Polêmica, Reforma da Previdência leva trabalhadores às ruas de todo o país hoje

Felipe Motta e Paula Coura
primeiroplano@hojeemdia.com.br
14/03/2017 às 22:27.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:44

Uma série de categorias paralisa hoje as atividades em Belo Horizonte e em pelo menos 23 estados contra o projeto de Reforma da Previdência proposto pelo governo Michel Temer (PMDB) e que prevê alterações polêmicas no regime de aposentadoria dos trabalhadores.

Na capital e na Grande BH, metroviários prometem cruzar os braços durante todo o dia, mesmo com a determinação do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) para que operem em escala mínima. Profissionais da rede estadual de educação entram em greve e cerca de 20 faculdades e grandes escolas particulares, como PUC, Fead e os colégios Santo Antônio, Magnum, Santo Agostinho e Dom Silvério, não terão profissionais atuando.

A paralisação envolve ainda Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) de Belo Horizonte , o Samu e o Hospital Odilon Behrens, que funcionarão com 30% da capacidade, bem como as escolas municipais da capital, de Betim, Contagem e Ribeirão das Neves. Os funcionários dos Correios também devem parar, a exemplo dos da Cemig, da Copasa e de profissionais que atuam na Petrobras em Betim e Ibirité.
As polícias Civil e Militar mantêm as atividades.

Programação
A partir das 9 horas haverá concentração dos trabalhadores na Praça da Estação. De lá, eles seguirão em marcha para a Praça Sete e, na sequencia, para Assembleia Legislativa onde, às 14 horas, haverá um debate público sobre as alterações nas regras de aposentadoria no país.
Cidades do interior do Estado, como Montes Claros, Uberlândia, Juiz de Fora também terão atos no dia de hoje.

Mais pela frente
A possibilidade é que o movimento de hoje se repita nos próximos meses, à medida que a proposta da reforma previdenciária avance no Congresso. “Haverá a intensificação das lutas até quando for necessário”, afirmou a presidente da Central Única dos Trabalhadores em Minas Gerais (CUT-MG), Beatriz Cerqueira, que também preside o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-Ute), em coletiva de imprensa que reuniu sindicatos e movimentos sociais na tarde de ontem.

Os trabalhadores da educação estadual seguirão em paralisação e farão uma avaliação do movimento no dia 25 de março.

Sobre a adesão inédita de profissionais da educação privada, Valéria Morato, do Sinpro, sindicato da categoria, afirma que professores poderão ser “duramente” afetados pela reforma, independentemente da área. Ela pontua que hoje, em média, os profissionais se aposentam aos 50 anos, devido ao grande desgaste físico e psicológico da atividade e que, pela reforma, precisariam passar 49 anos na ativa.

“Houve o entendimento que o momento é de ocupar as ruas. É nossa responsabilidade barrar a Reforma da Previdência, inclusive pelos pais dos nossos alunos e pelo futuro dos nossos estudantes”, pontua Morato.

MST ameaça invadir uma fazenda para cada voto favorável


O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ameaça invadir propriedades de parlamentares que votarem a favor da reforma previdenciária. “Ainda está em tempo de retirarem de pauta essa maldita proposta. Se eles querem tirar o direito do trabalhador, não venham nos pedir para respeitar o direito à propriedade privada. Para cada voto pela reforma, vai ter um cadeado (de fazenda) rompido”, afirmou Sílvio Cardoso Neto, liderança do MST em Minas, em ato ontem sobre a paralisação de hoje.

Neto afirmou que o MST pode considerar a invasão mesmo de propriedades de deputados que cumpram o seu papel social e que elas serão repartidas entre os trabalhadores sem terra.

O tom contrário à reforma foi pontuado pela presidente da CUT-MG, Beatriz Cerqueira, para quem o Congresso segue numa linha de aprovação de várias reformas (previdenciária, trabalhista, PEC do Teto dos Gastos) sem legitimidade para tal. “Esse Congresso não foi eleito com poderes constituintes, que é como ele vem atuando”, disse.

Romeu Machado Neto, dos metroviários, também criticou a regulamentação da terceirização do trabalho que, como trouxe o Hoje em Dia na edição de ontem, também deve ser votada nos próximos dias na Câmara. “A gente quer que a população entenda nossa paralisação. Sei que ela afeta os trabalhadores que não poderão parar nesta quarta, mas a situação é muito preocupante”.

Ação
A CBTU entrou com uma ação para tentar fazer com que os metroviários cumprissem uma escala mínima. De acordo com a CUT, até as 19 horas de ontem ainda não havia uma posição do Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) também tentou suspender a greve dos metroviários no estado com o ingresso na Justiça. “Não tem razão paralisar um sistema de metrô que transporta 5milhões de passageiros, porque é contra e quer mudar a reforma”, disse.

SAIBA MAIS

A Reforma da Previdência proposta pelo governo prevê, entre outros pontos, idade mínima de 65 anos para aposentadoria, altera o tempo de contribuição e modifica o cálculo para obter direito ao benefício. Para o presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Fiemg Lincoln Gonçalves, as alterações são fundamentais, já que 68% do dinheiro do Tesouro Nacional é gasto para pagamento das dívidas da União ou com a Previdência, que é o segundo maior gasto do governo.

“As grandes alterações na reforma previdenciária atingem os altos salários, não os trabalhadores em geral, com exceção da idade mínima para se aposentar. Os altos salários, por exemplo, não são legítimos, assim como a aposentaria dos militares no Brasil, que é um caso gravíssimo que precisa ser revisto”, disse.

  

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