Presidente da Emater diz que produtor deve pensar além da qualidade

Tatiana Moraes - Hoje em Dia
13/04/2015 às 07:52.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:37
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

Em 1985, o engenheiro agrônomo recém-formado Amarildo Kalil ingressou na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG). Trinta anos depois, ele toma posse como presidente da entidade. Funcionário de carreira da casa, Amarildo estava emprestado nos últimos nove anos à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), onde acumulou as funções de Superintendente de Gestão e Finanças e Assessor Técnico na Área de Irrigação.

Experiente, quer mudar a forma de pensar da Emater, fazendo com que o homem da terra pense além do produto. “O produtor de leite tem que pensar na qualidade do rebanho e do produto, mas também na comercialização, na apresentação do produto e em como aquilo vai trazer benefícios para a sua região”, diz. Outra mudança proposta pelo novo presidente da casa é a ampliação do banco de dados de Minas Gerais. De acordo com ele, com o banco de dados correto, barragens poderiam ter sido construídas há alguns anos, evitando a crise hídrica em alguns locais.

Quais são os carros-chefes da Emater atualmente?

Quando falamos de Minas, falamos principalmente de leite e café, é inevitável. Os dois programas de ponta, portanto, são o Minas Leite, que apoia o produtor na gestão da propriedade, e o Certificação de Propriedades de Café. Nos dois casos há um acompanhamento de perto dos técnicos para que os produtos sejam de total qualidade. Mas também temos a adequação socioeconômica das propriedades rurais, desenvolvida pela Emater.

Como ela foi criada?

Desenvolvemos uma metodologia única chamada de Indicadores de Sustentabilidade em Agroecossistemas (ISA), que também é uma das prioridades nossas aqui. O ISA muda totalmente o enfoque, a abordagem do nosso técnico. Agora, ele introduz na ação extensionista a visão da sustentabilidade. O técnico busca aferir a sustentabilidade de uma propriedade rural e, baseado nesse diagnóstico, elabora um plano de adequação socioeconômico daquela propriedade. Sustentado em um sentido econômico, sustentável e social.

Qual o benefício para o proprietário?

O primeiro benefício é um diagnóstico completo da propriedade. Ele vai enxergar as condições sociais, econômicas e ambientais da propriedade.

São quantos indicadores?

São 23. Dentro deles, temos os econômicos, como os que avaliam renda, endividamento e produção. Aí vêm as questões sociais, como escolaridade. E depois as questões ambientais, que são onde estão as áreas de preservação permanente, as reservas legais, a qualidade da água. Aí temos condições de saber se a propriedade está adequada ou não.

E se ela não estiver adequada?

Nós fazemos o plano de adequação. Se identificarmos, por exemplo, que as Áreas de Preservação Permanente (APP) estão com 90% da área desmatada vamos fazer um plano de adequação para que elas sejam protegidas. Vamos pedir a retirada dos animais das APPs, fazer toda a adequação.

O ISA é obrigatório?

Não, este é um serviço que a Emater presta. Mas quando o proprietário faz o ISA e faz a adequação social e econômica, ele acaba se adequando ambientalmente, que é a parte obrigatória exigida pela Lei Florestal.

Hoje, quantas propriedades rurais existem em Minas?

Mais de 500 mil.

E o ISA foi feito em quantas propriedades?

Em torno de duas mil em três anos.

Existe uma meta para ser alcançada neste governo?

Nós não temos como meta atingir todas as propriedades do Estado, pois é humanamente impossível. Nossa intenção é atingir cerca de 20 mil propriedades como amostragem. Fazemos o ISA uma vez, e depois, novamente. Dessa forma, sabemos se elas evoluíram em relação à sustentabilidade. Mas, para ganhar uma amostragem melhor, desenvolvemos uma outra metodologia, chamada de Zoneamento Ambiental e Produtivo (ZAP).

O que é o ZAP?

Ele tem uma filosofia semelhante ao ISA, mas o nosso território deixa de ser a propriedade e passa a ser as 500 bacias hidrográficas do Estado. Com isso, a gente amplia, e muito, a capacidade de avaliação e diagnóstico do território mineiro. Afinal, com propriedades rurais você trabalha com 10 hectares, 500 hectares. Com bacias hidrográficas, você amplia para 100 mil hectares. Com isso, tenho uma escala boa para fazer um planejamento e para abrangência. Fazendo o ZAP em 500 bacias conseguiremos cobrir o Estado inteiro.

Fale mais sobre o ZAP.

Assim como o ISA identifica os indicadores sociais, econômicos e ambientais, o ZAP delimita as bacias hidrográficas. Ele vai avaliar três pontos principais: a primeira é uso do solo, separando vegetação nativa, cultura perene, pastagem e estrada. Toda ocupação é identificada. A segunda parte é o estudo hidrológico. Todos os cursos d’água são identificados. As nascentes, a vazão, a disponibilidade hídrica. As outorgas, disponibilidades hídricas, trechos onde tem água. O ZAP possibilita uma série de planejamentos. E a terceira são as unidades de paisagem, baseada na morfologia, na geologia e no tipo de solo e da vegetação. Há, ainda, outros mapas diversos. A união deles a gente chama de ZAP.

E de onde vêm esses mapas?

Essa metodologia utiliza dados secundários, ou seja, não tem que fazer os levantamento dos dados, pois eles já existem. São mapas geológicos que estão em algum lugar, à disposição. É um trabalho desenvolvido em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente.

Quantos técnicos farão o trabalho?

Neste ano queremos capacitar pelo menos 30 técnicos para que eles possam elaborar o ZAP.

Com essas informações em mãos, o que o Estado pode fazer?

É uma ferramenta para planejamento. Ela coloca em um mesmo banco de dados, com uma facilidade de acesso muito grande, as informações. Podemos cruzar as estradas, com as unidades de paisagem, com os rios. Se você tiver interesse de adequação da bacia numa reserva legal, ela vai te mostrar as Áreas de Preservação Ambiental, onde tem vegetação nativa, todas as informações. Tudo isso de forma rápida e barata.

E o que mais pode ser feito?

Por exemplo, a crise da água que nós estamos vivendo não é porque faltou chuva, é porque faltou planejamento. Faltou prevenção. A questão de chover mais e chover menos vai continuar ocorrendo e talvez até com mais frequência, com períodos secos alternados com enchentes. Temos que preparar melhor nossas regiões. E é aí que entra a ferramenta. Posso achar a bacia crítica e preparar essa bacia. Planejar barragens, por exemplo.

Se já tivesse usado há três anos, não estaríamos passando por um risco de racionamento, com aumento da conta de água?

Eu não diria de uma forma global, no Estado inteiro. Mas uma bacia que há três anos já tivesse feito o ZAP e planejado todas as situações, poderia estar cheia agora se ela tivesse recebido os investimentos necessários.

E além das barragens?

Na hora de receber um investimento, o ZAP também é útil. Se uma empresa quiser se instalar em Minas Gerais e precisar de um certo clima, com paisagem específica, malha rodoviária, tudo estará no ZAP.
 

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