Crise agrava retração no comércio e fechamento de lojas na Savassi

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
03/02/2016 às 06:40.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:16
 (Carlos Henrique)

(Carlos Henrique)

Na rua Tomé de Souza, no quarteirão entre a rua Pernambuco e a avenida Getúlio Vargas, são sete lojas com placas de aluga-se. Na Antônio de Albuquerque, entre a rua Alagoas e avenida Cristóvão Colombo, mais três estabelecimentos fechados. Nas redondezas do Shopping 5ª Avenida estão outros quatro à espera de um novo locatário.

Esse é o cenário da Savassi, um dos pontos comerciais mais importantes da capital, que sofre os efeitos da turbulência econômica.

Conforme o Hoje em Dia mostrou ao longo de 2015, os comerciantes da região sentem o impacto da alta dos aluguéis e da queda nas vendas desde o fim das obras para a Copa.“A situação aqui é espelho do Brasil e de Belo Horizonte. A falta de credibilidade política e de confiança reflete na economia e inibe investimentos. O que vemos são muitas placas de imóveis para alugar. Nos melhores pontos, as lojas que fecham estão sendo substituídas, embora em uma velocidade menor”, afirma o diretor do Conselho Regional da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) Savassi, Alessandro Runcini.

Aos mais de 40 anos de vida, a Livraria Status é a mais recente vítima da crise. Há cerca de um ano, assombrado com o reajuste do aluguel, o proprietário Rubens Batista entregou o antigo ponto, que tinha entradas pela avenida Cristóvão Colombo e pela rua Pernambuco, e mudou-se para um espaço bem mais modesto nas proximidades. Também não deu certo.

“O brasileiro nunca teve o hábito de ler muito, e a crise só piorou as coisas. Decidimos que não compensava mais”, relata o empresário Gustavo Batista, filho e braço-direito do Seu Rubens.

Perto dali, na rua Paraíba, o local onde funcionava a Mineiriana, outra livraria queridinha dos belo-horizontinos que saiu de cena, ainda permanece sem um novo locatário.

Com meio século de vida, a Maria’s Cerzideira, armarinho especializado na prestação de serviços e que oferecia à clientela 150 tipos de botões, 30 variedades de fita, 10 modalidades de lã e mais de 15 marcas de linha, também disse adeus à loja da rua Antônio de Albuquerque. Com a despedida, a casa deixará órfãos fregueses de até quatro gerações da mesma família.

“O aluguel subiu de R$ 5 mil para R$ 7 mil. E nossa despesa fixa gira em torno de R$ 15 mil. Com a crise e a queda nas vendas, já não há como arcar com tantos custos”, lamenta Paulo Lúcio Júnior, filho dos fundadores Paulo e Maria Lúcia Camargos.

Vizinha da Maria’s Cerzideira e de mais uma placa de “passa-se o ponto”, a Mercado da Moda, que antes ocupava duas lojas, transferiu-se para uma só. Ao lado da loja de roupas femininas e masculinas, será aberto mais um bar, que chega para completar o novo ar boêmio da região.

“O pessoal só não deixa de comer e beber. O resto corta”, afirma a gerente Luciana Elias. “Chegávamos a vender entre R$ 1.500 e R$ 2 mil diariamente. Hoje, tem dia que não vendemos nem R$ 80. De vez em quando, bate o desespero”, diz.

Recém-chegados apostam na retomada da região

Na Savassi também há empresários que fogem do ambiente de baixo astral. O casal Laiza Machado e Alexandre Luchese chegou há um ano no quarteirão mais famoso da região, no local onde funcionou por 30 anos a lanchonete Tia Clara. Investiu R$ 1 milhão para abrir a Lullo Sorveteria.

“Em cinco anos, queremos estar entre as melhores do mundo”, diz Laiza, que promete competir já na próxima Copa do Mundo do Gelato. A empresária Rosilene Abad, também recém-chegada, diz que a receita do sucesso é investir na criatividade. Dona do Ateliê Especiarias, que vende peças feitas com folhas e grãos de café desidratados e banhados em ouro, Rosilene tem o perfil do comércio diferenciado que durante muitos anos foi marca do bairro. Mas também há espaço para as cadeias internacionais. Bob’s e Burger King também são novatos na região.

Após as intervenções para a Copa de 2014, os aluguéis chegaram a subir 70%, expulsando vários estabelecimentos tradicionais. “Agora, até em função da retração, os preços estão mais dentro da realidade e os proprietários, dispostos a negociar”, diz o diretor da CDL-BH Savassi, Alessandro Runcini. Especialista do mercado imobiliário da RE/MAX Class, Márcio Duca diz que a crise fez com que os proprietários fincassem os pés no chão. “Se o inquilino é bom, orientamos o proprietário a ser mais flexível com o reajuste. Ficar com o imóvel fechado por um ou dois meses é prejuízo”, diz.

Segundo o diretor da Câmara do Mercado Imobiliário (CMI/Secovi-MG), Eduardo Vieira, para fechar negócio, alguns proprietários passaram a oferecer aluguéis com preços escalonados ou carência, com isenção de um mês para começar a pagar.

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