 9,7 bilhões. Corrigindo pela inflação do período, atinge R$ 15,35 bilhões.
A coordenadora geral do Sindicato Único em Trabalhadores da Educação de Minas Gerais (Sind-Ute), Beatriz da Silva Cerqueira, pondera que os investimentos em educação no Brasil esbarram na corrupção.
Realidade que pode ser comprovada na prática. Balanço divulgado neste ano pela Controladoria Geral da União (CGU) mostrou um desvio de R$ 2 bilhões em recursos destinados à merenda e ao transporte escolar em 199 municípios, desde 2003. A fraude gerou impacto direto sobre o desempenho dos alunos, segundo o órgão.
Mas o impacto vai além. “Temos várias escolas sem quadras de esportes e sem refeitório. Sem contar que faltam vagas. O sofrimento é maior na educação de jovens e adultos, que têm um déficit histórico”, afirma Beatriz.
A auxiliar de serviços gerais Angelina dos Santos Silva, de 37 anos, sabe bem o que é isso. A filha dela, de 14 anos, teve que sair da escola onde estudava por causa de agressões de outras alunas. Agora, no meio do ano, ela não consegue matricular a menina em outros colégios por falta de vagas. “Já fui em várias escolas e a resposta é sempre que não tem vaga. Estou na fila de espera. Pelo visto, minha filha vai perder o ano”, lamenta.
Além de ilustrar a falta de vagas na rede pública, a adolescente dá volume a outro indicador tão perverso quanto: o da violência nas escolas.
Pesquisa realizada pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), Ministério da Educação e Organização dos Estados Interamericanos (OEI) mostrou que um a cada cinco alunos sofreu violência física ou verbal nas escolas públicas de sete capitais, dentre elas Belo Horizonte. Desse total, 65% apontaram um colega como agressor. Outros 15% disseram que a violência partiu dos professores.
A pesquisa mostra ainda que 70% dos ouvidos dizem ter havido algum tipo de violência nas escolas onde estudam nos últimos 12 anos. O Ministério da Educação não se pronunciou.