Mineradoras engavetam novos projetos e investem na redução de custos

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
15/11/2016 às 20:03.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:40

A queda no preço do minério forçou uma mudança de foco nos investimentos das mineradoras mineiras. Todos os investimentos “greenfield”, ou seja, a abertura de uma mina a partir do zero, foram engavetados. A corrida agora é pela otimização das operações já existentes, no aumento da capacidade produtiva e, principalmente, na redução dos custos. Esse último é o que garantirá a competitividade e sobrevivência das empresas e a operação das minas.

Se o minério de ferro já chegou ao patamar de quase US$ 200 a tonelada em meados de 2011, em 2015 chegou a custar menos de US$ 40. Em 2016, a commodity teve uma pequena recuperação de preços, girando entre US$ 50 e US$ 60 a tonelada.

Mas, apesar desse início de recuperação de preços, analistas do setor são unânimes em afirmar que não há chances de os tempos áureos retornarem. Com a demanda em desaceleração e a produção global ascendente, o valor de venda da matéria-prima deve ficar próximo de US$ 70 a tonelada, na melhor das hipóteses.

Essa previsão tem forçado um movimento de revisão dos custos nas minas brasileiras. Os projetos mais novos, como o S11D da Vale, na Serra Sul de Carajás, no Pará, possuem custos de produção já ajustados à nova realidade. Orçado em US$ 14,4 bilhões, o empreendimento traz minério de elevado teor de ferro (66,7%) e baixíssimos custos operacionais e logísticos. O esperado é que a primeira venda comercial da mina ocorra no primeiro trimestre de 2017, com perspectiva de que, no futuro, o custo do minério retirado da mina chegue a US$ 10. 

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Competitividade

Para uma mina nova, que abarca todas as novas tecnologias, alcançar esse patamar de preços já é um enorme desafio. Já para empreendimentos antigos, como os de Minas Gerais, é preciso muito investimento para se conseguir chegar ao menos num preço de produção que não inviabilize a operação. Em minas menos dispendiosas no estado, o custo para se produzir uma tonelada de minério de ferro gira em torno dos US$ 20. Mas há casos em que os gastos sobem aos US$ 45.

“A queda nos preços do minério de ferro exigirá uma modernização dos empreendimentos mineiros, que são antigos. Se no Pará o teor de minério supera os 60%, em Minas Gerais está abaixo de 40% em muitos casos. Lá eles não precisam de barragens, têm ferrovia e portos novos”, afirma o vice-presidente do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi), Ricardo Ruiz.

Mas as empresas mineiras têm tentado reverter esse quadro. “O objetivo agora não é abrir novas minas, até porque o mercado não está demandante. O esperado é ter preços competitivos”, afirma Ruiz.

A própria Vale conseguiu reduzir os custos e despesas operacionais em US$ 2,180 bilhões no acumulado entre janeiro e setembro frente ao mesmo período de 2015. O ganho equivale a 12,6% dos custos totais das operações. No ano, o esperado pela companhia é que esses custos fiquem entre US$ 15,6 bilhões e US$ 15,8 bilhões, o que representará queda de 31% frente aos US$ 22,7 bilhões apresentados em 2012.

Baixo retorno faz investimento sair dos planos no curto prazo

O último grande investimento feito na mineração em Minas Gerais foi o chamado Projeto Minas-Rio, da Anglo American. A operação está em fase de aceleração e tem capacidade para produzir 26,5 milhões/ano de toneladas de minério de ferro em Conceição do Mato Dentro. O minério é transportado pelo maior mineroduto do mundo (525 quilômetros de extensão). Mas, pelas dificuldades de tornar um empreendimento competitivo nas atuais condições de mercado, não há perspectiva de outra aposta desse porte no Estado tão cedo, avaliam especialistas.

O projeto Minas-Rio foi orçado inicialmente em US$ 4 bilhões, mas acabou custando à Anglo US$ 15 bilhões.

No papel

Já o projeto da Manabi, empreendido por engenheiros oriundos da Vale e finan[/TEXTO]ciado por fundos de pensão estrangeiros, que pretendiam investir R$ 6,5 bilhões na construção de um grande complexo minerário no município de Morro do Pilar, na Região Central, não teve a mesma sorte.

O projeto teve que enfrentar dois grandes problemas: a burocracia na liberação de licenças e o preço pouco atrativo do minério de ferro, que reduziu a perspectiva de retorno do empreendimento e acabou inviabilizando sua implantação.

Segundo o analista de mineração da consultoria tendências, Felipe Beraldi, como se não bastasse o preço, outro fator que pesa na redução dos investimentos em novas minas é a perspectiva negativa quanto à demanda mundial.

A China, que é a principal demandante do minério produzido no Brasil tem desacelerado o consumo e a perspectiva é que este siga em um ritmo lento, ao menos no médio prazo.

Infraestrutura

Para agravar o quadro, nem mesmo as perspectivas de investimentos na infraestrutura brasileira, por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs), refletirão positivamente sobre o segmento. Isso porque a grande demanda pelo minério brasileiro vem do mercado internacional.

“Quem poderia se beneficiar desse movimento é a siderurgia local”, afirma Beraldi.

Segundo o vice-presidente do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi), Ricardo Ruiz, até mesmo a participação relativa da mineração na economia mineira deverá ser reduzida nos próximos anos.

“Sem perspectivas de novos projetos de mineração em Minas Gerais, a atividade perderá relevância para o estado. Minas terá que crescer por outros caminhos”, afirma.

  

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