IBGE vai a campo levantar números da agricultura

Heraldo Leite
hleite@hojeemdia.com.br
04/11/2017 às 11:19.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:32
 (Heraldo Leite)

(Heraldo Leite)

Quando o recenseador do IBGE Jean Resende Araújo chegou à Estância Terra Rica, no distrito de Vianópolis, em Betim, já encontrou a agricultora Maria Isabel Pimenta, de 58 anos, com água gelada e muita disposição para responder ao Censo Agropecuário 2017.

Ele faz parte de um batalhão de 2.600 recenseadores do IBGE em Minas, enquanto Maria Isabel aparece nas estatísticas como a responsável por um dos 550 mil estabelecimentos a serem pesquisados, somente no Estado.

O questionário é confidencial e segue direto do smartphone que os recenseadores carregam para os computadores do IBGE. Mas a agricultora tem na ponta da língua os números de que o Instituto precisa para concluir a Pesquisa Nacional por Amostra de Estabelecimentos Agropecuários.

Terreno

São 5,5 hectares onde Maria Isabel planta quase tudo o que consome. “A gente aqui só compra açúcar e café”, conta enquanto enumera o que a terra lhe dá: “feijão, milho, mandioca, alface, couve, beterraba, cenoura. Tenho ainda laranja, mexerica, banana e jabuticaba”. Um galinheiro dentro da propriedade revela que ovos e as próprias aves também vão para a mesa da agricultora.

O terreno faz parte do Assentamento 2 de julho, ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). No local, ficava a Fazenda Ponte Nova, desapropriada em 1999 por ser terra improdutiva e onde se exercia atividades ilegais.

Maria Isabel Pimenta está ali há seis anos realizando atividade que integra o segmento da agricultura familiar. O setor responde por 79,2% dos estabelecimentos agropecuários mineiros.

E é na própria região que a agricultora comercializa o excedente. “Todas as vezes que vou ao posto de saúde, as meninas me passam uma lista. Aí vendo um molho de couve para uma, uns dois pés de alface para outra, e também pencas de bananas e quilos de mandioca. Mas é baratinho. O alface e a couve não faço por mais de R$ 1. Um cacho inteiro de banana faço por R$ 40”, diz.

Para o local onde gosta de viver, Maria Isabel reivindica uma linha de ônibus. “Seria bom ter uma linha de ônibus que viesse mais perto”. Apesar das mãos calejadas e alguns problemas de saúde, ela garante que só sai dali depois que morrer.

Pesquisa já chegou a 22% do total previsto no Estado

No começo de novembro, o Censo Agropecuário do IBGE já havia visitado 125.701 propriedades. O número corresponde a 22,5% de um total de 556. 713 em território mineiro. O trabalho de campo segue até fevereiro de 2018 e, já nos primeiros meses do ano, os resultados iniciais devem ser divulgados.

Entre as informações levantadas estão: a área, a produção, as características do pessoal ocupado, o emprego de irrigação, o uso de agrotóxicos. A realização está prevista em intervalos de cinco anos, mas o último censo foi em 2007.

Os dados mais atuais que o IBGE armazena sobre a agropecuária foram obtidos durante o Censo Populacional de 2010. Por isso, o Instituto espera ter um quadro mais claro da agricultura brasileira. Setor, aliás, responsável pelos bons números da balança comercial brasileira.

Estas informações servirão para subsidiar futuras pesquisas e na formulação de políticas públicas para o setor. Também podem auxiliar a iniciativa privada na adoção de estratégias de investimento.

Talvez o resultado não possa estender o itinerário do ônibus até um ponto mais próximo da propriedade de Maria Isabel, mas servirá para identificar as necessidades de outros trabalhadores do campo na mesma situação.

O censo vai traçar um quadro mais atual com relação a receitas e despesas na produção, além da situação social e familiar dos agricultores.

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