Cemig vai à guerra em defesa dos interesses dos acionistas

Do Hoje em Dia
14/09/2012 às 06:18.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:16

Não são favas contadas que os consumidores brasileiros vão pagar energia elétrica mais barata, tal como prometido por Dilma Rousseff quando faltavam apenas 26 dias das eleições de 7 de outubro. Como se sabe, a presidente se empenha por eleger pelos menos os candidatos petistas às prefeituras de Belo Horizonte e São Paulo, e a promessa tem forte apelo eleitoral. Porém, não foi bem recebida por uma das principais empresas de energia brasileiras.

A declaração feita por um diretor da Cemig – “para defender os interesses dos acionistas, vamos até à guerra” –, em teleconferência com investidores, no dia seguinte à promessa de Dilma, sinaliza bem as dificuldades que vêm por aí. É certo que essa disposição beligerante vai se arrefecer na medida em que se for recuperando o valor das ações negociadas em bolsa. Somente na quarta-feira (12), a Cemig perdeu R$ 5,2 bilhões em valor de mercado.

A empresa é controlada pelo governo de Minas, cujo governador está filiado ao PSDB, principal partido de oposição a Dilma Rousseff. Mas dificilmente o governo federal teria, por tal motivo, interesse em prejudicar uma empresa que atua em 22 estados e no Chile, com ações negociadas em bolsas internacionais. Mesmo porque o governo estadual não seria o principal prejudicado. Conforme o último balanço anual, ele possui apenas 50,97% das ações ordinárias da Cemig e 1,84% das preferenciais. Além disso, as ações com direito a voto que garantem ao Estado o controle da empresa representam não mais que 43,7% do capital social. Portanto, 56,3% das ações da Cemig são preferenciais, e 79% em mãos de investidores estrangeiros.

É verdade também que a cultura empresarial da Cemig tem na responsabilidade social um de seus pilares. As medidas anunciadas por Dilma são reivindicadas há muito tempo pela população e têm forte conteúdo social. Diante disso, em vez de ir à guerra em defesa dos acionistas, a empresa poderia defendê-los melhor, em médio e longo prazo, se ficar mais atenta à defesa dos consumidores.

Por certo, a Cemig prosperou ao longo de 60 anos usufruindo de uma situação que lhe foi muito favorável, e mudá-la exige esforço e perseverança. O governo precisa acertar vários pontos com todas as empresas do setor de energia, até a renovação dos contratos de concessão, de modo a garantir um mínimo de cumprimento das promessas feitas pela presidente Dilma em boa hora – ou má, dependendo do ponto de vista. Ao debate, portanto.
 

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