Pelo menos 10 candidatos às eleições municipais foram mortos desde junho

Bruno Moreno
bmoreno@hojeemdia.com.br
29/09/2016 às 23:42.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:02
 (Reprodução/TV Anhanguera)

(Reprodução/TV Anhanguera)

As eleições deste ano estão entre as mais violentas já registradas nas últimas décadas no país. Em nove meses, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo menos 20 pré-candidatos ou candidatos ao pleito municipal já foram assassinados no Brasil. De junho para cá, são no mínimo dez homicídios e 27 atentados a políticos, a maioria envolvendo armas de fogo, conforme levantamento do Hoje em Dia.

O caso mais recente, que chocou o país, ocorreu na última quarta-feira durante uma carreata em Itumbiara, no Sul de Goiás. O candidato a prefeito José Gomes da Rocha (PTB), o Zé Gomes, e cabo da Polícia Militar, Vanilson João Pereira, foram mortos a tiros.

Durante o atentado ficaram feridos também o vice-governador José Eliton (PSDB) e o advogado da prefeitura de Itumbiara, Célio Rezende, que se encontram internados. O atirador, o funcionário público Gilberto Ferreira do Amaral, de 53 anos, foi morto em seguida por seguranças do governo.
O aumento da violência nessa eleição levou o ministro Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a pedir que a Polícia Federal investigue o ataque. Ele considerou o episódio “chocante” e “deplorável”.

Ontem, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, reconheceu que houve um aumento na demanda por integrantes das Forças Armadas para reforçar a segurança durante o período eleitoral neste ano. “Há um crescimento sim. A média histórica fica em torno de 300 municípios, e nós já estamos em 408 municípios, engajando 25 mil homens em 14 Estados”, disse.

Com a proximidade do primeiro turno, a barbárie tem se intensificado. Dos 27 atentados levantados pela reportagem do Hoje em Dia em todo o país, sete casos foram registrados somente no último dia 28. Em território mineiro, os episódios mais recentes aconteceram em Minas Novas e Ribeirão das Neves (veja infográfico).

O promotor de Justiça Edson Resende Castro, coordenador do Centro de Apoio Operacional Eleitoral (CAEL), também está surpreso com o aumento dos casos de violência.

“Não me lembro de termos registrado homicídios na última eleição. No geral, estávamos num ambiente de tranquilidade. Agora que tivemos esse fato em Minas Novas. É mais uma questão de rixas regionais. Nas cidades menores, as eleições são muito apropriadas por famílias, que se alternam no poder. Perder a eleição significa perder para a família adversária. É um processo muito mais apaixonado”, avalia.

Afronta à democracia
O cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), avalia que os atentados podem ter várias questões relacionadas, como econômicas, envolvendo milicianos e candidatos associados às milícias. “É um sintoma que segmentos à margem das estruturas legais buscam, cada vez mais, ter presença no espaço público, como é o caso do Rio de Janeiro”, enfatiza.

Segundo ele, o mais preocupante agora é a funcionalidade da democracia. “Ela pressupõe que as pessoas possam apresentar seus projetos livremente, sem que isso lhes cause um custo, inclusive a perda da própria vida”, salienta.

Gilmar Mendes classifica como ‘deplorável’ as mortes em Goiás

BRASÍLIA – O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, classificou de “chocante” e “deplorável” a morte de três pessoas, entre elas o candidato a prefeito José Gomes da Rocha (PTB), o Zé Gomes, na última quarta-feira, em Itumbiara.

“(O episódio em Itumbiara) Deu a impressão de atentado. As investigações ainda estão sendo feitas, ainda não se tem claro qual foi a motivação, mas evidentemente parece estar associado a um contexto ou atuação política. Isso certamente será devidamente esclarecido. Mas realmente se trata de um episódio chocante e deplorável para todos os títulos”, disse o ministro a jornalistas.

O presidente do TSE entrou em contato com o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e pediu que a Polícia Federal investigue o assassinato.
Questionado sobre outros episódios de violência envolvendo candidatos nesta campanha eleitoral, Gilmar Mendes disse que o TSE está acompanhando os casos “com muita atenção”. “Estamos atendendo aos pedidos feitos pelos tribunais regionais e governadores para presenças de forças federais nos vários Estados”, destacou.

Na última segunda-feira, o presidente da Portela e candidato a vereador pelo PP, Marcos Vieira de Souza, conhecido como Marcos Falcon, foi assassinado a tiros em Campinho, Zona Norte do Rio, em pleno comitê de campanha.

Ele era ex-policial militar, acusado de ligação com milícias e estava jurado de morte havia meses, segundo investigação da Polícia Civil do Rio “Estamos ainda carentes de explicação (sobre a morte de candidatos nessas eleições), no Rio de Janeiro nós temos a presença de milícias, a questão do crime organizado, narcotráfico. Estivemos duas vezes na Baixada Fluminense, conversamos com as autoridades, discutimos a presença das Forças Armadas e Nacional”, ressaltou Gilmar Mendes.

Para o presidente do TSE, “aparentemente” a maioria dos casos de morte de candidatos está relacionada a questões eleitorais. “Embora também as autoridades do Rio tenham dito que havia disputa de algumas atividades ligadas ao crime comum, ao crime ordinário, mas isso envolve sempre milícias, envolve o narcotráfico”, disse.
Agência Brasil

ALÉM DISSO
Uma bomba de fabricação caseira foi lançada contra a casa do candidato a prefeito Dirlei Salas Ortega, do PV, na madrugada de ontem, em Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo. O artefato explodiu na garagem da residência, causou danos, mas não feriu ninguém.

O candidato, que é ex-prefeito da cidade, não dormia em sua casa porque já havia recebido ameaças dias antes. A Polícia Civil prendeu dois suspeitos do ataque.

Ortega disse que, no último sábado recebeu uma ligação telefônica em que foi ameaçado de morte, caso mantivesse a candidatura. O chamado foi feito de um telefone público de Sorocaba. Por cautela, ele passou a dormir na casa de um filho. Ortega foi acordado por vizinhos quando aconteceu a explosão.

O impacto destruiu uma porta, quebrou um vaso e danificou o piso e as paredes do imóvel. Guardas civis municipais detiveram um suspeito e encontraram em seu celular trechos de uma conversa sobre o atentado.

Na mensagem, o interlocutor pedia cuidado com as câmeras na rua e, depois, fazia comentário sobre o barulho da explosão. Com base no diálogo, outro suspeito foi detido.

Os homens, de 37 e 40 anos, foram indiciados por crime de explosão e levados para o Centro de Detenção Provisória de Sorocaba. A Delegacia Seccional da Polícia Civil em Sorocaba investiga a motivação do atentado. A cidade tem outros cinco candidatos a prefeito.


 


(*) Com agência

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