Luxo sem crise; BH é a 4ª cidade em potencial para investimentos no setor premium

Felipe Boutros
fboutros@hojeemdia.com.br
28/08/2017 às 07:16.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:17
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Se a crise que o Brasil atravessa é considerada por muitos como uma das piores da história, o mercado de luxo é oásis em meio a esse cenário desolador. 

Segundo estudo da MCF Consultoria, esse segmento cresceu 9% em 2016, com faturamento de R$ 33,9 bilhões, ante R$ 31,10 bilhões em 2105 . E Belo Horizonte, segundo empresários ouvidos na pesquisa, é a quarta cidade em potencial para investimentos nessa seara, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Para quem atua nesse segmento na capital mineira, a situação econômica do país não tem atrapalhado. Na concessionária Audi Center BH, por exemplo, o crescimento das vendas está na casa dos dois dígitos, mesmo com um tíquete médio de R$ 138 mil.

“Neste primeiro semestre, o aumento nas vendas foi de 33%, comparado ao mesmo período do ano passado. Fizemos ações pontuais, oferecendo taxas atrativas e preços diferenciados”, afirma o superintendente da revenda, Miguel Albino. 
Ele destaca o utilitário esportivo Q5, que tem preço inicial de R$ 244 mil, e que está entre os modelos mais procurados.

Ainda no universo dos motores, outra concessionária que comemora crescimento expressivo mesmo em tempos de retração econômica é a Triumph BH, revenda de motos da marca britânica, cujos valores variam entre R$ 36 mil R$ 79 mil. Praticamente todos os modelos são voltados para o lazer. 

De acordo com o sócio-diretor da empresa, Camilo Lucian, as vendas aumentaram 22% de janeiro a julho deste ano, em relação ao mesmo período de 2016. Lucian destaca ainda que cerca de 60% das motos compradas na loja são pagas à vista. 

À vista

Já as que são parceladas têm uma grande entrada e o restante é quitado em prazo curto, geralmente no cartão de crédito. E, além das motos, os clientes gastam até R$ 4 mil em acessórios.

“Apesar de ser uma marca centenária, a Triumph ainda é novidade no nosso mercado e isso é um atrativo”, diz o sócio-diretor da revenda.

Na Mares (M&Guia), loja feminina de roupas e artigos de luxo, a crise foi apenas uma pequena turbulência. Mas as perspectivas para o segundo semestre são muito positivas. 

De acordo com a gerente geral, Lelete Dos Mares Guia, no auge da crise, ela continuou comprando normalmente produtos de marcas como Fendi, Dolce&Gabbana, Stella McCartney e Dior, entre outras, para revender. 

“Se você não tem a mercadoria, o cliente não vem comprar”, explica Lelete, completando que, durante esta semana, o trunk show que a Dior promoveu na loja foi um sucesso.

No mercado imobiliário de alto padrão, os imóveis que custam de R$ 2 milhões para cima foram os responsáveis por manter o cenário estável. 

Na consultoria imobiliária Anuar Donato, o volume de empreendimentos comercializados caiu nos últimos cinco anos, mas o tíquete médio subiu, estabilizando o faturamento. 

Segundo o diretor comercial da empresa, Breno Donato, a empresa tem vendido, em média, 12 imóveis por mês, que custam entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões. 

Ele explica que os preços desse tipo de empreendimento se mantiveram estáveis justamente pela demanda ainda estar maior do que a oferta, já que as construtoras estão com os estoques reduzidos para aumentar a liquidez.

“A Anuar Donato conseguiu manter a solidez justamente por trabalhar com esse segmento de imóveis premium”, diz Donato.

Na construtora Conartes, focada nesse segmento, a crise provocou uma redução no ritmo de lançamentos, mas a estabilidade a médio prazo já coloca novos empreendimentos em perspectiva. 

No mês passado foi lançado um empreendimento no Vila da Serra com unidades a partir de R$ 2,2 milhões. Ainda neste semestre, será a vez de um lançamento no Funcionários. Ambos são focados no público acima de 40 anos com renda familiar superior a R$ 50 mil.
 


