Inflação menor traz cobrança por flexibilização nas políticas fiscal e de juros

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
21/10/2016 às 20:53.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:20
 ( LUIZ COSTA/ARQUIVO)

( LUIZ COSTA/ARQUIVO)

O arrefecimento da inflação, fruto da desaceleração consistente e generalizada dos preços desde julho último, abre espaço para a redução dos juros e fortalece os argumentos dos críticos à política contracionista adotada até o momento pelo governo Temer.

Agora, mais do que o índice que mede a variação dos preços, o presidente Michel Temer precisará combater um problema maior que é a recessão econômica. Em outras palavras, é hora de estimular investimentos das empresas e consumo das famílias em nome da recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) e da redução do desemprego, avaliam especialistas.

Em outubro, o IPCA-15, que é o mesmo índice oficial de inflação do país, mas medido entre os dias 15 de meses subsequentes, ficou em 0,19%, conforme divulgado ontem pelo IBGE. Essa é a menor taxa para o décimo mês desde 2009. Um termômetro e tanto de que os preços estão deixando de ser um problema para o Brasil. Depois de fechar 2015, em 10,67%, a maior inflação anual desde 2002, o IPCA deverá fechar 2016 em 7,01%, e em 5,04% em 2017, de acordo com as projeções de mercado (pesquisa Focus do Banco Central).

Se, de um lado, a inflação começa a entrar nos eixos, de outro a dinâmica econômica ainda não apresenta sinal de reação à recessão. O Índice de Atividade Econômica (IBC-BR), medido pelo Banco Central, apresentou queda de 0,91% em agosto frente a julho, a maior em 15 meses. O indicador serve como prévia do PIB que retraiu 4,9% no segundo trimestre deste ano.

“Vemos agora uma janela de oportunidades para redução dos juros. O governo foi muito conservador na última redução de 0,25 pontos nesse contexto de crise econômica”, critica o professor de economia da Fundação Getúlio Vargas, Mauro Rochin. Ele explica que juros altos servem para inibir investimentos e gastos das famílias. E é justamente por isso que eles são usados como alternativa para conter a inflação.

Só que esse “conservadorismo” que manteve a taxa Selic em 14% ao ano deverá agravar o quadro de desemprego no país.
“Na medida em que o governo mantem uma Selic alta com a inflação em baixa, o que temos é uma elevação dos juros reais. E ele impacta na vida das pessoas e empresas. Na prática é menos investimento e geração de emprego”, afirma o vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen .

O economista acredita que não seja momento para implementar medidas fiscais mais contundentes, como a PEC dos gastos públicos (241), que limitará os gastos do governo à inflação. “Agora não é hora de desestímulo”, conclui.

Para o diretor de economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storfer, além de reduzir os juros, o governo deveria facilitar a tomada de empréstimos por parte do setor produtivo, por meio de linhas específicas. A medida poderia agir como um motor de arranque para a retomada do crescimento.


Alimentos passam de vilões a mocinhos da inflação

Depois de altas seguidas, os alimentos ficaram mais baratos em Belo Horizonte. Por conta do início de safra de alguns produtos em outubro, o item alimentos e bebidas recuou 0,41% no mês. A queda se soma a baixa de 0,25% apurada em setembro.

O feijão preto ficou 10,63% mais barato e o carioquinha, 1,56%. Além do produto, que chegou a ser um grande vilão da inflação há alguns meses, o mamão, batata-inglesa e alho seguiram a mesma tendência, com retrações de 18,36%, 12,80 e 11,16, respectivamente. O leite longa vida, que também seguia em escalada crescente de preços, teve redução de 8,40% em outubro, segundo os dados divulgados ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O item artigos de residência também apresentou redução de 0,24% em BH. Com as reduções, a inflação na capital ficou um pouco abaixo da apresentada em outubro de 2015, passando de 0,43% para 0,31%.

A queda só não foi mais consistente por causa de itens como passagem aérea, que encareceu 16,18%; laranja-pêra (13,21%); bermuda e short infantil (3,95%), dentre outros produtos.

Segundo o professor de economia da Fundação Getúlio Vargas, Mauro Rochlin, além da redução dos preços de boa parte dos alimentos, pesou positivamente sobre o resultado também a inflação dos serviços. “Como está aumentando o tempo em que algumas pessoas estão desempregadas, as famílias começam a reduzir ainda mais os gastos, com reflexo nos preços”, afirma.

Além disso, esse ano o preço dos produtos administrados está pesando menos sobre o índice do que em 2015. Uma elevação muito grande da energia elétrica, como aconteceu no ano passado, se refletiu sobre os custos de produção da indústria, mas este efeito está sendo dissipado.Editoria de Arte

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