PIB de Catas Altas cresce 585% com Mina do Fazendão

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
20/07/2014 às 10:42.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:27
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

CATAS ALTAS – Emoldurada pela Serra do Caraça, essa pequena cidade na região Central, distante 130 quilômetros de Belo Horizonte, é um daqueles lugares onde o tempo parece passar mais devagar. Ruas de pedras, casas e igrejas coloniais, clima ameno o ano todo e um povo hospitaleiro, que cumprimenta o forasteiro mesmo sem jamais tê-lo visto. Simplicidade que não deixa aparente uma outra grande riqueza: entre 2007 e 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) do município cresceu 585%.

Pelas contas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a soma de todos os bens e serviços produzidos na pequena Catas Altas, com menos de 6 mil habitantes, saltou de R$ 53,8 milhões para R$ 369 milhões no período.
O ganho milionário está diretamente relacionado à mineração. Explorada pela Vale, a Mina do Fazendão iniciou sua operação no município em 2006.

Dois anos mais tarde, foram extraídas 7 milhões de toneladas de minério de ferro de lá, segundo o prefeito Saulo de Moraes de Castro, que também preside a Associação dos Municípios Mineradores do Brasil (Amib).

Em 2010, o volume subiu para 10 milhões, e três anos depois, para 14,5 milhões. A expectativa é a de que ainda neste ano seja atingido o pico máximo, de 17 milhões de toneladas.

“Antes, vivíamos só do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Quando a mineração chegou, ampliou substancialmente nossas receitas. E atualmente, se sofremos com o preço do minério, que vem perdendo valor, ganhamos em volume”, afirma o prefeito, que durante 30 anos trabalhou no setor de mineração.

A exploração da Mina do Fazendão refletiu-se no aumento da arrecadação de impostos, com destaque para a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem).

Em 2007, foram R$ 724 mil, fatia que aumentou para R$ 4,3 milhões em 2012. Neste ano, até junho, já são R$ 3,3 milhões. Grande parte dessa receita, afirma Saulo de Castro, é destinada a melhorias na cidade, como a construção de um reservatório de água e de uma creche.

“Um dos nossos desafios é a educação. Padronizamos as ações nas escolas, treinamos professores, introduzimos a música como disciplina. Também passamos a custear o transporte dos alunos daqui que querem estudar em universidades nas cidades vizinhas, como Santa Bárbara, Mariana, Ouro Preto, Itabira e João Monlevade. Assim, o pessoal de Catas Altas, que antes ficava para trás, hoje concorre de igual para igual”, diz o prefeito.

Cidadãos graduados

Desde que o transporte gratuito rumo a faculdades em municípios vizinhos foi implantado, mais catas-altenses tornaram-se advogados, professores, enfermeiros e engenheiros, enumera Saulo de Castro.

O dinheiro da Cfem também foi utilizado para fomentar a agricultura familiar. Com o recurso, a prefeitura passou a comprar a produção de arroz, feijão, couve, batata doce, batata inglesa, cebolinha, entre outros ingredientes, para fornecer o almoço para todos os alunos da rede municipal, sejam eles do turno da tarde ou da manhã.

Nascido e criado em Catas Altas, José Estevão, o J.E., de 64 anos, já carregou muito minério em seu caminhão.
“O progresso é importante, mas temos que manter nossa identidade”, diz ele, que hoje passa boa parte do tempo a contemplar a calmaria da praça principal.

Metade da população trabalha na atividade

Em Catas Altas, é difícil alguém que não trabalhe ou não tenha um parente que ganha a vida a partir da mineração. De acordo com dados da prefeitura local, são cerca de 2.500 empregos diretos e indiretos, ou seja, quase a metade da população.

“É gente que trabalha na mina ou presta serviço para empreiteiras. E essas pessoas acabam comprando mais no comércio. E o comércio contrata funcionários para ajudar nas vendas, alavancando a formalidade no mercado de trabalho e fomentando a economia”, diz o prefeito Saulo de Castro.

Em 2011, Gleidson Acácio de Miranda resolveu dividir seu tempo entre o serviço na mineradora e em seu próprio negócio. Junto com um sócio, abriu a 3G, uma lojinha de materiais elétricos e hidráulicos de 70 metros quadrados, em frente à Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Como o negócio prosperou, trocou a vista para a igreja onde estão obras atribuídas ao Mestre Athaíde por um espaço bem maior, de 748 metros quadrados.

“Cerca de 40% dos nossos clientes trabalham na mineradora ou nas prestadoras de serviços. Crescemos mais de 20% ao ano”, comemora Miranda. Hoje, o estabelecimento é uma completa loja de material de construção, com nove funcionários.

Turismo é alternativa de renda sustentável

Numa cidade tão cheia de atrativos para quem gosta de sossego e natureza, o turismo desponta como alternativa de renda sustentável e já é o segundo meio de desenvolvimento econômico. Atualmente, são 514 leitos e uma pousada em construção. Evento mais famoso de Catas Altas, o Festival do Vinho de Jabuticaba, sempre no terceiro final de semana de maio, atrai o equivalente a três vezes a população do município. “Noventa dias antes da festa ninguém consegue mais achar hospedagem”, diz o empresário Marcos Lamego, dono do restaurante Histórias Taberna e Pousada Terra Mineira.

Cerca de 30 famílias se dedicam à produção anual de 30 mil garrafas de vinho feito a partir da jabuticaba. Uma das pioneiras, Maria Felisberta, a Dona Fifia, começou no ofício há mais de três décadas. Hoje, com as limitações normais para uma senhora de 77 anos, precisa da ajuda das netas. No misto de sacrifício e amor, conseguiu fabricar 120 garrafas este ano. “A gente não tem vontade de parar, mas as coisas vão ficando mais difíceis”, diz.

No centro da cidade, o visitante pode escolher entre 28 rótulos diferentes na Aprovari Vinho e Arte, a loja da associação de produtores de Catas Altas. Os vinhos de jabuticaba custam R$ 15 e os de uva, R$ 16.

“Os clientes são turistas, funcionários e prestadores de serviço da mineradora. Em um final de semana de muito movimento, vendemos de 25 a 30 garrafas. É bom, mas podia ser melhor”, diz a auxiliar administrativa do grupo, Pâmela dos Santos Gomes.

Segundo o prefeito Saulo de Castro, a cidade recebe anualmente em torno de 8 mil turistas. Pertinho dali, no mesmo município, está o Santuário do Caraça, visitado por 100 mil turistas por ano. “Se conseguirmos que 10% deles passem por aqui, será uma vitória”, diz.

Para que isso aconteça, na opinião do empresário Marcos Lamego, é preciso investir no acesso às cachoeiras, com a construção de trilhas, mirantes e pontos de parada.

Com o apoio de empresas que investem na região, Marcos Lamego e outros quatro amigos juntaram esforços para transformar Catas Altas também em polo de cervejas artesanais. Em 2012, o município sediou o I Bier Fest Serra do Caraça, regado a jazz, blues e rock.

“Neste ano atraímos oito microcervejarias e 5 mil pessoas. Além de motivador para turistas conhecerem Catas Altas, a bebida pode gerar renda e emprego para a população local”, afirma Lamego.

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