Além do preço, produtos agregam tradição e qualidade

A definição de produto premium vai além de uma mera questão financeira. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Luxo (Abrael), Freddy Rabbat, ele tem que agregar tradição, qualidade e até mesmo sustentabilidade. 

“Eu defino algo como premium quando ele vale a pena ser consertado. É um item que pode ser passado de pai para filho”, diz. 

Para Rabbat, é difícil quantificar quanto um item de luxo pode custar a mais do que um considerado normal, já que algo que inicialmente pode parecer caro, no futuro pode se mostrar um investimento que valeu a pena.

“Quantas canetas Bic você já comprou? Com o valor gasto, poderia ter comprado até uma caneta de ouro, que dura a vida inteira. O premium nunca é descartado e isso faz muita diferença”, exemplifica o executivo, que também é distribuidor no Brasil da marca suíça de relógios Tag Heuer.

Ilha

Para o professor de marketing do Ibmec Bruno Fernandes, o mercado de luxo consegue se manter em alta mesmo em tempos de crise porque os seus consumidores são os últimos a sentirem o efeito dela.

Mas para profissionais do setor, os produtos premium atraem por várias características além do preço. 

O empresário Manoel Bernardes, responsável pelo desenvolvimento de produtos da marca homônima mineira de joias e relógios, as compras de produtos premium, de alto valor, são emocionais, já que muitas vezes não há uma necessidade por esses artigos. Por isso, as marcas tradicionais conseguem superar com mais facilidade momentos de crise. 

“Trabalhamos com a percepção emocional. A marca tem que ter a capacidade de emocionar o consumidor, trazer vivências e lembranças. E isso não tem preço”, explica Bernardes.

Sem especificar números, ele afirma que o segmento de joias está tendo queda no Brasil, mas que a Manoel Bernardes tem conseguido se manter estável, o que ele considera positivo pela conjuntura atual.

Marcas caras também são cobiçadas pelas classes mais baixas 

O fato de um produto ser classificado como premium o torna cobiçado também pelas classes que não podem consumi-lo. Por isso, no Brasil, devido ao poder aquisitivo menor da maioria da população, essa categoria acaba sendo mais abrangente do que em outros mercados. 

“O que é considerado premium pela maioria é apenas trivial para quem pode comprá-la. O luxo tem que ser trabalhado de acordo com características geográficas, sociais e culturais”, explica o professor de Marketing do Ibmec Bruno Fernandes. Ele exemplifica que marcas consideradas luxuosas no Brasil, em outros países, não tem a mesma categorização. “A Toyota, por exemplo, nos Estados Unidos é carro popular”, afirma.

Para o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Luxo (Abrael), Freddy Rabbat, o luxo qualifica o produto e o consumidor, que se torna mais exigente, provocando progresso. “O luxo tem a ver com vontade de evoluir”, acredita. 

Rabbat diz que o Brasil é a última fronteira para as marcas de luxo e o mercado nacional é sonhado por todas as grandes empresas desse segmento. Mas ele afirma que o brasileiro “exporta” o consumo de produtos premium.

Viagem

“O brasileiro se acostumou a ter o seu momento de lazer e de consumo fora do país. Mesmo que o preço seja igual aqui ou lá fora. Precisamos entender que o brasileiro pode comprar aqui, na hora que quiser. Não precisa esperar uma viagem. Consumir aqui gera empregos e impostos”, defende o presidente da Abrael.

O professor de Marketing do Ibmec explica que a classe A – com renda familiar acima de R$ 18 mil – no Brasil é muito restrita e representa apenas 1% da população. E que os consumidores do mercado de luxo no Brasil seriam considerados elite em qualquer país do mundo. 

Para atrair cada vez mais esse público seleto, um dos desafios do setor é fazer com que os clientes de alta renda possam gastar ainda mais tostões no segmento premium por aqui. 

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