O idílico berçário de tubarões-martelo em Galápagos

Agência France Presse
29/01/2018 às 20:36.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:02
 (Pablo COZZAGLIO / AFP)

(Pablo COZZAGLIO / AFP)

Por milhões de anos, filhotes de tubarões-martelo cresceram em um berçário protegido por manguezais e recifes exuberantes nas ilhas equatorianas de Galápagos, a salvo da ameaça humana. 

Mas até novembro passado, os biólogos não faziam ideia de que os tubarões tinham seu próprio refúgio que poderia conter alguns dos segredos finais desse remoto arquipélago, localizado 1.000 quilômetros ao oeste da América do Sul.

"Foi por acaso que encontramos este berçário natural para filhotes de tubarões-martelo, uma espécie altamente ameaçada. É uma área única, de muito interesse para a conservação", explica à reportagem o biólogo Eduardo Espinoza, responsável de monitoramento de Ecossistemas Marinhos do Parque Nacional Galápagos.

Ainda impressionados pela descoberta, Espinoza e sua equipe estão voltando para o local, ao noroeste da ilha de Santa Cruz (uma das principais do arquipélago), em uma nova expedição para coletar dados e colocar dispositivos de rastreamento nos pequenos esqualos.

A viagem pitoresca leva os cientistas a passarem por tartarugas marinhas e praias de areia branca, onde iguanas-marinhas tomam sol e pelicanos enormes sobrevoam, antes de seu pequeno barco atravessar um canal estreito entre manguezais até um tanque natural raso e rochosa.

Perfeitamente visíveis na água, dezenas de pequenos tubarões de pele prateada, com um olho em cada extremidade de sua cabeça em forma de "T", deslizam mansamente entre outros peixes em busca de crustáceos, o alimento de seus primeiros anos.

"As fêmeas chegam para parir e vão embora. Os filhotes têm aqui disponibilidade de alimentos e estão protegidos, porque os recifes evitam a entrada dos grandes predadores", explica Espinoza, antes de lançar uma rede extensa.

Após um ou dois anos, quando crescem e precisam de mais alimentos, eles se dirigem para o oceano aberto e podem viajar por milhares de quilômetros, crescer até três metros de comprimento e viver até os 50 anos.

"Pit stop" para tubarões

O Parque Galápagos monitora há anos locais de criação e "marca" centenas de tubarões, uma espécie sagrada nesta reserva marinha de 138.000 km2 - a segunda maior do mundo -, declarada Patrimônio Natural da Humanidade.

Mas a descoberta destes pequeno tubarões-martelo é particularmente sensível, pois devido à sobrepesca e à captura ilegal, a espécie se encontra em risco de extinção, a dois níveis de ser considerada desaparecida, segundo a União Internacional para a Conservação da Naturaleza (UICN).

Algo que torna ainda mais delicada a operação de marcação.

"Tubarão ali, à direita!", grita um dos membros da equipe.

Nesse momento, tudo se torna frenético.

O capitão aproxima o barco da rede. Um dos assistentes segura o esqualo, de meio metro, e o coloca sobre uma mesa para que Espinoza e o resto da equipe o meçam, pesem, determinem o sexo e implantem o chip no dorso que servirá para conhecer seus hábitos e sua rota migratória.

Ao devolvê-lo à água, o reanimam movendo-o pela cabeça e pelo rabo até que deslize sozinho. 

"Não podem passar mais de dois minutos fora, porque necessita um fluxo constante de água para que não morram. É como um 'pit stop' em uma corrida de Fórmula 1", explica o biólogo.

Proteção extra

Para salvar o tubarão-martelo, também ameaçado por seu lento crescimento e sua baixa capacidade reprodutiva, o Equador criou, em março de 2016, uma proteção extra, um santuário de 38.000 km2 com banimento total de qualquer tipo de pesca no norte do arquipélago, entre as ilhas Darwin e Wolf, a zona com maior biomassa de esqualos do mundo.

Segundo José Marín, biólogo da Fundação Charles Darwin, uma ONG internacional de pesquisa científica, o Equador está fazendo "um esforço titânico" em matéria de conservação de tubarões, cujas barbatanas são cobiçadas na cozinha de países asiáticos.

"Estes estudos, às vezes com rastreamento por satélite, podem nos alertar onde estes tubarões estão sendo pescados quando saem da reserva marinha e permitem avisar a outros países para que possamos protegê-los mais", explica à reportagem. 

Em agosto, um barco de bandeira chinesa foi capturado na reserva marinha de Galápagos com 300 toneladas de pesca, que incluíam exemplares desta espécie.

A justiça equatoriana, que prevê penas muito graves para os delitos ambientais, condenou o capitão e seus ajudantes a três anos de prisão, e multou os donos do barco em seis milhões de dólares.

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