O mapa dos investimentos públicos e privados em Minas Gerais

06/08/2012 às 10:46.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:12
 (Luiz Costa/ Hoje em Dia)

(Luiz Costa/ Hoje em Dia)

O abismo social existente entre norte e sul de Minas Gerais pode estar começando a se reduzir ou realmente acabar em alguns anos. O mapa dos investimentos públicos e privados no estado mostra que, principalmente entre os anos de 2011 e 2012, as atenções têm se voltado para as regiões mais carentes
das Gerais, revelando potencialidades e elevando a renda da população. Somente de janeiro a junho deste ano, as regiões Norte e Noroeste já receberam 41,2% de tudo o que foi investido em Minas pela iniciativa privada. Isso significa que o norte já recebeu mais de R$ 971 milhões e o noroeste, R$ 1,582 bilhão. Os números são significativos porque não só representam injeção de capital em empreendimentos, como também giram a roda da economia nesses locais.

A porcentagem é pouco menor que a destinada às regiões mais ricas - central e sul - e que tradicionalmente recebem mais capital privado. Juntas, elas abocanharam 40,4% dos investimentos previstos - o centro do estado está próximo dos R$ 2 bilhões.

Segundo o economista da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Veloso Leão, onde há investimentos há geração de Produto Interno Bruto (PIB), pelo valor agregado do que é produzido e o pagamento de salários diretos, que movimentam a cadeia produtiva. "Tudo isso aumenta o consumo e gera mais riqueza. E uma coisa que é decorrente natural disso é que se tem uma maior arrecadação tributária, o que por sua vez, gera maior capacidade do Estado de investir em benefícios para a população", explica ele.

A previsão do economista faz todo sentido quando analisada a planilha dos investimentos públicos no norte e noroeste, que junto aos vales do Jequitinhonha e Mucuri formam a parte mais pobre do estado. No
comparativo entre a despesa realizada em 2011 e o planejado para 2012, houve aumento considerável nos números na maioria dos setores, como educação, saúde e segurança. "É uma surpresa essas duas regiões, nos últimos 12, 13 anos, que sempre foram muito deprimidas em capacidade de investimentos.

Mostra o trabalho do Estado para conseguir levar o desenvolvimento para todas as regiões", analisa Leão.

Diversificação
Outro dado que chama a atenção no mapa de investimentos no Estado é a diversificação da atividade econômica. Durante toda a sua história, Minas Gerais sempre teve a economia voltada para o agronegócio e mineração. É o maior estado em produção de café e leite, o sétimo- produtor de soja e tem o segundo maior rebanho bovino do Brasil, segundo a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico. No entanto, nos últimos anos este quadro tem mudado.

Além de manter as posições de liderança nos setores tradicionais, Minas também vem investindo, em biotecnologia e fármacos, indústria química, mecânica e bens de capital e centros de distribuição do comércio. Entre as empresas que assinaram protocolos de investimentos com o Estado entre 2011 e 2012 estão a Alpargatas, em Montes Claros (Norte), a Coca-Cola Femsa, em Itabirito (Centro), a Black &Decker do Brasil, em Uberaba (Triângulo), Magnesita, em Almenara (Jequitinhonha), Grupo Yser, em Brasilândia de Minas (Noroeste) e a Siemens, em Itajubá (Sul) - alguns exemplos para mostrar a diversidade dos
setores que se interessaram em inaugurar ou expandir empreendimentos em Minas.

Um dos acordos de investimentos mais recente vai injetar mais R$4,2 bilhões no norte do Estado. O termo aditivo ao protocolo de intenções foi firmado entre o governo e a Sul Americana de Metais, empresa do Grupo Votorantim, para investimentos na atividade de extração e beneficiamento de minério nos municípios de Grão Mogol e Padre Carvalho, dentro do Projeto Vale do Rio Pardo.

A empresa vai explorar minério de ferrogião e implantar usina de beneficiamento, mineroduto, duas
barragens e sistema de irrigação. Durante a cerimônia de apresentação do projeto na Cidade Administrativa foi destacado que o empreendimento vai gerar 2 mil empregos diretos e 9 mil indiretos e mais 8 mil na fase de implantação, em 2015, na região que tem um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado.

Para ter uma ideia do impacto do negócio para a economia local, o investimento total da Sul Americana
de Metais para a implantação do Projeto Vale do Rio Pardo previa inicialmente investimentos de R$ 3,2 bilhões e geração de 1.827 empregos diretos. Porém, antes mesmo do início das atividades o empreendimento já ganhou ampliação, com a inclusão de projetos hídricos. A reserva estimada é de 20 bilhões de toneladas de minério abrangendo 20 municípios, entre eles os vizinhos Salinas, Rio Pardo de Minas, Grão Mogol, Porteirinha e Nova Aurora. Segundo dados do governo, desde 2003, os investimentos
anunciados em mineração somente no Norte de Minas somam R$ 8,6 bilhões, com a geração de 10.500 empregos diretos e 27.850 indiretos. Já na outra ponta de Minas Gerais, o investimento é em tecnologia.

Outra empresa que aposta capacidade de retorno do Estado é a Siemens, instalada em Itajubá, no Sul, desde os anos 1940, e que está agora expandindo as atividades, com a compra da Senergy Sistemas de Medição S.A, de Belo Horizonte. Originalmente do ramo de telefonia, a Siemens aproveita agora uma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que determinou a substituição de 63 milhões de medidores de energia em todo o Brasil, para evitar o desperdício de energia, para justamente adquirir
uma empresa especializada em medição e serviços inteligentes, com softwares e serviços para a prevenção de Perdas Não Técnicas (PNT) na distribuição de energia.

Imigrantes

Se é certo que os investimentos produzem riquezas, eles também geram empregos, cada vez mais qualificados. De acordo com o pesquisador do Centro de Pesquisas Aplicadas da Fundação João Pinheiro (FJP), Cláudio Burian Wanderley, o momento atual é bom para a economia é melhor ainda para o mercado de trabalho. "A economia está bastante aquecida e o Brasil está em situação de pleno emprego há bastante tempo", diz ele. Para quem se qualifica, a maior vantagem, de acordo com Cláudio é o poder de escolha de ocupação. "O trabalhador pode até não ganhar mais, mas quanto mais qualificado, mais oportunidade ele tem. Pode escolher onde trabalhar", argumenta.

Em Minas, a desconcentração de investimentos reflete também na desconcentração do emprego. Durante muitas décadas, Belo Horizonte recebeu imigrantes de diversas cidades do estado e também de outros municípios de outros estados. Agora, a instalação de empreendimentos de norte a sul, é um incentivo para que os trabalhadores se qualifiquem e permaneçam nas suas cidades de origem, potencializando as economias locais.

"Essas medidas podem manter as pessoas nas regiões de origem. Fortalecem as cidades médias do interior e resultam em qualidade de vida. Isso é muito importante, mesmo nas regiões mais pobres", explica o pesquisador. A presença da população, segundo ele, alavanca os investimentos públicos, que podem, aos poucos, deixar de ser o grande problema da economia brasileira.

Embora a Fundação João Pinheiro não tenha dados sobre emprego e desemprego no interior do estado, ficando restrita à grande Belo Horizonte, Cláudio Burian afirma que a tendência das demais cidades é a mesma da capital mineira, "com o bom das commodities no mercado internacional e os investimentos em mineração".  A se firmar o cenário econômico que vem se desenhando, a tendência é de desenvolvimento mais equilibrado nos quatro cantos do Estado.

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