Oxfam revela plano de ação após escândalo sexual

Agence France Presse
16/02/2018 às 12:18.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:23
 (Andy Buchanan / AFP)

(Andy Buchanan / AFP)

A Oxfam revelou nesta sexta-feira (16) um plano para atacar os problemas de assédio sexual na organização, uma semana depois da revelação por parte da imprensa britânica de que vários funcionários da ONG contrataram prostitutas no Haiti após o terremoto de 2010.

A organização anunciou a criação de uma comissão que "trabalhará à distância da Oxfam" e que terá acesso aos registros da ONG e de seus funcionários, que serão entrevistados para a identificação dos abusos.

"O que aconteceu no Haiti é uma mancha sobre a Oxfam, que nos envergonhará durante anos, e com razão", declarou a diretora-executiva da Oxfam Internacional, Winnie Byanyima.

"Imploro o perdão, de todo coração", completou.

A Oxfam triplicará o financiamento dos programas de proteção - que superará assim a quantia de US$ 1 milhão - e vai dobrar os número de funcionários no departamento, ampliando o investimento na formação sobre questões de gênero.

"Vamos criar um sistema de verificação", disse Winnie à rede BBC.

"Convido realmente qualquer pessoa que tenha sido vítima de abusos em nossa organização a se identificar", completou.

A Oxfam realizou uma investigação interna em 2011, que provocou a demissão de quatro funcionários, enquanto três deles foram autorizados a pedir demissão, incluindo o então diretor da organização para o Haiti, Roland van Hauwermeiren.

Na quinta-feira, o belga rejeitou parte das acusações contra ele.

"Nunca entrei em um prostíbulo, boate, ou bar" no Haiti, afirmou este belga, de 68 anos, ao site da emissora de televisão belga VTM Nieuws.

A ONG negou falta de transparência na gestão do escândalo haitiano, que provocou a fuga de muitos colaboradores e levou o governo britânico a ameaçar suspender os subsídios para as organizações que dissimulam escândalos sexuais.

O escândalo já provocou a demissão da diretora-adjunta da Oxfam, Penny Lawrence, e o afastamento do ex-bispo sul-africano Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz 1984, que renunciou a seu cargo de embaixador da ONG britânica. A atriz britânica Minnie Driver e o cantor do Senegal Baaba Maal também se afastaram.

Investigação 
A organização humanitária não transmitiu as denúncias sobre a contratação de prostitutas às autoridades haitianas no momento de sua investigação, mas, nesta sexta-feira, informou que os nomes da pessoas envolvidas foram comunicados desde então.

O governo do Haiti garantiu que abrirá sua própria investigação.

A Oxfam também foi acusada de ter deixado que pessoas supostamente envolvidas possam ser admitidas em outras ONGs, sem advertência prévia.

Em 2004, Roland Van Hauwermeiren foi alvo de uma ação por abuso sexual, quando estava na Libéria com a ONG britânica Merlin. Depois da Oxfam, passou pela ONG francesa Action contre la Faim (ACF), em Bangladesh. A ACF lamentou não ter recebido qualquer advertência sobre o funcionário.

A Oxfam publicará os resultados de sua investigação interna, retirando os nomes das testemunhas, assim como os relatórios da nova comissão.

"Devemos assegurar que qualquer pessoa culpada de comportamento tão grave não possa circular de uma organização humanitária para outra, expondo mais pessoas vulneráveis a outros riscos", declarou Winnie Byanyima. 

Um homem envolvido no escândalo no Haiti foi contratado pela organização CAFOD, que o demitiu na quarta-feira.

De acordo com a organização humanitária católica, o funcionário tinha uma carta de recomendação procedente de uma pessoa que afirmava ter sido seu supervisor na Oxfam.

 Quantos casos? 
As primeiras revelações sobre o Haiti levaram a outras sobre abusos em outros países. Vários funcionários da Oxfam foram acusados de estupro durante missões humanitárias no Sudão do Sul e de abusos sexuais na Libéria.

Também nesta sexta, a Oxfam disse que "investiga" acusações de abuso sexual que teriam ocorrido em 2013 nas Filipinas.

"Não tenho como saber quantos (casos são), porque temos de investigar", afirmou Winnie Byanyima, garantindo que "a maioria" dos dez mil funcionários da ONG em todo mundo é composta de "pessoas de valor".

A Oxfam pretende criar um banco mundial de dados homologados, para evitar recomendações falsas, ou não confiáveis, que viriam, supostamente, de diretores da ONG.

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