Técnica faz fígado durar mais tempo antes de transplante

Folhapress
29/06/2014 às 20:52.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:12

Usando um coquetel especial de substâncias e aparelhos modernos, pesquisadores nos EUA conseguiram ampliar um bocado a vida útil de fígados para transplante. Três dias após a obtenção dos órgãos de ratos, outros roedores os receberam, e todos os animais sobreviveram.   Se o protocolo desenvolvido pela equipe do Hospital Geral de Massachusetts puder ser aplicado em seres humanos, o avanço na tentativa de diminuir a escassez de órgãos para transplante será significativo, uma vez que o tempo máximo entre a retirada do órgão e o transplante hoje é de cerca de 12 horas.   O estudo, coordenado por Korkut Uygun, cientista nascido na Turquia, será publicado na revista científica "Nature Medicine". Na verdade, a equipe conseguiu sucesso parcial até com transplantes feitos após quatro dias de preservação dos fígados: nesses casos, pouco mais da metade dos roedores transplantados sobreviveu.   No protocolo, Uygun e companhia usaram duas substâncias, uma para preservar a camada externa do órgão e outra que protegeu o interior das células do fígado. Antes do transplante, os fígados passaram um tempo numa máquina de perfusão (usada para manter a circulação sanguínea e transferir o coquetel de substâncias) e foram cuidadosamente resfriados, num processo conhecido como "supercooling", ou super-resfriamento.   Anfíbio   Por estranho que pareça, uma das inspirações cruciais para o sucesso do trabalho foi o metabolismo de uma espécie de rã das florestas canadenses, a Rana sylvatica. Elas produzem altas quantidades de glicose (açúcar) em suas células, o que lhes dá tolerância ao congelamento.   "Acredita-se que a substância ajude a estabilizar as membranas dentro e fora das células", explica Uygun. "Essas rãs conseguem aumentar seus níveis de glicose intracelular, enquanto os humanos e muitas outras espécies não conseguem. Usamos um derivado de glicose que se acumula nas células de mamíferos, mas não é metabolizado ["digerido" pela célula], e que parece trazer benefícios parecidos."   Outro ponto importantíssimo é o próprio processo de super-resfriamento, que permitiu que os fígados dos roedores ficassem numa temperatura de 6 graus Celsius negativos sem congelarem como um pedaço de carne no freezer.   Uygun lembra que o processo da transformação da água líquida em gelo não é algo uniforme, que termina de vez quando se atinge 0 grau Celsius. "Em outras palavras, a formação de gelo é um processo semialeatório, que pode ser evitada, até certo ponto, com algum cuidado", diz ele. Com a ajuda de certos aditivos químicos e a diminuição lenta da temperatura, a uma taxa controlada, o feito se tornou possível.   Apesar dos bons resultados, os pesquisadores deixam claro que há uma série de desafios antes que a técnica seja aplicada em pessoas.   As principais dúvidas têm a ver com a diferença de tamanho entre os fígados de roedores e os de humanos. Em órgãos maiores, há muito mais líquido que deverá passar pelo processo de super-resfriamento, o que aumenta a probabilidade de formação de cristais de gelo e de danos ao órgão, por exemplo. Por isso, o próximo passo será testar a técnica em animais de laboratório que sejam de maior porte.

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