Fidel Castro, ex-presidente de Cuba, morre aos 90 anos

AFP
26/11/2016 às 07:19.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:49
 (ALEJANDRO ERNESTO/EFE/AFP)

(ALEJANDRO ERNESTO/EFE/AFP)

Lenda da esquerda latino-americana, o ex-presidente de Cuba Fidel Castro, morreu no fim da noite desta sexta-feira (25). O corpo será cremado, como informou Raúl, "em cumprimento da vontade expressa do companheiro Fidel", nas primeiras horas deste sábado (26).

Cuba decretou luto oficial de 9 dias devido à morte do revolucionário. As cinzas de Fidel percorrerão o país por 4 dias e, ao fim, serão enterradas na cidade de Santiago de Cuba.

Fidel foi o líder histórico da revolução cubana, que, mais de cinco décadas depois de seu triunfo, sobrevive como um dos últimos regimes comunistas do mundo. Único nome ainda vivo dos grandes protagonistas da Guerra Fria, Fidel encarnou o símbolo do desafio a Washington: o guerrilheiro de barba e uniforme verde oliva, que fez uma revolução socialista, marxista-leninista, a apenas 150 km do litoral dos Estados Unidos.

Fidel governou por 48 anos a ilha, mas continuou sendo o líder máximo e guia ideológico da revolução mesmo quando, doente, delegou o poder a seu irmão Raúl, cinco anos mais velho, em 31 de julho de 2006.

Veja o anúncio da morte feito por Raúl Castro, atual presidente de Cuba e irmão de Fidel:

Información de Raúl Castro sobre el fallecimiento del líder de la Revolución Cubana #FidelCastro #Cuba pic.twitter.com/vSwWY3gdiH— CubanitoenCuba (@CubanitoenCuba) 26 de novembro de 2016

 
No dia 1 de janeiro de 1959, Fidel Castro, à frente do em exército de "barbudos", derrotou o ditador Fulgêncio Batista, após 25 meses de luta nas montanhas de Sierra Maestra. Este dia foi o começo de um pesadelo para Washington e uma era de polarização na América Latina.
Em seu comando, Cuba participou do momento mais quente da Guerra Fria, converteu-se em santuário da esquerda, inspiração e sustentação de grupos armados que enfrentaram regimes de direita e sangrentas ditaduras, na época financiadas pelos Estados Unidos em seu afã de frear o avanço do comunismo.

Leia mais:


O PATRIARCA
Fidel dirigiu com pulso firme o destino dos cubanos, para uns um pai insubstituível, para outros com um orgulho messiânico. Em seu governo nasceram 70% dos 11,2 milhões de habitantes da ilha.

Seus opositores o viam como implacável ditador que acabou com as liberdades, submeteu os cubanos a penúrias econômicas e não admitiu a decadência. Mais de 1,5 milhão de pessoas partiram para o exílio, principalmente para Miami, nos Estados Unidos.

Mas, para seus seguidores, ele sempre foi um paradigma da justiça social e da solidariedade para com o Terceiro Mundo, elevando Cuba à potência mundial no esporte, com os níveis de saúde e educação mais elevados da América Latina.
De personalidade excepcional, complexa e esmagadora, para ele nada passava indiferente. Opositores na ilha e no exílio, incluindo alguns "fidelistas", traçam um retrato contrastado: inteligente, ambicioso, audaz, voluntarioso, corajoso e autoritário.

O ETERNO GUERRILHEIRO
Fidel nasceu na oriental aldeia de Birán, no dia 13 de agosto de 1926, terceiro dos sete filhos do imigrante espanhol Angel Castro e da camponesa cubana Lina Ruz.

Fidel Castro foi educado e disciplinado desde pequeno por jesuítas, mas moldou sua rebeldia inata na Universidade de Havana, onde se graduou em direito em 1950.

Iniciou a revolução cubana aos 26 anos quando, com pouco mais de cem homens, tentou invadir, no dia 26 de julho de 1953, a segunda fortaleza militar da ilha, o quartel Moncada.
Sua famosa frase "A história me absolverá", dita quando foi julgado por essa ação, mostrou o quanto compreendia do poder destas palavras. Foi um dos maiores oradores dos últimos 50 anos, famoso por seus discursos absurdamente infinitos.

Ficou exilado no México e retornou com 81 homens, entre eles o argentino Ernesto Che Guevara e seu irmão, em um desastroso desembarque no dia 2 de dezembro de 1956 para iniciar a guerra que derrotou Batista.

Sua história e a da revolução se confundem numa só. Sobreviveu a uma invasão da Baía dos Porcos, em 1961, à crise dos mísseis em 1962 e à desintegração da União Soviética. Sustentou militarmente e economicamente a ilha por mais de três décadas.

Onze homens da Casa Branca tentaram asfixiar o governo comunista por meio de um embargo econômico, vigente desde 1962, considerado "criminoso" por Havana e, segundo os opositores de Fidel, utilizado por ele como justificativa para o desastre da economia.
De acordo com as forças de segurança cubana foram 638 complôs orquestrados contra Fidel Castro, principalmente pela CIA.

ENCANTADOR DE SERPENTES
Conspirador nato, teimoso e mestre na arte da estratégia, a emoção do risco foi o maior estímulo de sua vida. Em cada derrota via uma vitória disfarçada. Era um péssimo perdedor.

Praticou natação, basquetebol, beisebol, caça submarina e outros esportes. Disciplinado, em 1959 fumava em média uma caixa de charutos por dia, mas, no final de 1985 parou de fumar para combater o tabagismo em um país produtor de tabaco por excelência.

Homem de ação, leitor voraz dotado de uma memória invejável, conversador inveterado e inquieto, Fidel viveu em uma relativa austeridade.
Quando ficou doente em julho de 2006, manteve um regime de trabalho alucinante, ocupando-se do menor problema doméstico até o movimento mais calculado do xadrez político internacional. Contudo, um desmaio em 2001 e uma queda em 2004 acionaram os alarmes quanto à saúde do homem mitificado, acreditado como imortal por muitos cubanos.

Ergueu um intransponível muro entre sua vida pública e privada. São conhecidos oito filhos seus: seu primogênito 'Fidelito', do casamento com Mirta Díaz-Balart; Alina Fernández e Jorge Angel, de outras duas relações; Alejandro, Antonio, Alexis, Alex e Angel, com Delia Soto del Valle, sua parceira por décadas até sua morte.

Muitos amores passaram por sua vida, apesar disso se dizia tímido com as mulheres. Em um país engraçado, musical e sensual, era pouco dado a piadas e não sabia dançar.

Sempre foi um guerrilheiro, simbolizado por seu eterno traje verde oliva de Comandante-em-Chefe. "Jamais deixarei a política", disse uma vez. Mas, depois das crises de saúde, no crepúsculo de sua vida passou a se dedicar a leitura e escrita, auto-intitulando-se "soldado das ideias".
Na véspera da revolução disse aos seus companheiros: "Não viverei nem um dia a mais depois do dia de minha morte".

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por