Candidatos em Belo Horizonte gastaram de R$ 0,31 a R$ 35,95 por eleitor para chegar à Câmara

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
04/10/2016 às 07:55.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:05
 (Reprodução/ Facebook)

(Reprodução/ Facebook)

A eleição para vereador em Belo Horizonte custou a cada eleito uma média de R$ 88,2 mil. No entanto, em alguns casos, candidatos com pouco recursos para a campanha conseguiram mais votos do que outros que tinham dinheiro de sobra para investir.

Um exemplo claro é o da candidata Áurea Carolina (PSOL). Com R$ 53,2 mil disponíveis para toda a campanha, a primeira colocada na capital recebeu 17,4 mil votos. Considerando-se esse orçamento, o “custo” de cada voto conseguido pela futura vereadora foi R$ 3. 

Já Wellington Magalhães (PTN), atual presidente da Câmara e terceiro candidato mais votado em BH, contou com R$ 411,5 mil e recebeu 13,1 mil votos. O custo de cada voto para ele se reeleger foi de R$ 31,20, valor dez vezes maior do que o da primeira colocada nas urnas.

Extremos
Um abismo separa o custo de cada voto obtido entre o estreante na Câmara Osvaldo Lopes (PHS) e o também novato Doorgal Andrada (PSD).

O primeiro conseguiu a façanha de se eleger gastando exatos R$ 943,68 na campanha. Na ponta do lápis, é como se cada um dos pouco mais de 3 mil votos que ele recebeu tivesse custado R$ 0,31.

Na outra ponta, Doorgal Andrada (PSD) teve R$ 259,9 mil disponíveis para a campanha e conseguiu converter o orçamento em cerca de 7 mil votos. Um custo médio de R$ 35,96 por voto ou 116 vezes maior do que o do candidato Osvaldo Lopes.

Defensor da causa animal, o vereador do PHS é empresário do ramo de alimentos e seguros e usou as redes sociais para divulgar a candidatura. Ele afirma não ter colocado um centavo do próprio bolso na campanha. No Facebook, Osvaldo possui um grupo de ajuda aos bichos desde 2011: o Corente do Bem pelos Animais (CBA).

Somados, os 41 vereadores eleitos em BH gastaram R$ 3,6 milhões nas campanhas. Considerando que, juntos, eles conseguiram 287,1 mil votos, o custo médio de cada voto foi de R$ 12,60. Na comparação com as eleições de 2012, quando o custo médio para cada candidato foi de R$ 204,4 mil, o valor por vereador caiu mais da metade (56,8%). Em 2016, a campanha com maior orçamento foi a do vereador Wellington Magalhães, com R$ 411,5 mil. 

A redução de custos está atrelada à diminuição do teto de gastos para as campanhas dos vereadores depois da reforma eleitoral ocorrida em 2015. Neste ano, cada vereador tinha como limite R$ 607,6 mil.

Especialista avalia que custo de campanha permanece alto
O método de distribuição das cadeiras para vereadores no modelo de eleições proporcionais ainda gera dúvidas em muitos eleitores. Mas é justamente esse cálculo, chamado quociente eleitoral, que permite que candidatos com menos votos possam ser inseridos dentro das 41 vagas da Câmara Municipal, enquanto candidatos com votações mais expressivas não são eleitos.

Nesse modelo, são priorizados os partidos e coligações com mais votos e, a partir daí, as vagas são distribuídas entre os mais votados de cada partido.

O quociente eleitoral é fruto da divisão dos votos válidos (excluindo os brancos e nulos) pela quantidade de cadeiras a serem ocupadas.

Dessa forma, a soma dos votos do candidato e dos votos da legenda é dividida pelo quociente eleitoral. Com a quantidade de vagas definida para as coligações, os candidatos são alocados nas cadeiras da Câmara Municipal mediante o número de votos conquistados.

Isso explica o fato de o candidato Osvaldo Lopes (PHS) ter sido eleito com 3.018 votos, ao passo que o candidato Coronel Piccinini (PSB), com 7.294 votos, não conseguiu se eleger.

Mudanças
O cientista político e professor da PUC Minas Malco Camargos explica que o problema do modelo adotado pelo Brasil é que ele mantém os gastos de campanha em patamares elevados.

Para ele, mesmo com a alteração na forma de financiamento (com a proibição das doações vindas de empresas), os gastos de campanha não foram reduzidos efetivamente.

“O principal modelo no qual o Brasil poderia se espelhar é o alemão, chamado de voto distrital misto. Nesse modelo, há um mistura entre o quociente eleitoral que já adotamos e a votação realizada em distritos eleitorais”, explica.

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