Grampo revela troca de votos por dentaduras

Ezequiel Fagundes - Hoje em Dia
20/11/2014 às 07:56.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:05
 (Relatório da PF/Divulgação)

(Relatório da PF/Divulgação)

Peça chave no esquema de compra de votos pelo PT no Norte de Minas, o vice-prefeito da cidade de Monte Azul, Antônio Idalino Teixeira, o Toninho da Barraca, foi flagrado em grampos da Polícia Federal (PF) pressionando uma dentista da prefeitura a fazer dentaduras para eleitores pobres do município.    Cabo eleitoral dos deputados do PT Reginaldo Lopes, reeleito para Câmara Federal, e Paulo Guedes, que conquistou outro mandato na Assembleia Legislativa, Toninho é suspeito de participação em fraude na Previdência Social da região e de cometer vários crimes eleitorais em benefício da coligação petista. Tanto Lopes quanto Guedes conquistaram expressiva votação na cidade e região.   O caso foi revelado nessa quarta-feira (18) com exclusividade pelo Hoje em Dia, após ser deflagrada a operação “Curinga”, que atingiu em cheio a cúpula de políticos da cidade. Entre os envolvidos, estão o vice-prefeito, três vereadores, três secretários da prefeitura e o comando do sindicato dos trabalhadores rurais de Monte Azul, todos ligados ao PT.   Em uma das conversas grampeadas com a autorização da Justiça Federal em Montes Claros, Toninho da Barraca, que oficialmente é secretário de Obras de Monte Azul, é flagrado ligando para uma dentista, servidora concursada do Executivo municipal.    Durante o diálogo, o petista exige atendimento para L. C. P., morador da zona rural de Canabrava, um dos vários distritos da comarca local.    No diálogo, interceptado em 19 de setembro deste ano, Toninho determina que o atendimento seja realizado no mês de outubro. Devido à quantidade de pedidos nesse sentido, a dentista deixa claro sua preocupação com a demanda. Ela pondera e pede para fazer o atendimento em novembro.    O político, por sua vez, não aceita a condição e pressiona para que tudo seja feito antes da eleição. “Eu já fiz compromisso com todo mundo”, alega Luciana. “Se conseguir uma vaguinha antes...”, insiste o petista.    No fim, o vice-prefeito constrange a dentista e demonstra autoridade sobre a servidora. “Tá, se der eu chamo em outubro, senão, fica pra novembro”, ressalta a dentista. “Falou minha secretária”, devolve o político.    Em outro grampo telefônico da operação “Curinga”, gravado um dia antes, o vice Toninho da Barraca solicita outra dentadura. Dessa vez, o atendimento é para uma mulher, L. R. J. “Tem agenda aí para nossa amiga?”, pergunta o petista.    “Dá um tempinho aí, eu te ligo pra anotar o nome dela que eu tô dirigindo viu”, responde a dentista.    Por votos, a quadrilha oferecia aposentadoria irregular, combustível, material de construção, transporte, conserto mecânico e até inclusão em programas do governo federal, entre eles o Bolsa Família.    O deputado Paulo Guedes afirmou desconhecer as denúncias, enquanto o deputado Reginaldo Lopes não se pronunciou.   PSDB de Minas se diz perplexo com ‘manipulação’    Por meio de nota à imprensa, o PSDB em Minas manifestou perplexidade sobre os indícios de crimes eleitorais cometidos no Norte de Minas. Para o partido, as denúncias, se confirmadas, merecem repúdio de todos os mineiros e brasileiros.   “É degradante assistirmos, em pleno século 21, prefeitos, vereadores e deputados do PT sob suspeita de envolvimento no uso abusivo de programas sociais como o Bolsa Família e o Pronaf, de benefícios como o auxílio- doença, e até mesmo na distribuição de dentaduras”, diz o comunicado, assinado pelo presidente da legenda no Estado, deputado federal Marcus Pestana.   O partido citou o escândalo de propina na Petrobras, considerado um dos maiores já vistos no mundo, como contraponto ao que ocorreu no Norte de Minas revelando “as mais antigas e ultrapassadas práticas de manipulação e de abuso da boa-fé da população mais pobre e dependente das políticas sociais do governo federal”.   “Infelizmente, para os brasileiros, vemos comprovadas na realidade as palavras ditas pela presidente Dilma Rousseff de que ‘faz-se o diabo para vencer as eleições’. A ausência de limites e o emprego de quaisquer meios parecem ser o caminho de petistas para alcançar seus objetivos de manutenção no poder”, diz o comunicado.   Em outro trecho do comunicado, o partido citou os 51 milhões de votos obtidos pelo senador Aécio Neves (PSDB) na eleição de outubro. Para o partido, a expressiva votação foi um sinal de “basta de corrupção, basta de desvios e de malfeitos”.    Por fim, a legenda declarou que irá acompanhar de perto os desdobramentos da investigação da Polícia Federal (PF). “O PSDB de Minas Gerais lamenta, se confirmada, a ocorrência de tais práticas nas eleições em nosso Estado. O partido acompanhará de perto as investigações da chamada operação Curinga, sob responsabilidade da PF, Ministério Público e do Poder Judiciário, e trabalhará para que os fatos comprovados cheguem ao conhecimento de todo Brasil, assim como estará vigilante para que os autores de tais crimes sejam punidos”.         Chefe de gabinete nega crime eleitoral   Em nome da Prefeitura de Monte Azul, o chefe de gabinete Carlos Eduardo Villaça reagiu com ironia à investigação da Polícia Federal (PF). De acordo com Villaça, a ação policial foi pautada pelo sensacionalismo. “Do jeito que foi colocado pela polícia na imprensa, fica a impressão de que havia um saco cheio de dentaduras para distribuir aos eleitores”, declarou.   O servidor do Executivo negou a tese da PF de compra de voto e defendeu seus colegas investigados. “A população daqui votou espontaneamente nos candidatos do PT. Não houve compra de votos. Isso não existe aqui há muitos anos”.

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