Greve nas Umeis provoca corrida por vagas em escolas particulares da capital

Evaldo Magalhães
efonseca@hojeemdia.com.br
21/05/2018 às 20:59.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:11
 (LUCAS PRATES)

(LUCAS PRATES)

A greve de educadores da rede pública infantil de Belo Horizonte, que completa um mês amanhã, tem provocado uma corrida de pais de crianças de até cinco anos a escolas e espaços pedagógicos particulares da cidade. Eles buscam alternativas, mesmo que pagas, para que os filhos possam retomar as atividades escolares, além de ter onde deixá-los para que possam trabalhar sossegados.

A procura é confirmada pela presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), Zuleica Reis Ávila. “Estamos verificando esse movimento, que tem aumentado nos últimos dias e é motivado pela paralisação, principalmente, das Unidades Municipais de Educação Infantil (Umeis)”, afirma, lembrando que o Sinep-MG ainda não conseguiu quantificar o número desses novos alunos.

Gestora do Colégio Paquetá, escola privada na região Noroeste da capital, Bernadete Grandesoli confirma que a unidade tem recebido “grande número de novas matrículas” em razão da greve dos educadores municipais. 

“A procura dos pais está muito alta, perguntando se podemos acolher essas crianças que estão sem aulas. Só na semana passada, recebemos quatro alunos que vieram de Umeis e temos vários outros interessados”, diz ela. “Atendemos telefonemas diários de pessoas querendo informações sobre valores e lista de material, por exemplo. E o interesse não é pela matrícula provisória. Os pais realmente fizeram a opção de troca da Umei pela escola particular, sobretudo para crianças de 4 a 5 anos, de 1º e 2º períodos”.

 Lucas Prates/Hoje em Dia


Espaços Kids

Nos chamados “espaços kids”, onde são oferecidas atividades de recreação para crianças na capital, as consultas sobre preços de diárias e as inscrições de crianças originárias de Umeis e de outras unidades municipais que oferecem educação infantil também cresceram. 

“O movimento aumentou no nosso espaço, que recebe crianças com idades entre 1 e 10 anos, sendo que os inscritos avulsos, que virão só por um período ou em determinados dias, precisam ser maiores de 3 anos. Nessa faixa etária, por exemplo, houve um aumento de 10%”, diz a diretora administrativa do Espaço Corre Cutia, no bairro Cidade Jardim, Região Centro-Sul.

Já na Aldeia da Jabuticaba, que tem duas unidades – uma casa no bairro São Pedro e espaço em um shopping da mesma região –, pais de alunos de Umeis próximas, nos bairros Santo Antônio e Lourdes, têm buscado informações sobre os preços e condições para deixar os pequenos. No entanto, segundo a sócia-proprietária do empreendimento, Thaís Alencar, poucos inscrevem os filhos. 

“Acho que, até por uma questão de perfil socioeco-nômico, alguns pais acabam considerando o valor alto”, ressalta, lembrando que o “passaporte criança” – turno de até quatro horas no local, com lanche incluído – custa R$ 80 ou R$ 75 para cada inscrito, no caso de irmãos.

Iniciada em 23 de abril, a greve mobilizou 6 mil educadoras infantis e atingiu, total ou parcialmente, as 131 Umeis da capital, além de 31 escolas municipais de educação infantil e quase 30 de ensino fundamental que também atendem o segmento – totalizando 60 mil crianças matriculadas.

No último balanço da paralisação, na sexta-feira, segundo o Sindicato dos Trabalhadores na Educação da Rede Pública Municipal (Sind-Rede BH), 60% das unidades estavam sem aulas. Já a prefeitura informou que 96% delas funcionavam normal ou parcialmente.

Professores infantis, segundo o Sind-Rede, têm nova assembleia marcada para amanhã, quando a greve completa um mês, para avaliar o movimento e definir novas estratégias de negociação com o poder público municipal.


Pais apertam orçamento para que filhos voltem à escola

A necessidade de dar continuidade à educação dos filhos, em fase de pré-alfabetização, e a falta de ter com quem deixá-los para trabalhar são os fatores que explicam a opção de pais e mães pela transferência das crianças para escolas particulares da capital, em razão da greve nas Umeis.

A advogada Susan Samos, de 33 anos, moradora da região Noroeste da capital, por exemplo, cansou de esperar a solução para a paralisação dos professores de Ana Júlia, de um ano e nove meses, matriculada em uma Umei do bairro Jardim Alvorada.

“Crio minha filha sozinha e, apesar de amar a Umei em que ela estuda, onde há profissionais muito qualificados e ótimo atendimento, não tenho como sustentar a situação. Preciso trabalhar e Ana Júlia tem que seguir com seu processo de aprendizado”. 

Susan conta que, depois de três semanas de greve na rede pública infantil, passou a procurar escolas que tivessem bons projetos pedagógicos e mensalidades que coubessem no orçamento. 

As primeiras buscas foram frustrantes. “Vi muitas instituições que não ofereciam a qualidade da Umei da minha filha e ainda tinham preços altíssimos. Numa delas, fiquei estarrecida com a lista de materiais exigida dos pais, que tinha nada menos que um velotrol”, ressalta. A procura acabou na semana passada, quando a advogada encontrou um colégio perto de casa, com boa proposta pedagógica e preço acessível. “Fico triste porque Ana Júlia gostava da antiga escola, da prefeitura, e recebia muito carinho de todos”, lamenta. 

A também advogada Tatiana Bicalho, de 42 anos, agiu de forma parecida. Como não havia previsão de retorno dos professores da Umei, o filho Miguel, de 3 anos, ficou sob os cuidados da avó. 

“Mas já estava ficando difícil para ela”, diz. Valéria levou a criança a uma escola particular perto de casa e efetuou matrícula provisória. “Pago R$ 40 por dia para ele ficar só a parte da manhã e mando o lanche. Está lá desde a segunda-feira (14) e, se a greve permanecer, vou efetuar a matrícula definitiva”, acrescenta.

No Sind-Rede, representantes do comando de greve dos educadores infantis se solidarizam com os pais e mães que estão tirando os filhos das Umeis. 

“Tanto as professoras quanto as crianças e suas famílias sofrem com essa situação, mas a culpa é da prefeitura, que se recusa a negociar nossos direitos e tem sido autoritária conosco”, diz a diretora sindical Jacinta Gomes da Silva Braga.

 

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