Os juros do cartão de crédito nas mãos de um grupo que impõe as regras do mercado

Do Hoje em Dia
24/07/2012 às 06:31.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:47

Segundo maior banco privado do país, o Bradesco divulgou ontem seu balanço do segundo trimestre com lucro líquido de R$ 2,83 bilhões. Um aumento de 1,7% sobre o mesmo período de 2011. A inadimplência cresceu meio ponto percentual, mas não preocupa, pois as dívidas não pagas há pelo menos 90 dias atingem apenas 4,2% da carteira de crédito de R$ 365 bilhões (alta de 14,1%). Não se informou quanto dessa inadimplência se deve aos cartões de crédito, que cobram os juros mais altos do mundo, em caso de atraso de pagamento.

Este banco se aliou ao Banco do Brasil, maior banco estatal, para compartilhar, com 57,3% das ações, o controle da Cielo. Por sua vez, o maior banco privado, o Itaú, controla com 50,01% das ações, a Redecard. Juntas, Cielo e Redecard detêm cerca de 90% do mercado de credenciamento de cartões no Brasil. É um oligopólio sob o controle dos três maiores bancos do país, que faz o processamento e a liquidação financeira das transações de crédito e débito de Visa e Mastercard. Tem cacife suficiente para inibir a concorrência e impor as regras do mercado, começando pelos altos juros cobrados dos clientes que atrasam o pagamento.

Como em todo oligopólio que age livremente no mercado, sem restrições das autoridades, o maior sacrificado é o consumidor.

Pesquisa recente da Proteste, associação de consumidores, comprovou que os cartões de crédito continuam cobrando taxas anuais de 323% em média, depois da queda da Selic, a taxa básica de juros da economia. É a maior taxa da América Latina. A segunda maior é a do Peru, de 55%, ou um sexto da nossa. Essa é uma das causas do endividamento dos brasileiros – e também dos grandes lucros dos maiores bancos.

O problema chega às páginas dos jornais. Vão se rompendo as barreiras do silêncio, mas ainda não a subserviência de governantes, parlamentares e juízes aos interesses do sistema financeiro.
Neste domingo, o jornal “Folha de S. Paulo” escreveu: “Juros do cartão de crédito e de empréstimos pessoais ultrapassam o aceitável e precisam ser ajustados à nova realidade nacional.”

É importante essa referência aos juros de empréstimos pessoais, no momento em que se tenta induzir consumidores a recorrerem aos bancos, em busca desses empréstimos – que também cobram juros de agiotas – para pagarem suas dívidas com os cartões de crédito.

A defesa dos consumidores não pode ser deixada a tais conselheiros interessados. O governo precisa começar a agir.

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