Imigrantes fazem do compartilhamento de experiências uma nova fonte de renda

Sergiovane Amaral
primeiroplano@hojeemdia.com.br
26/05/2016 às 17:07.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:37
 (Thiago Krautz/Divulgação/Migraflix)

(Thiago Krautz/Divulgação/Migraflix)

 Imagine que você é fã de culinária boliviana. E se ao invés de tentar garimpar um restaurante pela capital, você cozinhasse seu  prato favorito em casa? E se você achasse lindos os movimentos do tango e pudesse aprender a dançar com um professor argentino? Tudo isso a preços populares, tendo como professores imigrantes e refugiados, que procuraram o Brasil para começar uma nova vida fazendo renda com o que possuem de mais valioso: a própria cultura. Desde setembro de 2015, o projeto Migraflix, idealizado pelo empreendedor argentino Jonathan Berezovsky, oferece aos estrangeiros a possibilidade de compartilhar conhecimentos em workshops, em que ficam com 80% do valor arrecadado. Os outros 20% são usados na manutenção do projeto, sem fins lucrativos, que valoriza a troca de experiências entre indivíduos. Os workshops abordam música, dança, caligrafia, arte e gastronomia. 

 Até então, todas as edições do Migraflix haviam ocorrido em São Paulo. No próximo dia 4, o chef Genaro Centelha vai dividir conhecimentos da cozinha boliviana com os mineiros no restaurante Alma Chef, em Lourdes. A inscrição custa R$ 90. Ele vai preparar três pratos – Papas a la huancaina, Silpancho e Piquemacho –, além de um suco típico. “Sobre a escolha dos três pratos, eles seguem três critérios. Primeiro, são muito gostosos; segundo, são bem conhecidos na Bolívia; terceiro, são bem fáceis de preparar.”

 O chef Genaro chegou ao Brasil em fevereiro de 2015, depois de receber uma proposta de emprego. Teve dificuldade para se adaptar. “Era uma vaga no setor têxtil. Não foi fácil nos acomodarmos (ele, um casal de filhos e sua mulher) por aqui, mas o que me chamou a atenção foi a vontade das pessoas de nos ajudar. Foram amigos, inclusive, que nos indicaram o Migraflix.” 
O boliviano é inquieto. Aprendeu a cozinhar e trabalhou no restaurante da mãe, abriu seu próprio restaurante em La Paz e, cinco anos depois, saiu pelo mundo. Especializou-se em gastronomia italiana em Londres, foi até a Espanha e aprendeu a cozinha espanhola e agora está no Brasil, onde diz que já aprendeu a fazer seu prato predileto. “Adoro feijoada. Temos uma vizinha que faz uma deliciosa e nos oferece sempre, mas já aprendi a fazer. Também levamos a ela pratos bolivianos. É uma troca saborosa”, comenta.

 Migraflix/Divulgação

Jonathan Berezovsky, idealizador do Migraflix, está há dois anos no Brasil

Empreendedorismo social ganha espaço no Brasil

O tino de empreendedor social de Jonathan Berezovsky tem não só transformado, mas aproximado vidas. Brasileiros aprendem um pouco de lugares como Síria, Líbano, Argentina e Bolílvia e estrangeiros ganham uma ajudinha para se adaptarem ao Brasil. Dessa forma, gerando renda e ensinando aspectos de suas culturas, as pessoas que participam do Migraflix sentem-se mais valorizadas e independentes.

 Berezovsky foi revelado em Israel. Apesar de ter nascido em Buenos Aires e ter passado a infância nos EUA, foi no Oriente Médio que ele começou a ter contato com imigrantes africanos fugitivos de guerrra. Na época, ele trabalhava numa startup que fornecia microcrédito para africanos fugitivos de guerra. 

 Quando chegou ao Brasil, há dois anos, tentou fazer o mesmo, mas encontrou obstáculos jurídicos. Juntou-se ao jornalista Rodrigo Borges e, juntos, apresentaram, no ano passado, a ideia no Social Good Lab (um programa que apoia negócios de impacto social) e foram bem avaliados. Daí em diante, o projeto começou a ser desenvolvido em uma incubadora de Florianópolis e passou a ser executado em São Paulo, onde acontecem a maioria dos workshops.

 Berezovsky disse que acompanhou várias histórias marcantes durante o tempo em que está à frente do Migraflix. “Lembro quando um sírio chegou ao Brasil com sua mulher e filhos. Fazia comida e vendia no bairro. Ele era um engenheiro na Síria, mas agora tinha que vender comida na rua para sobreviver. Ele foi juntando dinheiro, fez crowdfunding e, depois de dois anos e meio, abriu um restaurante no Brooklin, em São Paulo. Foi uma história de superação.”  Segundo o argentino, alguns imigrantes conseguem se manter apenas com os workshops de três horas, que custam entre R$ 70 e R$ 90 por inscrição. 

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