País comemora 20 anos do Plano Real

Hoje em Dia - Tatiana Moraes
01/07/2014 às 07:29.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:12
 (Arquivo)

(Arquivo)

A máquina remarcadora não descansava. Frenética, ela alterava os preços das mercadorias várias vezes ao dia. O objetivo era adequar os valores dos produtos à inflação, que chegou a superar os galopantes 80% ao mês. O faturamento dos empresários não acompanhava. O salário dos trabalhadores, muito menos. A solução chegaria em 1º de julho de 1994, com o histórico Plano Real, que nesta terça-feira (01) comemora 20 anos.   A medida não ganhou a confiança do consumidor e do empresário de imediato, pois a sociedade entrava e saía de “promessas de milagres econômicos” periodicamente e já havia passado pelos planos Cruzado, Bresser, Verão e Collor (este último confiscou as poupanças, levando muita gente ao colapso financeiro). No entanto, com o passar do tempo, caiu nas graças da população, que foi duramente castigada nas décadas de 80 e 90.   O professor de Economia do Ibmec Reginaldo Nogueira explica que a moeda tem três funções básicas: é meio de troca, pode ser utilizada como reserva de valor e como unidade de conta. No caso do Cruzeiro e do Cruzeiro Real, que antecederam o Real, porém, a moeda cumpria apenas seu papel como meio de troca.    Afinal, guardar dinheiro estava fora de cogitação, pois a moeda perdia valor diariamente, e também não poderia ser considerada unidade de conta, pois a população não poderia comparar os preços dos produtos.   “Hoje, o dono de uma papelaria sabe que tem que vender tantas canetas para comprar um carro. Naquela época não, pois o valor da caneta e do carro mudavam diariamente”, explica o professor.    Adquirir bens era a única forma de guardar dinheiro. E, mesmo assim, as compras tinham que ser feitas à vista. “As pessoas tinham que transformar o dinheiro em mercadoria, pois a moeda poderia não valer nada de um dia para o outro”, explica o professor da Escola do Legislativo, Fabrício Oliveira, ex-secretário da Fazenda de Minas Gerais durante a gestão de Itamar Franco.    A rotina de quem viveu naquela época era terrível. Os empresários aplicavam o dinheiro recebido durante o dia todas as tardes, com o objetivo de vê-lo render. Porém, eles amargavam perdas no dia a dia. “Só se deu bem o comerciante que conseguia comprar a prazo para vender à vista”, afirma Oliveira. Nesses casos, o giro da operação era mais rentável do que o lucro com os produtos.   Apesar de afirmar que a função de reduzir a inflação seja indiscutivelmente benéfica para a população, o professor da Escola do Legislativo afirma que ainda há um gap entre a estabilização da moeda e o crescimento econômico. “Faltam reformas estruturais”, diz.     Mudança de cultura é desafio que persiste   Apesar de o Plano Real ter mudado o ritmo da economia brasileira, alguns resquícios culturais dos tempos de antes da implantação da moeda permaneceram. É a chamada “cultura do freezer”.   De acordo com o professor de economia do Ibmec, Reginaldo Faria, alguns empresários continuam formando grandes estoques, indo na contramão dos ensinamentos de estratégia administrativa.    “Estoque é dinheiro parado. Porém, naquela época o estoque era dinheiro reservado. Alguns empresários acostumaram com essa rotina e a mantêm até hoje”, comenta.   Com a inflação batendo na casa dos 80% ao mês, também não era possível deixar uma ida ao supermercado para depois. Por isso, as pessoas faziam compras para todo o mês, congelando os produtos.   Apesar de o cenário econômico ter mudado e de a quantidade de supermercados ter aumentado substancialmente, é comum ver pessoas com carrinhos cheios. Às vezes, até mais de um.    “Antes, as filas dos supermercados era imensas nos dias de pagamento, porque o preço do produto iria subir de um dia para o outro. Hoje, isso não acontece mais. No entanto, o hábito de estocar comida permaneceu em muitas famílias”, explica. 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por