Estrangeiros podem aproveitar espaço deixado por empresas brasileiras barradas por corrupção

Tatiana Moraes
tmoraes@hojeemdia.com.br
26/06/2016 às 20:02.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:04

O mercado nacional de engenharia tende a passar por uma reviravolta nos próximos anos. Com as principais companhias do setor envolvidas em escândalos de desvio de dinheiro, superfaturamento e fraude de licitações, e, por isso, a um fio de serem cortadas da lista de fornecedores do poder público, uma avalanche de empresas estrangeiras e consórcios de médias organizações tendem a disputar, de igual para igual, as concessões de infraestrutura realizadas no Brasil. E os números são robustos. Segundo o Programa de Investimento em Logística (PIL), lançado pelo governo federal há um ano, R$ 198,4 bilhões serão distribuídos em leilões de rodovias, aeroportos, portos e ferrovias.

A primeira empreiteira a ser impedida judicialmente de prestar serviço a municípios, estados e à União foi a mineira Mendes Júnior, em março deste ano. No começo deste mês, a Skanska Brasil Ltda também foi considerada inidônea. Segundo decisão da Controladoria Geral da União (CGU), as companhias ficarão pelo menos dois anos sem ver a cor do dinheiro público. Outras 22 respondem a processos administrativos e podem seguir o mesmo caminho. Entre elas, as gigantes Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e OAS, que tocam as principais obras de infraestrutura do país.Sinduscon-PR/Divulgação / Sinduscon-PR

PROJETOS
De acordo com o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), José Roberto Bernarcosni, as estrangeiras já abocanharam uma grande fatia do mercado de projetos. “A quantidade de empresas de fora que tem comprado e incorporado as nacionais é bem grande. O problema dessa realidade é que nem sempre o Brasil consegue absorver o conhecimento externo. Não há repasse de conhecimento”, ressaltou o executivo, durante o Construction Summit 2016, evento realizado na semana passada em São Paulo.

Prejuízo
O mesmo movimento nas empreiteiras pode causar um baque no setor. Empresas estrangeiras comandando a infraestrutura brasileira poderia refletir na desindustrialização da engenharia nacional. “Companhias de grande porte detêm know how, são especialistas em grandes projetos. Entregar nossa infraestrutura ao mercado externo poderia levar ao caos”, ressalta.

Conforme o representante do Sinaenco, os responsáveis pelas fraudes devem ser responsabilizados, não as companhias. “As empresas são pessoas jurídicas. As pessoas que descumpriram a lei é que devem pagar pelo problema”, pondera.

Caso as empreiteiras sejam responsabilizadas e impedidas de prestar serviço ao poder público, a solução seria que os futuros consórcios fossem divididos em módulos. Porém, mesmo que as organizações se juntem e preencham as exigências das concessões, uma delas seria difícil de bater: a expertise em grandes obras. “Dez empresas pequenas não fazem uma grande. Se as concessões fossem divididas por módulos, no entanto, cada consórcio de pequena construtora poderia ser responsável por uma parte da obra”, diz o presidente do Sinaenco.

Sicepot aposta em grande interesse das chinesas

Não há impedimento legal para que as empresas estrangeiras atuem no Brasil. Elas são tratadas de igual para igual e competem no mesmo ambiente das nacionais. Em setores como energia, telefonia, bancos e aeroportos, aliás, a participação das companhias de fora já é grande.
A BHAirport, por exemplo, detém a concessão do Aeroporto Internacional Tancredo Neves (AITN). O consórcio é composto pelo grupo CCR (Soares Penido, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez) e pela suíça Zürich Airport, que detém o know how na administração de aeroportos.

Já no último leilão de energia, composto por 29 empreendimentos, elas também aparecem em peso. Dois consórcios (EGP APC e EGP FA) compostos pela italiana Enel Green Power venceram dois lotes. O consórcio 3Leões, composto pela Angolana YOAfrica Onfraestrutura e Pavimentação, também venceu um lote. Várias outras empresas de fora marcaram presença no certame.

No começo do ano, o governo assinou contrato de concessão de outras 29 hidrelétricas. A chinesa China Three Gorges assumiu a concessão das usinas Jupiá e Ilha Solteira, no Rio Paraná, que antes eram concessões da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), em um contrato de R$ 13,8 bilhões. Foi a primeira vez que uma empresa estrangeira assumiu sozinha a gestão de uma hidrelétrica no Brasil. Na China, a companhia administra a hidrelétrica de Três Gargantas, considerada a usina com maior capacidade de geração de energia do mundo.

Com a possibilidade de as companhias nacionais ficarem pelo menos um período sem prestar serviços para o governo, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada de Minas Gerais (Sicepot-MG), Emir Cadar Filho acredita que as chinesas serão as primeiras a se interessar pelo país. “Elas possuem conhecimento e estão acostumadas a trabalhar com grandes projetos”, diz o representante do setor. Além disso, o país asiático possui ociosidade produtiva, o que o faz mirar o ocidente. E demanda no país tem de sobra.

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