'O PSDB terá que repensar, se refundar', diz Alex de Freitas, prefeito de Contagem

Filipe Motta
fmotta@hojeemdia.com.br
16/06/2017 às 19:31.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:07
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

O prefeito de Contagem, Alex de Freitas, desponta como nova liderança política em Minas em um cenário em que os principais caciques são envolvidos em denúncias de corrupção.

Integrante do PSDB, mesmo partido do senador Aécio Neves, Alex de Freitas foi sondado por outras legendas para construir a carreira longe dos holofotes que assolam o ninho tucano. Mas garante lealdade à sigla.

No primeiro cargo executivo que exerce, ele tem planos de fazer o que muitos não conseguiram: ampliar o metrô é um deles. Também pretende leva empresas a investirem em Contagem. Alex de Freitas conta sobre os projetos em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia.

O senhor caminha para o PSB?
Fui filiado ao PSB e tenho uma relação extremamente fraterna com os dirigentes. Recebi convites, recebo de outras legendas também. Mas o PSDB me abrigou, me deu condições de ser candidato e defender um projeto. Sigo sendo leal ao partido. Saímos com uma dívida de campanha que foi assumida pelo partido. O PSDB vai ter que repensar, se refundar. O momento agora é para que as lideranças encarregadas de refundar o partido pensem nisso.Na hora que precisarem, vou emitir minhas opiniões.

Como o IPTU interfere no cenário econômico da cidade?
É o que tem ajudado. Nossa previsão de receita nova com o IPTU não supera R$ 45 milhões em 2017, num orçamento de R$ 1,8 bilhão. Mas a cidade entraria em colapso sem ele. O município, por exemplo, não dava reajuste aos servidores há três anos. O mínimo que conseguimos fazer, para que não extrapolássemos o limite prudencial da folha de pagamento, foi concedendo 4,5% de aumento, o que representa, ao longo do ano, algo em torno de R$ 55 milhões. Para o ano que vem, há expectativa de ampliação da arrecadação a partir do mapeamento aéreo da cidade e sistematização da Receita Municipal. Mas a renúncia do IPTU, ao longo de 27 anos, representou algo entorno de R$ 3 bilhões.

Mas a resistência da população continua...
Acho natural e não acabou. Há uma falta de compreensão da população, porque tudo isso foi muito explorado politicamente. Tenho uma avaliação tranquila, porque o limite de atuação do governante é a lei e, nesse caso, o Ministério Público demorou, mas entrou no jogo e acertou. Ao tomar conhecimento da questão, embora eu não tivesse poder para interferir, fui consultado e tomei conhecimento do procedimento preparatório feito pelo Ministério Público de Contas e notamos que ele estava coberto de razão. A lei foi aprovada pela Câmara, promulgada e não resta alternativa que não seja cumprí-la ou responder criminalmente.Flávio Tavares

“Há uma falta de compreensão da população (ao IPTU), porque tudo isso foi muito explorado politicamente. Tenho uma avaliação tranquila, porque o limite de atuação é a lei”

Em que pé está a expansão do metrô?
Os estudos da Metrominas e da CBTU para mais três estações em Contagem apontam o custo de R$ 600 milhões a R$ 650 milhões. Contagem topa arcar com um terço. Estamos mobilizando o governo estadual, que já sinalizou positivamente, e o governo federal. Parte disso pode ser fruto inclusive de Parceria Público-Privada (PPP). Há estações bem sucedidas nesse modelo, como a Vilarinho, em BH. É um assunto que demanda debate e ajuste entre os três entes federados. E, neste caso, até mais: é preciso avançar no debate com o governo de Belo Horizonte para que tenha mais peso.

Falta abertura de BH?
Por enquanto, sim. Mas sigo otimista, porque é uma pauta que interessa a BH e, por isso, tem de interessar ao prefeito. É tão ou mais importante para BH, pois desafoga o trânsito completamente. Tenho certeza que, mais dia menos dia, o prefeito de BH e eu vamos construir uma agenda, juntos com o governador do Estado, para sensibilizarmos o governo federal e trazermos o metrô. Mas pelo menos uma das estações, que é a Novo Eldorado, estou muito disposto a tocar sozinho.

Contagem vinha enfrentando grandes problemas na área da saúde. Qual o cenário atual?
Saúde é motivo de grande preocupação, mas também de avanços. No melhor mês do ano passado, o complexo hospitalar atendeu perto de 700 pessoas, entre atendimentos, internações e pequenas cirurgias. Fechamos este mês de maio com 1.400, reorganizando espaços e fazendo gestão. A atenção básica e primária ainda é um problema que vamos enfrentar, o que exige replanejamento.

Como isso é possível?
Estamos evoluindo para um termo de cooperação com o governo português, em que eles irão ceder avanços tecnológicos e de pactuação, principalmente na gestão informatizada. A sessão dessa tecnologia passará por um processo de adaptação da nossa legislação e linguagem, mas é um avanço. Outra questão é a requalificação dos espaços. Era tudo muito sucateado.

E o número de leitos na cidade?
Nosso complexo hospitalar, para uma cidade de 700 mil habitantes, não tem paralelo – é um caso maluco, embora a proximidade com BH seja o grande responsável por isso. Nós encontramos menos de 200 leitos num município de 700 mil habitantes. Seria necessário no mínimo 1.500 leitos. Para comparação, Juiz de Fora tem 1.200 leitos do SUS.Flávio Tavares

“Fui filiado ao PSB e tenho uma relação extremamente fraterna com os dirigentes. Recebi convites, recebo de outras legendas. Mas o PSDB me abrigou”

Há investidores que desistiram de investir na cidade por conta da crise?
Não. Temos uma agenda com 35 grandes e médias empresas dispostas a investir. Estive em Portugal e, na mesma semana, uma parte da nossa equipe esteve na China. O governo chinês irá trazer uma missão no segundo semestre à cidade com investidores.

São empresas de que setores?
Há uma empresa que fabrica motores elétricos, por exemplo. Mesmo investidores nacionais tradicionais que seguem fazendo sondagem, do setor de construção, de transporte.

O senhor pode citar nomes?
Precisamos manter a confidencialidade. Posso garantir que pelo menos 35 empresas trabalham com perspectivas de instalação ou ampliação de plantas na cidade. Estamos fazendo grande esforço para afastar a burocracia, que era uma coisa que as pessoas reclamavam, e modernizar a legislação, dar transparência e celeridade. Volto à França em outubro para dar uma aula magna na Sorbonne e assinar um acordo para eles treinarem nossos profissionais nas áreas de administração e educação.

Quais os seus planos para a educação?
Além do investimento em educação integral, haverá a construção de prédios para educação infantil, com o mesmo padrão de Belo Horizonte, que deu certo, no formato de Parcerias Público-Privadas (PPPs).

Quando será lançado o edital da PPP?
Provavelmente entre agosto e outubro.

Quantas unidades?
Ainda estamos fazendo o levantamento. Mas além disso estamos considerando a reforma dos prédios já existentes na Educação, também via PPP. São mais de 150 prédios, 74 deles muito grandes.

Além das UMEIs haverá outras PPPs?
Pelo menos seis estão sendo consideradas. Encontramos uma que estava mal feita e conduzida, de iluminação; a da educação; a do transporte coletivo; da saúde – avança na ideia de gestão compartilhada, que é um pouco de diferente de PPP; a dos cemitérios e serviço funerário; e a do centro administrativo.

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