Cemig ampliou participação em usina que dá prejuízo

José Antônio Bicalho - Hoje em Dia
03/09/2014 às 08:10.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:03
 (Artur Fotógrafo)

(Artur Fotógrafo)

Para a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), investir na usina hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, continua sendo um bom negócio. Para a construtora Andrade Gutierrez, não. Apesar do rombo de R$ 470 milhões gerado pela usina no primeiro semestre (do qual a Cemig, como sócia, arcou com R$ 47 milhões), no início de junho a estatal mineira comprou a maior parte da participação da Andrade Gutierrez no empreendimento.    Além de sócia investidora em Santo Antônio, a Andrade Gutierrez participa do consórcio de construção da usina, juntamente com a Norberto Odebrecht. É também a maior acionista privada da Cemig, com 33% de participação, possui assento no Conselho de Administração da estatal e é quem indica o diretor-executivo de Novos Negócios.   O aumento de participação da Cemig em Santo Antônio acontece numa fase em que a megausina do Rio Madeira não para de gerar más notícias. O empreendimento, que teve sua entrada em funcionamento antecipada em 2012, até hoje produz pouco mais da metade da energia prevista. Das cinquenta turbinas previstas, apenas 31 estão em operação comercial.    Com isso, a concessionária Santo Antônio Energia está comprando energia cara no mercado livre para cumprir seus contratos com distribuidores, vendendo barato. De acordo com a Santo Antônio Energia, caso as regras atuais não sejam revistas (ela recorreu à Justiça para poder repassar às distribuidoras o preço da energia que compra), o rombo nos próximos cinco anos chegará a R$ 2,3 bilhões.   Além disso, na última segunda-feira, o consórcio responsável pela construção da usina, do qual faz parte a Andrade Gutierrez, informou que vai paralisar as obras por falta de recursos da empresa concessionária, a Santo Antônio Energia, da qual a construtora também faz parte. A dívida acumulada estaria, segundo o consórcio, em torno de R$ 700 milhões.   Apesar da situação delicada, no dia 6 de junho, a Andrade Gutierrez Participações S.A. transferiu 83% de sua participação em Santo Antônio (12,4% do total) para o fundo FIP Melbourne, integrado pela Cemig e outros investidores. A Cemig, que já detinha 10% de Santo Antônio, comprou a maior parte das ações da construtora. Pagou R$ 610 milhões à Andrade Gutierrez, enquanto os demais cotistas do Melbourne compraram R$ 124 milhões. Esse montante, de R$ 734 milhões, corresponde a uma primeira parcela, correspondente a 81% do valor total. O restante será quitado em agosto.   O diretor de Relações com Investidores da Cemig, Luiz Fernando Rolla, defendeu nessa terça-feira (02) a operação.    “Comprar geração no preço atual é o negócio do momento. O retorno (previsto para Santo Antônio) é atrativo. Estamos mirando um fluxo de caixa de 30 anos e não no curto-prazo. Vamos ficar até o prazo final da concessão e é essa a nossa base de cálculos”, disse.   Mas, não é o mesmo que pensa um analista do setor de energia de um grande banco, que prefere não se identificar. Para ele, as participações cruzadas entre Cemig e Andrade Gutierrez podem esconder interesses que não correspondam aos dos minoritários da estatal.     Usina abastecerá 45 mi de pessoas   A Usina de Santo Antônio é um dos principais projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Federal.    Quando estiver em operação plena, em 2016, será capaz de suprir o consumo de 45 milhões de brasileiros. Será a sexta maior do país em potência instalada.     Forluz também participou da operação com R$ 80 milhões   Em seu aumento de participação em Santo Antônio, a Cemig levou a reboque o fundo de pensão dos empregados da estatal, a Forluz. O fundo comprou R$ 80 milhões em participação da Andrade Gutierrez na usina de Rondônia.   De acordo com o Sindicato dos Eletricitários de Minas Gerais (Sindieletro), os representantes dos empregados da Cemig votaram contra a operação. E criticam a Cemig e a Andrade Gutierrez pela “pressão” para aprovar a operação, que “arranha a imagem da Forluz por ter sido feita a toque de caixa”.   A Forluz divide a gestão dos recursos dos eletricitários em dois planos, chamados de A e B. A proposta inicial da Cemig era a de que a Forluz aplicasse no aumento de participação em Santo Antônio duas parcelas de R$ 40 milhões, divididas entre os dois planos (o primeiro, fechado, que congrega apenas antigos empregados, e o segundo, aberto aos novos contratados).    Mas, de acordo com a direção do Sindieletro, como a proposta foi rejeitada pelos representantes dos empregados nas assembleias dos dois planos, a empresa usou de sua prerrogativa de “voto de minerva”, mas que é válida apenas para o Plano A.   Dessa maneira, aprovou-se o investimento de R$ 80 milhões, bancado exclusivamente pelos cotistas do Plano A.   “Trata-se de uma negociação nebulosa, em fim de mandato da diretoria da patrocinadora. Prevaleceu a pressão exercida pela Andrade Gutierrez e Cemig”, afirmou o Sindieletro por nota.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por