Lula, a grande ausência no primeiro debate dos presidenciáveis

Agence France-Presse
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09/08/2018 às 23:07.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:51
 (MATEUS BONOMI/Estadão Conteúdo)

(MATEUS BONOMI/Estadão Conteúdo)

O primeiro debate televisivo das eleições presidenciais de outubro começou às 22h desta quinta-feira (9) à sombra de um grande ausente: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), favorito nas pesquisas de intenção de voto e preso desde abril na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.

O evento foi realizado na TV Bandeirantes, em São Paulo, com a participação de oito dos 13 aspirantes ao Palácio do Planalto que vão disputar a preferência do eleitorado em 7 e outubro com eventual segundo turno no dia 28 daquele mês.

Participaram do debate o capitão do Exército na reserva Jair Bolsonaro (PSL)    - segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto em que Lula aparece como favorito e primeiro em sua ausência - Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Henrique Meirelles (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Álvaro Dias (Podemos) e Cabo Daciolo (Patriota). 

Lula insistiu em participar deste primeiro encontro por videoconferência de sua cela em Curitiba, onde cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas a Justiça lhe negou nesta quinta este pedido.

O jornalista Ricardo Boechat, moderador do programa, fez referência a esta situação no começo do debate, mas não houve nenhuma outra alusão no tablado relativa à sua ausência.

Esta decisão "viola o direito do povo brasileiro e também dos outros candidatos de discutir as propostas da minha candidatura e até de me criticarem olhando na minha frente, e eu tendo o direito de responder. O nome disso é censura", disse Lula em carta enviada à emissora e publicada nas redes sociais.

 'Debate' paralelo nas redes sociais 

Na mesma hora da transmissão na Band, o Partido dos Trabalhadores organizou um debate paralelo com Fernando Haddad, companheiro de chapa do ex-presidente (2003-2010), transmitido pelas redes sociais. 

Com assistência de pouco mais de 7.000 pessoas, estão ao lado de Haddad, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e Manuela D'Ávila (PCdoB), que será vice de Haddad se ele substituir Lula - cuja candidatura muito provavelmente será impugnada segundo a Lei da Ficha Limpa. 

As discussões paralelas, transmitidas ao vivo em contas de Lula nas redes sociais, "não [estarão] necessariamente vinculados aos mesmos temas" da Band, informou à AFP uma assessora de comunicação do PT.

Haddad e seus interlocutores vão abordar "temas de interesse público, como segurança, saúde e emprego", informou. 

Lula foi condenado como beneficiário de um apartamento tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo, que teria recebido da empreiteira OAS em troca de facilidades em contratos com a Petrobras. Mas o líder histórico da esquerda brasileira, que tem um terço das intenções de voto, se declara inocente e denuncia uma conspiração político-judicial para impedi-lo de retornar ao poder.

Uma dezena de juristas europeus, entre eles o juiz anticorrupção espanhol Baltasar Garzón, que se tornou célebre por prender o falecido ex-ditador chileno Augusto Pinochet, expressou preocupação pelas irregularidades da condenação de Lula, em carta dirigida nesta quinta-feira à presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia.

O PT vai inscrever formalmente a candidatura de Lula em 15 de agosto, último dia do prazo legal, e planeja reunir milhares de simpatizantes em Brasília neste dia para dar seu apoio ao líder histórico do partido. 

Nas eleições de outubro também serão eleitos os 27 governadores, 513 deputados e dois terços do Senado, que tem um total de 81 assentos.

Os debates, juntamente com o tempo de propaganda gratuita de rádio e televisão a partir de 31 de agosto, e os recursos eleitorais que são distribuídos de acordo com o tamanho dos partidos e coalizões, são chave para o desempenho dos candidatos.

 Pessimismo 
Os financiamentos empresariais estão proibidos nestas eleições e os aportes pessoais, limitados, em função da legislação aprovada como resposta aos escândalos que sacudiram nos últimos anos as bases da democracia no país, como o revelado pela Operação Lava Jato, que descobriu um enorme esquema de propina centrada na Petrobras.

Uma pesquisa divulgada este mês pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que 45% dos brasileiros se declaram "pessimistas ou muito pessimistas" com relação às eleições e que 33% dos eleitores votariam em branco.

Outras duas consultas mostram que de 33% a 41% dos eleitores estão tentados a se abster de votar.

Ultimamente, a crise e os escândalos corroeram a hegemonia das forças que dominaram as disputas políticas nos últimos 24 anos: o PT de Lula e o PSDB de Alckmin, com o apoio do MDB de Temer, imprescindível para formar maiorias no Congresso.

Mas no seu lugar, "ao contrário do que acontece em outros países, não apareceram no Brasil lideranças novas que poderiam surfar a onda do descontentamento popular", explicou à AFP o cientista político Matias Spektor. "O sistema político brasileiro continua gerando muita frustração".

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