Em seu pior momento, siderúrgicas enfrentam dificuldades para pagar dívidas

Raul Mariano e José Antônio Bicalho
primeiroplano@hojeemdia.com.br
10/04/2016 às 07:37.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:52
 (Leonardo Morais 13/06/2013)

(Leonardo Morais 13/06/2013)

Sem perspectiva de recuperação econômica no curto prazo, o setor siderúrgico atravessa a mais grave crise das últimas décadas, com risco à solvência das empresas.

O problema está no recuo da demanda e dos preços verificado nos últimos dois anos, tanto no mercado interno quanto no externo. A queda nas vendas derrubou as receitas e colocou a alavancagem (relação entre a geração de caixa e o estoque das dívidas) em nível acima do suportável para boa parte das grandes companhias brasileiras.

“A siderurgia está num momento que pode ser o mais dramático nos últimos 30 anos. No mundo há excesso de oferta e não há bons preços. Os setores automotivo e de linha branca, principais demandantes, estão vivendo um momento de mico do mercado”, explica o analista da Galdi Investimentos, Pedro Galdi.

Alavancagem

No ano passado, o consumo interno de aço caiu 16,7%, segundo dados do Instituto Aço Brasil. O recuo fez com que algumas empresas apresentassem geração de caixa negativa ao final do ano. E, sem caixa para honrar os compromissos financeiros, as siderúrgicas estão correndo aos bancos para renegociar dívidas, o que envolve carência, alongamento e taxas.

Para financiar as empresas siderúrgicas, os bancos incluem nos contratos de crédito cláusulas de proteção (chamadas covenants), que estabelecem limites para a alavancagem. Esses limites variam caso a caso, mas o usual é a exigência de que a dívida não ultrapasse em três ou quatro vezes a geração de caixa, sob o risco de execução antecipada do principal. No entanto, de acordo com os balanços de 2015 das siderúrgicas, a alavancagem já chegou a 4,2 vezes na Gerdau, a 8,1 vezes na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a incríveis 20,1 vezes na Usiminas.

Dificuldades

A Usiminas, que vive a situação mais crítica, registrou geração de caixa negativa no ano passado. Ou seja, estava gastando caixa para bancar parte dos custos operacionais e fazer frente aos compromissos financeiros. A situação era insustentável já que a previsão apontava que o caixa, que ao final do ano passado era de R$ 2,024 bilhões, estivesse zerado em março ou abril deste ano.

Com R$ 1,9 bilhão em dívidas vencendo em 2016, a companhia suspendeu no mês passado os pagamentos das obrigações por 120 dias e iniciou a negociação com os bancos para alongamento da dívida. Para conseguir boa vontade dos bancos, o Conselho de Administração da companhia teve que aprovar, no mês passado, uma injeção de R$ 1 bilhão no caixa da companhia que será feita pelos sócios controladores (Nippon Steel e Techint/Ternium).

Com o cenário de baixo crescimento traçado para 2016, entidades do setor siderúrgico defendem medidas de proteção no âmbito comercial.

Um relatório do Instituto Aço Brasil aponta que os pleitos são a elevação de alíquotas de importação ou imposição de barreiras ao aço produzido com subsídios, principalmente o chinês, e acesso ao mercado internacional por meio da instituição de mecanismos de compensação tributária.

Para o analista da Tendências Consultoria, Felipe Beraldi, o enfraquecimento da demanda interna do país é o que mais pode prejudicar o setor siderúrgico. Isso porque a indefinição do cenário político desestimula investimentos nos setores que mais demandam o aço.

“Por mais que as exportações estejam, aos poucos, aumentando, isso não compensa a (queda da) demanda doméstica desde 2014. Esse ano o consumo aparente deve cair cerca de 14,4%, segundo nossas previsões”, avalia.

China

No cenário internacional, a situação segue a tendência brasileira. A indústria siderúrgica chinesa acumulou prejuízo de 11,4 bilhões de yuans (US$ 1,8 bilhão) no primeiro bimestre, após apresentar seu pior desempenho anual em 2015, segundo a Associação de Ferro e Aço da China (Cisa, na sigla em inglês).

Com excesso de capacidade instalada, demanda em queda e preços em declínio, o setor siderúrgico da segunda maior economia do mundo teve prejuízo combinado de mais de 100 bilhões de yuans em 2015.Editoria de Arte / N/A

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