Pequeno comércio de bairros fecha as portas e cede lugar a placas de 'aluga-se'

Janaina Oliveira
joliveira@hojeemdia.com.br
07/10/2016 às 19:28.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:08
 (Lucas Prates/Hoje em Dia)

(Lucas Prates/Hoje em Dia)

A faixa de “Aluga-se” ou “Passa-se o ponto” é o último capítulo de uma história que, muitas vezes, começou a ser escrita há anos, mas teve o ponto final definido pela crise econômica. Com a escalada do desemprego, a corrosão do poder de compra e o aumento do endividamento das famílias, o comércio instalado nos bairros, geralmente formado por pequenos negócios, sofre ainda mais com o sumiço dos clientes. Sem a estrutura das grandes redes e quase nenhum dinheiro em caixa, os estabelecimentos sucumbem à recessão e encerram as atividades.

“O consumidor que compra no comércio de bairro busca facilidade e atendimento de qualidade. Se a economia vai bem, ele pode se dar ao luxo de pagar um pouco mais caro. Mas se o cenário é de crise, ele sacrifica a comodidade e vai atrás dos melhores preços, que normalmente são encontrados nos grandes centros”, diz a analista da Unidade de Políticas Públicas do Sebrae Minas, Ariane Vilhena.

“Sem gordura”

Outro ponto desfavorável é a falta de capital de giro. “Normalmente, os pequenos negócios não têm muita gordura para queimar nem condições de suportar a falta de dinheiro no mercado. Sem saída, acabam fechando”, afirma Ariane.
O Hoje em Dia percorreu as principais vias de alguns bairros de Belo Horizonte em diferentes regiões. E o cenário é desanimador, com portas fechadas e anúncios de imobiliárias por toda parte.
Na rua do Ouro, na Serra, uma copiadora e gráfica digital, que funcionava em duas lojas, agora ocupa uma só. Uma clínica especializada em Medicina do Trabalho fechou. Mais adiante, está o imóvel onde existia uma antiga padaria. A loja de roupas que ficava ao lado também já não está mais lá.

“Tem muita coisa fechando. Só não fechei ainda pela misericórdia de Deus e pela clientela que conquistei há 20 anos. Mesmo assim, quem vinha toda semana agora só aparece de 15 em 15 dias e olhe lá. As pessoas estão se virando como podem”, diz a cabeleireira Tiane Reis. Dona do salão da Titi, ela já esteve ladeada por um restaurante self service e um outro centro de beleza. “Acho que eles não aguentaram a crise”, lamenta a proprietária.

Entrega do ponto

Ainda na rua do Ouro, na esquina com a praça Luiz Gomes Pereira, mais lojas fechadas. Uma unidade dos Correios mudou de endereço. Uma casa de ração e uma loja de material esportivo encerraram as atividades. Já uma loja de roupa infantil anuncia a entrega do ponto.

Na rua Mármore, no Santa Tereza, chama a atenção a quantidade de imóveis comerciais para alugar. Próximo à padaria Pedro Padeiro, uma lanchonete de açaí e uma loja de roupas femininas fecharam recentemente. Do outro lado da via, outra loja desistiu do ponto. Dois quarteirões adiante, bem de frente à praça principal, uma antiga papelaria despediu-se da clientela.

“Dá tristeza ver o pessoal falindo e indo embora”, afirma a dona Lilian Vieira, moradora de Santa Tereza há quase duas décadas. “Parece que só bar ainda dá certo”, diz.

Clientes somem e queda nas vendas chega a 30%

Com a debandada dos clientes que moram na vizinhança, lojas de bairros amargam queda de até 30% nas vendas.
É o caso de comerciantes na região de Venda Nova. “Por causa da crise econômica e política, todos os colegas da redondeza estão reclamando de retração no faturamento. Uns falam em 10%, mas outros chegam a falar em 30%”, diz o empresário Aguimar Alves de Souza, dono da Renatec Tecidos, Cama, Mesa e Banho, na rua Padre Pedro Pinto, a principal do bairro.

Segundo ele, não são raros os casos de fechamento de pontos de venda. “Sobrou até para um magazine de médio porte que tinha aqui há vários anos”, lamenta. Para manter o equilíbrio da empresa, Souza conta que tem trabalhado até três vezes mais.


O drama se repete na rua Padre Eustáquio, que atravessa o bairro de mesmo nome e o vizinho Carlos Prates. Topa Tudo, drogaria, bufê, sacolão, açougue, brechó, vidraçaria, loja de cortinas, imobiliária, entre outros, já deram adeus à via. “A crise impactou toda a cidade. Não seria diferente aqui. O que mais afeta o comércio é o desemprego que, infelizmente, está em alta”, diz Altair Rezende, dono da Brinkel, há 25 anos na região.

Na rua Monteiro Lobato, no Ouro Preto, também é fácil perder as contas de quantos imóveis comerciais estão à espera de um inquilino. Restaurante, loja de móveis planejados e de roupas femininas abandonaram a região.

Para a analista do Sebrae-MG, Ariane Vilhena, o comerciante deve buscar estratégias que façam com que a empresa não sucumba à crise. A receita é apostar na qualidade no atendimento, preço competitivo e corte de custos.
“Isso faz a diferença quando se está vivendo um período de recessão. É preciso ter um diferencial, chamar o freguês pelo nome e saber o que ele quer”, aponta a analista.

  

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