Empresas mineiras avaliam abertura de capital nos EUA

Bruno Porto - Hoje em Dia
23/07/2014 às 08:21.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:29
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Em um primeiro momento pode parecer estranho, mas uma empresa brasileira de pequeno ou médio porte encontrará na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse), nos Estados Unidos, condições para uma oferta pública inicial de ações (IPO) mais vantajosas do que na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F Bovespa), no Brasil. Além de custos menores e maior flexibilidade regulatória, a captação de recursos é considerada mais fácil, dada a dimensão maior daquele mercado.

A comparação foi feita nessa terça-feira (22) pelo vice-presidente da Nyse, Alex Ibrahim, durante palestra para 45 diretores de empresas mineiras no Hotel Mercure, em Belo Horizonte.

Hoje, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) é a única empresa mineira com capital aberto em Nova York. Existem casos como o da Usiminas, que não é listada na Nyse, mas tem papéis no mercado de balcão daquela bolsa.

“A Cemig movimentava US$ 3,2 milhões por dia antes de ser listada na bolsa de Nova Iorque. Dois meses depois, esse valor subiu para US$ 4,2 milhões diários. Além de manter a mesma liquidez que tinha na Bovespa, ainda ganhou um novo e grande mercado”, disse Ibrahim.

Ele destacou que o mercado de capitais nos Estados Unidos, por ser o maior do mundo, tem investidores para todos os perfis de empresas e com liquidez muito acima das outras bolsas. Já no Brasil, além da resistência dos próprios empresários em dividir a sociedade, o investidor é mais avesso ao risco.

Por trás da atratividade da Nyse existe um planejamento estratégico que possibilitou que em 2013 fosse registrado o número recorde de 521 empresas internacionais listadas naquele mercado. Dos IPOs realizados, 85% foram de emerging growth companies (empresas com receita anual de até US$ 1 bilhão). Quando se contabiliza apenas IPOs de empresas internacionais, o percentual sobe para 96%.

O valor médio de uma abertura de capital na Nyse é de US$ 160 milhões, enquanto na BM&F Bovespa o tíquete médio é de US$ 400 milhões a US$ 500 milhões. “Cada empresa é que sabe qual o seu mercado, mas no Brasil não existem IPOs pequenos. O único caso de que me lembro é o da Renar, produtora de maçãs, que realizou IPO de US$ 20 milhões. É uma soma de custos mais baixos e regulação mais flexível”, afirmou o presidente do Instituto Mineiro de Mercado de Capitais (IMMC), Paulo Ângelo Carvalho de Souza.

Richard Aldrich, sócio da Skadden, uma das maiores bancas de advocacia especializadas em mercado de capitais dos Estados Unidos, e que participou do IPO de várias empresas brasileiras, detalha que para as chamadas emerging growth companies existem condições diferenciadas para o IPO, como a auditoria de balanços de apenas dois anos e não três, como acontece com empresas maiores, e flexibilidade no processo de due dilligence.

A Nyse ainda monta para a empresa toda a estrutura de Relações com Investidores. “Em 90 a 120 dias uma empresa consegue sua listagem na Nyse”, disse Aldrich.

Segurança

O caso da empresa OGX, de Eike Batista, que prometeu ao investidor extrair o petróleo que não tinha, deu o tom da discussão em torno da segurança dos negócios no Brasil e no exterior.

A gerente-geral de Relações com Investidores da Usiminas, Cristina Morgan, disse que os fatores de risco presentes na documentação de todas as empresas existem tanto no Brasil como no exterior, e devem ser observados pelo investidor. No entanto, sublinhou, se o caso fosse nos Estados Unidos, o desfecho teria sido outro.
 
Efeito de incentivo ainda demora
 
O governo Federal anunciou, em junho, durante visita do ministro da Fazenda, Guido Mantega, à BM&F Bovespa, uma série de medidas para facilitar a listagem em bolsa de médias empresas. A expectativa, porém, é de que a efetividade das medidas ainda leve tempo.

Entre as medidas, está a isenção de Imposto de Renda (IR) sobre o lucro nas transações com ações de companhias com valor de mercado abaixo de R$ 700 milhões e receita bruta do ano anterior ao IPO abaixo de R$ 500 milhões. A taxação hoje é de 15%.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também vai participar comprando participação em empresas com esse perfil, e os recursos já estariam reservados para esse fim, segundo o presidente do Instituto Mineiro do Mercado de Capitais, Paulo Ângelo Carvalho de Souza.

“A isenção do Imposto de Renda, por exemplo, depende de aprovação no Congresso, então não sabemos o quanto vai demorar. O problema do IPO muito caro no Brasil é que, se há um planejamento para captação de R$ 100 milhões, não faz sentido a empresa captar R$ 500 milhões. Até porque ela é obrigada a pagar dividendos pelo dinheiro que tem em caixa”, disse.
 
Entendendo o IPO
 
Uma oferta pública inicial de ações, chamada de IPO (sigla em inglês para Initial Public Offering), é o evento que marca a primeira venda de ações de uma empresa. A operação pode ser por meio de distribuição primária ou secundária. Na primária, a empresa emite e vende novas ações ao mercado.

No caso, o vendedor é a própria companhia e os recursos obtidos são canalizados para o caixa da empresa. Na secundária, quem vende as ações é o empreendedor ou algum de seus atuais sócios. São ações existentes que estão sendo vendidas.

Independentemente de a distribuição ser primária ou secundária, com os compradores das ações a empresa amplia o seu quadro de sócios. Os investidores passam então a ser seus parceiros e proprietários de uma fatia da empresa correspondente ao volume de ações adquiridas.
 

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