Desemprego maior emperra ganho salarial

Bruno Porto - Hoje em Dia
24/07/2015 às 06:41.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:03
 (Editoria de Arte)

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O crescimento da taxa de desemprego no país, que em junho atingiu 6,9%, a maior de 2015 e mais alta para um mês de junho desde de 2010, começa a mostrar seus efeitos também sobre a renda do trabalhador. Com o fantasma de demissões rondando vários setores da economia, as negociações salarias tornaram-se mais difíceis e, em alguns casos, as categorias acabam se submetendo a reajustes abaixo da inflação, com perda real para os salários.

Já em 2014 foi registrada expansão dos reajustes inferiores à inflação. Em Minas, houve perda salarial em 5% dos acordos, frente ao índice de 1,4% apurado em 2013. As perdas só foram tão altas em 2008 e 2009, quando atingiram 5,3% dos acordos nos dois anos, auge da crise internacional. Os dados foram levantados pelo escritório mineiro do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

De modo geral, os sindicalistas ainda defendem aumentos acima da inflação, mas com o desemprego batendo à porta, há casos de pautas de reivindicações em que a garantia do emprego se sobrepõe à do ganho real – cenário incomum para quem há pouco tempo convivia com pleno emprego.

Nos últimos 12 meses, a indústria demitiu 45 mil trabalhadores na Grande BH. Nesse contexto está a mineração, que enfrenta forte queda no preço do minério de ferro e se ajusta a um novo cenário global.

Em Mariana (região Central), duas gigantes do setor – Vale e Samarco – empregam cerca de 10 mil funcionários.

O Sindicato Metabase pediu aos trabalhadores que preencham um formulário com várias perguntas para definir a campanha salarial.

“Não adianta pedir um acordo que não condiz com a realidade. Uma das nossas maiores preocupações é a garantia do emprego”, afirmou o vice-presidente Angelo Antônio Lopes. A data-base é em outubro.

Mas ainda há resistentes, como o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção de Belo Horizonte e Região (Sticbh). O setor, segundo o IBGE, perdeu 18 mil postos de trabalho de maio para junho. “Ano passado, só conseguimos na Justiça um percentual um pouco acima da inflação. O trabalhador sofre demais com os preços em alta, então temos que exigir a correção e mais um pouco”, disse o presidente do Sticbh, Zildo Gomes.

Com economia ruim, e piorando, quem fechou acordo mais cedo garantiu melhores condições. “Como nossa data-base é fevereiro, tivermos sorte considerando o cenário”, disse o tesoureiro do Sindicato dos Rodoviários de BH, Denilson Dorneles. O acordo foi de 8,5% de aumento contra inflação de 7,36% no período da data-base.

Dieese prevê negociações mais longas e difíceis neste ano

De 2010 a 2013, foram raros os acordos fechados com reajuste salarial abaixo da inflação, independentemente do setor da economia. Não há, de acordo com o técnico do Dieese-MG Lúcio Monteiro, uma tendência configurada de reajustes que não corrijam ao menos o INPC, mas é provável que aumentem os casos de negociações com reajustes iguais à inflação.

Nos acompanhamentos realizados, Monteiro já percebe que o embate entre patrão e trabalhador será mais acirrado. “Seguramente o ano será de negociações difíceis e mais longas. Já sentimos uma resistência de ambas as partes em ceder posições, e isso deve ser mais claro no segundo semestre, quando ocorrem as negociações de setores com maior número de trabalhadores”, disse.

O presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Osmani Teixeira, lembra as medidas do governo que permitem a redução de jornada de trabalho e do salário do trabalhador, o que mostraria a situação difícil das empresas. “Seria contraditório pedir reajuste acima da inflação em setores que estão cortando jornada e salário. Minha avaliação é a de que os reajustes, se ocorrerem, ficarão abaixo da inflação”, afirmou.

Osmani se refere ao Programa de Proteção ao Emprego (PPE), uma medida do governo federal que pretende reduzir custos para conter demissões. Ele permite que as empresas reduzam em 30% a jornada de trabalho com proporcional redução salarial. O governo banca 50% da redução com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) limitados a R$ 900,84.

“Lamentavelmente, o programa terá baixa adesão porque não haverá acordo com os sindicatos. Muitos deles já se declararam contrários a medida”.

Usiminas

Dada a crise no mercado global de aço, a Usiminas propôs aos seus funcionários um acordo que reduz a jornada de trabalho em um dia por semana, com proporcional redução do salário, antes do PPE. O Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga, onde está grande parte da produção da Usiminas, é contrário ao acordo por entender que a empresa deveria assegurar a estabilidade do emprego na vigência da medida.

O caso foi parar na Justiça. O sindicato se recusava a colocar a proposta da Usiminas em assembleia, mas o Tribunal Regional do Trabalho decidiu pela obrigação da convocação. Uma liminar, na terça-feira (21), derrubou essa obrigação. Em paralelo, o Ministério Público Trabalho entrou com ação para assegurar a realização da assembleia.

Demissões avançam por setores como comércio e serviços

Os cortes nas seis principais regiões metropolitanas brasileiras, antes concentrados nos setores de indústria e construção, se alastraram para as atividades de serviços e comércio, informou nesta quinta-feira (23) o IBGE. A população ocupada nas seis principais regiões metropolitanas encolheu em 1,3% em junho, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Foi a maior queda nessa base de comparação da série histórica, iniciada em 2002. São 298 mil demissões.

“Antes tínhamos um aumento da taxa de desemprego pela maior procura. Agora, estamos vendo dispensas mais acentuadas”, afirma a técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Araújo Beringuy. “Isso porque temos agora mais setores contribuindo com a redução do emprego”.

Os cortes foram maiores no segmento chamado “outros serviços”, que inclui alojamento, alimentação e recreação. Foram 114 mil pessoas a menos trabalhando no setor em junho na comparação com o mesmo mês do ano passado - queda de 2,7%.

Uma parte dessas demissões pode estar relacionada ao crescimento de 4,5% que serviços de alojamento, alimentação e recreação tiveram em junho do ano passado, em base anuais. O mês foi marcado pela Copa do Mundo no Brasil.

Comércio

O comércio também teve um desempenho bastante ruim em junho deste ano. O setor demitiu 95 mil pessoas entre junho de 2014 e de 2015. O contingente de ocupados encolheu, assim, em 2,2% nessa comparação. “O comércio foi um dos que mais resistiu à crise porque existe custo de demissão. Agora começa a reduzir seu pessoal afetado pela queda na receita e aumento de custos, como energia. Com o cenário ruim, o comércio está fazendo seu ajuste”, disse o assessor econômico da FecomercioSP, Vitor França.

A taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do país subiu para 6,9% em junho, o maior patamar desde julho de 2010 (6,9%). O aumento do desemprego tem sido maior, sobretudo, entre a população de 18 a 24 anos. São jovens que se mantiveram fora do mercado no ano passado, apoiados em uma maior renda familiar.

Indústria e construção mantêm o processo de demissões iniciado em 2014. A indústria cortou 20 mil vagas em junho e a construção, 88 mil vagas 0% é o índice de reajustes abaixo da inflação concedidos pela indústria mineira em 2014. O ganho real médio foi de 0,98%

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