Revendas de motos derrapam no crédito escasso

Tatiana Moraes - Hoje em Dia
14/05/2015 às 06:26.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:01
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

A inadimplência em alta e o crédito escasso travaram o mercado de motos em Minas e no país. Símbolo da ascensão social das classes C e D, principais consumidores desse tipo de veículo, as motocicletas são comercializadas, em 80% das vendas, de forma parcelada, seja por meio de consórcio ou de empréstimos. O resultado são lojas vazias e empresários sem perspectivas de melhora para o curto prazo. Há quem cogite fechar unidades e reduzir pessoal.

Hoje, segundo levantamento da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), 85% das motos vendidas no Brasil são emplacadas pela chamada nova classe média.

“São motos de baixa cilindrada, muito utilizadas por pessoas que trabalham com elas”, afirma o diretor-executivo da Abraciclo, José Eduardo Gonçalves.

Com o país com o pé no freio e a economia estagnada, os bancos ficaram mais exigentes e espantaram o que restou da demanda, que já vinha em queda nos últimos meses.

Somente em abril, os financiamentos – principal mola-propulsora do setor – recuaram 17,5% ante março e 9,1% frente ao mesmo mês de 2014, segundo a Unidade de Financiamentos da Cetip, que opera o Sistema Nacional de Gravames (SNG).

Vendas em queda

Os números comprovam o sentimento de desânimo e o temor nas lojas do setor.

No primeiro quadrimestre do ano, houve queda de 10% nas vendas no Estado, na comparação com igual período do ano passado. No mesmo intervalo, Belo Horizonte registrou retração ainda maior (16,8%), segundo dados da Abraciclo.

Lojistas avaliam reduzir redes para se adequarem à demanda

Tatiana Moraes e Janaína Oliveira - Hoje em Dia

Se o cenário não melhorar, fechar uma das lojas pode ser a saída do empresário Rodrigo Braga para driblar a crise. Ele é proprietário da Motovia, revendedora Dafra com cinco unidades em Belo Horizonte e Betim. De acordo com Braga, as vendas despencaram em maio.

“Não dá para manter um negócio que não se sustenta por muito tempo”, lamenta.

Segundo o empresário, a renda mínima exigida pelas instituições bancárias aumentou, travando os negócios. “Se o cliente não conseguir comprovar renda de R$ 1.500, dificilmente a ficha passa, mesmo para as motos mais baratas”, diz.

Para que os empréstimos sejam concretizados, a entrada exigida pelos bancos era de 10%. Nos últimos meses, no entanto, clientes que não tenham entre 20% e 30% para a entrada não conseguem fechar negócio, conforme afirma o proprietário das revendedoras Yamaha Ampla Motos e Moto Jap, Nelson Henrique, com seis unidades em Belo Horizonte e Região.

O quadro se repete na Otobai Honda da Pedro II. Segundo o supervisor comercial da loja, Guilherme Kolanskes Fernandes, houve retração de pelo menos 15% no primeiro quadrimestre.

Interessado em comprar duas motos de baixa cilindrada para levar para o interior de Minas Gerais, o fazendeiro Aureliano Cardoso sentiu na pele o aumento da restrição.

“Vou dar um entrada boa, mas estou assustado com as taxas, que estão muito altas. Sem contar que pedem muitos documentos”, critica.

Na contramão

Se a queda livre nas vendas das motos de baixa cilindrada derruba o mercado, o comércio das máquinas mais caras, com valor acima de R$ 21 mil, podem dar equilíbrio ao setor.

É o que afirma o diretor comercial do grupo Minas Motos na Grande BH, Manoel Lima. “Houve uma mudança no perfil do cliente. Quem compra essas motos mais caras paga à vista ou adquire via consórcio”, detalha.

Para estimular o setor, as marcas de motos decidiram aderir ao Festival do Consórcio Contemplado, que dará acessórios a quem possui carta de crédito, mas não retirou a motocicleta
 

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