Pecuaristas optam pelo tratamento homeopático para garantir a saúde dos animais

Lídia Salazar - Especial para Força do Campo
03/06/2015 às 08:22.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:19
 (Sérgio Amzalak)

(Sérgio Amzalak)

Problemas como carrapato, mosca de chifre, verminose e mastite no gado de leite estão sendo tratados com homeopatia, uma alternativa que, mesmo estando em projeção e crescimento, ainda não é amplamente conhecida.   Apesar de encontrar médicos veterinários que se opõem ao tratamento, pois confiam mesmo é na medicina convencional, os remédios homeopáticos têm alcançado produtores de todo o Brasil, que buscam não somente a cura para seus animais, mas também oferecer ao mercado um produto de qualidade e que tenha maior rentabilidade.   Na Fazenda Cachoeirão, localizada em Itapagipe, no Triângulo Mineiro, o produtor Hilário Ferreira de Matos Júnior trata o gado de leite com homeopatia há cerca de quatro anos. A decisão de mudar o tipo de medicação veio devido à exigência da qualidade do leite por parte das indústrias de laticínios.    “Quando decidi mudar, o veterinário não conhecia muito bem os efeitos desse tipo de tratamento e eu também fiquei um pouco receoso no início. Com o tempo, fui vendo os resultados e, hoje, não vejo meu gado sendo cuidado de outra forma”, diz Hilário Júnior.   Ele garante que a qualidade do leite produzido pelas vacas da propriedade é excelente. “Meu gado é perfeito e o leite é muito saudável. Tenho um filho que só toma o leite natural e eu não tenho preocupação nenhuma, porque eu sei que não há resíduos ou antibióticos nele. Além disso, os animais são calmos, eles entram no curral sem estresse, porque sabem que não vão levar agulhadas”.   Alternativa   Em Martinho Campos, na Fazenda Buriti do Campo Alegre, a 180 km de Belo Horizonte, há cerca de dois anos José Luiz Neto estava muito preocupado com o gado de leite – 210 cabeças –, que estava com um alto índice de mastite e infestação por carrapatos.   Ele conta que começou a pesquisar e a procurar alternativas para a solução dos problemas. Em uma visita à fazenda de um parente, conheceu a homeopatia. “Meu primo tem um número maior de vacas que eu e a porcentagem de mastite nos meus animais era muito maior que a dos dele. Enquanto cinco de cada 60 vacas minhas em lactação estavam com o problema, uma de mil vacas dele tinha a doença. Isso, quando tinha”, conta.    José Luiz Neto percebeu, então, a oportunidade de adotar o mesmo tratamento. Em janeiro de 2014, ele mudou o cenário do pasto com os homeopáticos e, atualmente, a ação é mais preventiva do que curativa. Segundo ele, a infestação de carrapatos diminuiu bastante, bem como a mastite.   Para o produtor, os principais benefícios da homeopatia são o equilíbrio na saúde do animal, a redução de desperdício do leite e o custo com o tratamento do gado, que ficou muito menor, tanto pelo valor gasto com medicamentos quanto pelo ganho com a venda do leite, que passou a ter mais qualidade. “Antes, eu descartava muito leite por causa dos antibióticos e das doenças. Atualmente, não preciso fazer isso e meu gado está mais saudável. Por isso, pagam mais pela produção”. TRATAMENTOS – Jarbas Amâncio explica que as principais demandas são de medicamentos para mastite, parasitos e casco dos bovinos, equinos e caprinos (Foto:Pamella Vieira Arcanjo)   Medicação aplicada sem estresse para os animais   O médico veterinário Jarbas Caetano Amâncio, proprietário do laboratório Pecnew, localizado em Vera Cruz de Minas, distrito de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de BH, atua no desenvolvimento de medicamentos homeopáticos para bovinos, equinos e caprinos desde 2009.   Segundo ele, a homeopatia individualiza o tratamento de cada organismo, considerando as particularidades dos animais. Na atuação de rebanhos, a análise é feita na observação do grupo como um único organismo, levando-se em conta a raça, o temperamento, ocorrência geográfica, entre outros.    “Quem opta pela homeopatia busca qualidade em seus produtos e preza pela saúde do gado ou rebanho. É um tratamento livre de resíduos tóxicos. O leite e a carne provenientes dos animais são mais puros dos que os tratados pelo método convencional”, afirma Jarbas Amâncio.   Ele explica ainda que existem algumas indústrias que premiam os produtores de leite sem toxinas, pagando mais por cada litro, e penalizam aqueles que levam o produto com muitas impurezas.    De acordo com o veterinário, outro ponto positivo é a redução do estresse do animal. “A aplicação do remédio alopático pode, muitas vezes, ser desgastante para o gado. Eles têm de se submeter a um processo demorado e doloroso com vacinas e agulhas”.   Junto ao alimento   Jarbas afirma ainda que, financeiramente, pode ser mais econômico para o produtor devido à diminuição de mão de obra, já que a medicação é dada junto ao alimento, não precisando de nenhum processo que exija muitos profissionais.   “O valor dos homeopáticos é mais barato. No caso de descontaminação de parasitos, o gasto anual com o gado de leite é de R$ 50 por animal. Já na alopatia seria em torno de R$ 250 por animal. O custo anual no gado de corte é de R$ 15 por animal com homeopatia e R$ 25 por animal com alopatia”, compara. SEM AGULHAS – O tratamento homeopático é administrado no próprio alimento (Foto: Sérgio Amzalak)   Doses maiores no início dão resultado mais rápido, mas terapia é foco de divergências   A homeopatia trabalha com uma regra de “dose resposta”. Isso significa que nos três primeiros meses é dada uma dose maior e, por isso, a melhora é rápida. Com o passar do tempo, as doses vão sendo diminuídas e também os efeitos das patologias no sistema de produção e da infestação dos parasitas nos animais.    “Algumas doenças que o tratamento convencional não consegue solucionar são curadas pela homeopatia. É o caso da mastite, que tem 80% dos casos resolvidos com os homeopáticos, contra 20% da alopatia”, garante Jarbas Amâncio, que pretende lançar também medicamentos para suínos, aves e pet.   Eficácia questionada   Alguns veterinários, no entanto, questionam a eficácia da homeopatia. A veterinária Joana Campolina afirma já ter visto bons resultados em equinos, mas também já acompanhou algumas situações em que os medicamentos não funcionaram. Já a veterinária Raissa Macaron aponta a falta de comprovação científica. “Vejo esse tratamento como um auxílio à alopatia. Não indico como primeira opção e acho arriscado, pois a concentração de alguns componentes, como arsênico, carbamato e creolina nem sempre é usada de forma correta”. MANUTENÇÃO – Hilário Júnior medica as 150 cabeças de gado com a homeopatia preventiva (Foto: Divulgação)   Ponto a ponto   Tratamento e tipos de homeopatia    Parasitário – Estimula as defesas do organismo em nível de pele e mucosa digestiva, reduzindo as infestações por carrapatos, bernes, moscas e vermes gastrintestinais, com a ausência de resíduos na carne e meio ambiente   Mastite clínicas e subclínicas – Melhoram a qualidade do leite e reduzem o custo de produção, evitando o prejuízo com o descarte; reduzem a Contagem de Células Somáticas (CCS) e estimulam o sistema imunológico, aumentando a resposta do úbere às infecções   Papilomatose – Estimula as defesas naturais do organismo do animal promovendo a queda das verrugas e a regeneração da pele, reduz o estresse promovendo o equilíbrio orgânico   Pododermatite – Promove a recuperação dos cascos por meio da regeneração dos tecidos locais, reduzindo as claudicações   Fonte: Pecnew   “Os antibióticos convencionais deixam muitos resíduos no produto e diminuem a qualidade do leite” Hilário Ferreira de Matos Júnior - Produtor “Vejo a homeopatia como um auxílio à alopatia e não como tratamento único” Raissa Macaron - Veterinária

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