Pesquisadores vão 'vigiar' Amazônia em tempo real

Estadão Conteúdo
Hoje em Dia - Belo Horizonte
09/04/2017 às 12:06.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:04
Mecanismos serão destinados a setores de “investimentos verdes”, como reflorestamento, agricultura de baixo carbono e resiliência climática (Reprodução/Internet)

Mecanismos serão destinados a setores de “investimentos verdes”, como reflorestamento, agricultura de baixo carbono e resiliência climática (Reprodução/Internet)

Pesquisadores do Instituto Mamirauá, organização ambiental que é mantida com recursos do governo federal, estão instalando câmeras, microfones e sensores de movimento embaixo da copa das árvores na região central da Amazônia. Eles querem compartilhar, em tempo real, imagens e sons de mamíferos, aves e répteis, o que vai ajudar a conhecer melhor as diferentes espécies que habitam a região.

Chamado de Providence, o projeto ainda está em fase inicial de testes: os pesquisadores terminaram de instalar os primeiros dez módulos nos últimos dias. Por enquanto, eles estão sendo colocados numa área de dez quilômetros quadrados ao redor da sede de pesquisas do instituto na Reserva Mamirauá, a cerca de 600 quilômetros de Manaus, no Amazonas.

Monitorar uma floresta densa e extensa como a Amazônia não é tarefa fácil. Hoje, os pesquisadores só conseguem ver em tempo real imagens do que acontece sobre a copa das árvores, obtidas por meio de satélites e radares. Para acompanhar a fauna da floresta, porém, é preciso mandar pesquisadores para contar os animais em trilhas ou instalar câmeras com sensores. Elas detectam mudanças de calor e fotografam os animais que estão passando.

Entretanto, esses equipamentos só captam animais em um perímetro de até 50 metros. Além disso, não transmitem dados pela internet, o que obriga os pesquisadores a voltar ao local em até seis meses.

"Espalhar câmeras na Amazônia inteira é um trabalho gigantesco e é necessário que uma equipe busque os cartões de memória para analisar o que o equipamento registrou", explica o biólogo Emiliano Ramalho, pesquisador do Instituto Mamirauá e responsável pelo projeto Providence.

Rapidez - Ramalho teve a ideia do projeto em agosto de 2016, depois de trabalhar por 14 anos no Instituto Mamirauá. Nesse período, ele sentiu na pele as dificuldades de monitorar os animais. O projeto se tornou viável no fim do ano passado, depois que ele conseguiu ajuda da Fundação Gordon & Betty Moore - criada pelo cofundador da fabricante de chips Intel e sua esposa. A entidade investiu US$ 1,4 milhão no projeto.

O biólogo brasileiro buscou parcerias internacionais com outros institutos de pesquisa. A Organização para Pesquisas da Comunidade Científica e Industrial (CSIRO, na sigla em inglês), vinculada ao governo da Austrália, é uma delas. Ela foi responsável por desenvolver o mecanismo de transmissão dos dados registrados pelas câmeras e microfones.

Já a The Silence Foundation - da Universidade Politécnica da Catalunha, na Espanha - ajuda a identificar as espécies pelos sons. A Universidade Federal do Amazonas faz a detecção de espécies por imagem.

"Estamos colocando nosso equipamento na floresta, para ver se ele consegue sobreviver à chuva, ao calor, à umidade e aos animais", diz o australiano Ashley Tews, da CSIRO. Segundo ele, a instalação dos dispositivos tem sido um dos principais desafios dos pesquisadores.

Inovação - Por usar tecnologias já existentes e a internet para resolver um problema importante da pesquisa sobre meio ambiente, o Providence é visto como inovador por especialistas. Segundo Sergio Cavalcanti, superintendente do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), a tecnologia tem potencial para ajudar biólogos que precisam monitorar outras áreas, como oceanos, rios e, até mesmo, lavouras. "O Brasil é um País gigante, que pode aproveitar o desenvolvimento da 'internet das coisas' na área ambiental", diz Cavalcanti.

Segundo Ramalho, a primeira fase de testes do projeto Providence será concluída em março de 2018. Em seguida, os pesquisadores pretendem aprimorar os protótipos dos módulos desenvolvidos e, com isso, começar a desenvolver um plano de expansão. Se der certo, a intenção dos pesquisadores é instalar módulos semelhantes por toda a Floresta Amazônica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
 

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