Alta do mínimo acima da inflação elevou o consumo

Hoje Em Dia - Tatiana Moraes
01/07/2014 às 07:42.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:12
 (Luiz Costa)

(Luiz Costa)

Os supermercados comemoram até hoje o sucesso do real. Considerado o vilão da economia na época da hiperinflação, o segmento sofreu com a renda sendo reduzida a pó pelas baforadas do dragão. Como reflexo, vários supermercados foram fechados.   O superintendente-geral da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Adilson Rodrigues, se lembra bem daquela época. “Muita gente achava que a culpa dos preços aumentarem era nossa. As pessoas não sabiam a dificuldade que tínhamos para conseguir reabastecer as lojas. Quem tinha estoque estava bem”, afirma.   Da mesma forma que o custo do produto mudava para o consumidor, a inflação agia para o supermercadista. Se em um dia a renda era suficiente para comprar mil latas de óleo para serem revendidas, no mês seguinte o mesmo faturamento dava para abastecer o estoque em 950 latas. No mês seguinte, caía para menos. Até que o supermercado fechava as portas. “A inflação sempre passava na frente dos preços. Tudo mudou de lá para cá”, diz Rodrigues.   A atividade industrial também sofreu na época da inflação alta, conforme o professor de economia do Ibmec Reginaldo Nogueira. Com a população reduzindo as compras e o comércio fazendo pedidos menores, devido à escalada dos preços, a indústria reduziu a produção, com disparada do desemprego.     Diferenças   O superintendente-geral da Amis cita números para exemplificar as mudanças. O salário mínimo, por exemplo, aumentou quase 1.000% ao passar de R$ 64 para R$ 724. Na outra ponta, a cesta básica subiu 358,8%. As frutas subiram 31%, o açúcar, 267%, e os leites e derivados, 296%. “Tudo isso comprova que o Plano Real foi crucial para que o salário do trabalhador pudesse ter maior poder de compra. Além disso, temos que lembrar que o salário mínimo puxa todos os outros rendimentos”, afirma.     Estabilidade permitiu apurar o valor real de bens e salários   O mercado imobiliário praticamente parou durante a hiperinflação, fator que começou a ser corrigido com a implantação do Plano Real. Com os preços subindo diariamente, as cotações dos imóveis eram refeitas. “O consumidor não sabia se poderia quitar aquele investimento. O construtor não sabia nem se conseguiria terminar o imóvel. Fazíamos uma tabela de preços às 8 horas e outra às 22 horas. Ainda bem que isso mudou”, comemora o diretor da imobiliária Lopes para Minas Gerais, Fernando Antunes.   Como a moeda era instável, o preço dos imóveis era dolarizado. “Claro que não vendíamos ou anunciávamos os imóveis em dólares, mas usávamos a moeda para explicar o preço para o consumidor”, comenta.   O crédito também era diferente. Se hoje o mercado financeiro é aberto às pessoas com menor poder aquisitivo, na década de 90 o consumidor podia financiar 70% do apartamento durante a obra e o restante após o prédio ser concluído. Isso, quando conseguia financiar.    Afinal, como o preço mudava constantemente, algumas construtoras tinham medo de financiar e acabavam deixando de vender. “Não sabíamos se estávamos ganhando dinheiro ou perdendo”, comenta Antunes.   Atualmente, Antunes está tranquilo, apesar de criticar o ritmo da economia brasileira. “Mesmo com a inflação na casa dos 6% estamos confiantes, sabemos que o setor vai bem. As vendas estão ótimas e vão melhorar ainda mais depois da Copa”, comenta.      Mercado de trabalho   Mais afetado pela inflação, o trabalhador de renda mais baixa foi socorrido pelo Plano Real. De acordo com o presidente da Conselho de Relações do Trabalho da Fiemg, Osmani Teixeira, antes do real, os salários eram reajustados em até 1000%, mas corroídos pelo dragão. “Negociávamos o aumento, mas não adiantava nada. A economia inteira perdia”, diz. 

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