Quarteto de diálogo nacional da Tunísia vence Nobel da Paz 2015

AFP
09/10/2015 às 06:31.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:59
 (AFP)

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O Quarteto do Diálogo Nacional tunisiano recebeu nesta sexta-feira o prêmio Nobel da Paz "por sua contribuição decisiva para a construção de uma democracia pluralista" na Tunísia, após a revolução de 2011 que derrubou o  regime de Ben Ali.

"O Quarteto se formou em meados de 2013, num momento em que o processo de democratização corria perigo devido aos assassinatos políticos e aos importantes distúrbios sociais", destacou em Oslo a presidente do comitê Nobel norueguês, Kaci Kullmann Five.

"O prêmio pretende, acima de tudo, encorajar o povo tunisiano que, apesar dos grandes desafios, estabeleceu as bases de uma fraternidade nacional que, segundo espera o comitê, servirá de exemplo para outros países", acrescentou.

O grupo, composto pela União Geral Tunisiana de Trabalho (UGTT), sindicato histórico da Tunísia e símbolo da independência, pela patronal Utica, pela Liga Tunisiana de Direitos Humanos (LTDH) e pela ordem dos advogados, organizou um longo e  complicado diálogo nacional entre os islamitas e seus opositores, obrigando-os a tirar o país de sua paralisia institucional.

O Quarteto lançou "um processo político alternativo, pacífico, num momento em que o país estava à beira da guerra civil", lembrou o comitê.

Seu papel foi crucial para permitir que a Tunísia "estabelecesse um sistema constitucional de governo que garantisse os direitos fundamentais para o conjunto da população, sem distinções de sexo, convicções políticas ou crenças religiosas", explicou.

O prêmio Nobel da Paz é "uma homenagem aos mártires da Tunísia democrática", declarou nesta sexta-feira o secretário-geral do sindicato UGTT, Houcine Abassi.

"Este esforço de nossa juventude permitiu que o país virasse a página da ditadura", acrescentou Abassi. As reações da comunidade internacional não demoraram a chegar.

A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, celebrou a escolha do comitê Nobel, ressaltando que "mostra o caminho para resolver as crises na região".

"O Nobel da Paz ao Quarteto do Diálogo Nacional tunisiano mostra o caminho para resolver as crises na região: unidade nacional e democracia", escreveu Mogherini em sua conta do Twitter.

Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, felicitou o quarteto premiado, enquanto Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, disse que o prêmio era "amplamente merecido".

A comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmstrom, que anunciou nesta semana uma viagem à Tunísia no âmbito das negociações de um acordo comercial com a UE, estimou que o prêmio era "bem merecido".

"O caminho tunisiano em direção à democracia foi uma fonte de inspiração e esperança para todos nós", disse Malmstrom à AFP.

Já o presidente francês, François Hollande, declarou que o Nobel da Paz ao grupo "consagra o êxito da transição democrática" na Tunísia.

Turistas atacados

A Tunísia realizou em dezembro as primeiras eleições presidenciais democráticas de sua história, que deram a vitória a Beji Caid Essebsi, um antigo funcionário dos regimes de Habib Bourguiba e Zine El Abidine Ben Ali, e que prometeu virar a página do  autoritarismo.

Mas o país, que pode se gabar de uma transição exemplar, segue debilitado pelos atentados islamitas.

Um atentado no museu do Bardo, em março na capital, deixou 22 mortos, e três meses depois, em junho, um ataque deixou 38 mortos em um hotel frequentado por turistas estrangeiros em Sousse (leste). Os dois atos foram reivindicados pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI).

Um deputado do Nidaa Tounès, a primeira força política do país, sobreviveu na quinta-feira a uma tentativa de assassinato em Sousse.

Em Oslo, o comitê Nobel ainda não havia conseguido contactar os premiados após o anúncio desta sexta-feira, e ignorava quem irá receber o prêmio.

O Quarteto sucede a adolescente paquistanesa Malala e o indiano Kailash Satyarthi, que receberam o Nobel da Paz de 2014 por seu trabalho a favor da infância.

Os vencedores receberão seus prêmios em uma cerimônia que será realizada em Oslo no dia 10 de dezembro, data do aniversário da morte em 1896 do criador do prêmio, Alfred Nobel, cientista e filantropo sueco.

Receberão uma medalha de ouro, um diploma e um cheque de oito milhões de coroas suecas (860.000 euros, 973.000 dólares).

A temporada dos prêmios termina na segunda-feira com o Nobel de Economia.

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