Construtoras sofrem com demora de pagamentos do Governo Federal

Tatiana Moraes - Hoje em Dia
07/06/2015 às 07:16.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:22

Em meio à crise, os atrasos nos pagamentos das construtoras que atendem à primeira faixa do Minha Casa, Minha Vida por parte do governo federal caíram como uma bomba nas empresas de Minas Gerais. Embora o Ministério das Cidades negue a falha, a demora de até 60 dias no repasse dos recursos puxa para baixo a previsão de faturamento das companhias, principalmente das menores. Três construtoras ouvidas pelo Hoje em Dia relataram débito de mais de R$ 50 milhões.   A falta de capital de giro para manter a estrutura mínima nas obras tem levado a demissões de funcionários, redução do ritmo de execução e corrida das companhias aos bancos, que, com a elevação da Selic e a restrição do crédito, oferecem juros ainda mais altos.    O problema tem sido recorrente no Brasil inteiro, exclusivamente na primeira faixa do programa, que atende famílias com renda de até R$ 1.600, com imóveis de baixa renda primordialmente subsidiados pelo governo, conforme afirma o 1º vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), André de Sousa Lima Campos.   “Conversamos com construtoras de todo o país e percebemos que os atrasos giram entre 60 e 90 dias. Em Minas Gerais, a maioria está há 60 dias sem receber”, diz.   Quebradeira   Como as empresas têm que manter estruturas mínimas para tocar as obras, como engenheiros e, muitas vezes, alojamentos em outras cidades, o custo necessário para se manter no programa tem sido alto. “Se o quadro não melhorar, muitas empresas vão quebrar”, critica o 1º vice-presidente do Sinduscon-MG.   A Habit Construtora é exemplo de empresa que reviu o faturamento de 2015 para baixo em função do atraso nos pagamentos. Segundo o diretor da empresa, Bruno Barcelos, a previsão inicial de receita para este ano era de R$ 100 milhões. Hoje, a companhia estima faturar R$ 40 milhões, redução de 60% na expectativa.   Adiamento   Além das falhas no repasse, Barcelos afirma que o adiamento no lançamento da terceira fase do Minha Casa, Minha Vida, inicialmente previsto para março e agora empurrado para o final do ano, jogou uma pá de cal no resultado da empresa, que toca uma obra de 300 unidades habitacionais de baixa renda em São Paulo.    O contrato da obra é de R$ 25 milhões. Pelo menos R$ 1,4 milhão está atrasado há pelo menos 60 dias. “Mesmo se dispensarmos pessoal, continuamos com um gasto fixo com alojamento, água, luz. As contas não param de chegar e elas têm que ser pagas”, diz o executivo. Segundo ele, cerca de R$ 4 milhões já chegaram a se acumular em atraso. “Nunca sabemos quando vamos receber. Precisamos de uma regularidade para investirmos o nosso dinheiro”, enfatiza.   Sem recursos, empresas mudam cronograma de investimentos   Uma das principais construtoras atuantes no Minha Casa, Minha Vida, a Emccamp acumula cerca de R$ 50 milhões em atraso nos contratos da faixa 1. A empresa não vai rever o faturamento estimado para 2015, pois tem caixa robusto para segurar as obras. No entanto, novos investimentos no curto prazo estão fora de cogitação, conforme afirma o diretor, André de Sousa Lima Campos, que também é 1º vice-presidente do Sinduscon-MG.   De acordo com ele, pelo menos 60% das obras feitas pela construtora no programa de habitação do governo federal são destinadas à faixa 1. Os pagamentos estão atrasados há pelo menos 60 dias.    E as previsões para o futuro não são boas. De acordo com ele, a Emccamp tem uma grande obra para ser iniciada pelo Minha Casa, Minha Vida, em Belo Horizonte. Caso o projeto não saia, quase metade dos empregados serão demitidos. Atualmente, a empresa gera cinco mil empregos. “Se essa obra não começar, teremos que demitir duas mil pessoas”, afirma, sem dar mais detalhes.   A demora no anúncio da fase 3 do programa de habitação federal também foi citada pelo executivo como um entrave. Para driblá-lo, Campos afirma que irá focar nos projetos destinados às faixas 2 e 3, cuja procura, segundo ele, continua em alta. “E os pagamentos nessa faixa estão em dia”, comenta.    Corte no faturamento   O diretor da QBHZ Construtora, Geraldo Jardim, é menos otimista. “O mercado nunca esteve tão ruim. Não temos para onde correr. A construção civil está ruim, as obras públicas estão ruins”, lamenta. A empresa prevê lucrar 25% a menos em 2015 devido aos atrasos no pagamento. O faturamento, que se estabilizou em R$ 22 milhões anuais há algum tempo, deve cair para R$ 12 milhões.   Atualmente, a empresa tem 76 unidades em construção em Belo Horizonte pela faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida, cujos pagamentos estão atrasados há dois meses. Com a redução da entrada de recursos na conta, foi necessário diminuir o ritmo de execução do empreendimento (que deveria ficar pronto neste mês e foi adiado para agosto) e o número de funcionários. Antes, 60 pessoas trabalhavam na obra. Hoje, tem cerca de 30, redução de 50%.   A Caixa e o Banco do Brasil, que fazem a intermediação do pagamento, elegeram o Ministério das Cidades para se pronunciar. Em nota, o ministério diz que “os pagamentos estão sendo feitos, em média, 30 dias após atestada a medição que comprova a evolução das obras”.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por