Grampo revela cobrança de mesada no Bolsa Família

Ezequiel Fagundes - Hoje em Dia
24/11/2014 às 07:06.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:08
 (Operação Curinga/Polícia Federal)

(Operação Curinga/Polícia Federal)

Um grampo da operação “Curinga”, da Polícia Federal (PF) em Minas, reforça a tese de pagamento de mesada a integrantes da “organização criminosa” que montou um esquema de compra de votos no Norte de Minas.

Além de exigir contribuições de pessoas que conseguiram se aposentar com auxílio da “quadrilha”, conforme o Hoje em Dia mostrou ontem, interceptação telefônica levanta a suspeita de cobrança de valores do Bolsa Família.

No diálogo, gravado com autorização do juiz Henrique Gouveia da Cunha, o vereador Geraldo Ladim (PT), de Monte Azul, é flagrado conversando com a professora C. F. C., que solicita que o petista vá até a casa de sua mãe para buscar dinheiro.

A interlocutora C. F. C., segundo relatório de inteligência da investigação, é filha de C. F. B. C., servidora do município, que está na lista de beneficiados do Bolsa Família.

O documento da PF não faz menção se C. F. B. C. se enquadra no perfil de renda para recebimento do auxílio (renda familiar per capita inferior a R$ 70 mensais). “Cê vai na casa da mãe pra buscar o dinheiro, viu?”, diz a professora. “Tá”, responde Ladim.

Curinga 2

Durante a última semana, o Hoje em Dia apurou com fontes da investigação que uma segunda fase da operação “Curinga” deverá ser desencadeada para apurar os indícios de irregularidades em programas do governo.

Além de exigir repasses do Bolsa Família, a quadrilha é suspeita de “montar” processos de concessão de benefícios previdenciários, muitos deles irregulares, e de posteriormente cobrar mesadas dos novos aposentados.

O dinheiro desviado ia para o caixa do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Monte Azul, entidade dominada pelo vereador Ladim, pela presidente da Câmara Municipal da cidade, Marineide do Sindicato (PT), e pelo vice-prefeito Toninho da Barraca (PT).

Os três petistas foram flagrados em várias interceptações telefônicas intermediando a concessão de favores em troca de apoio político para os candidatos da coligação do PT. Combustível, transporte, material de construção, aposentadorias, cirurgias e dentaduras foram distribuídos para eleitores de Monte Azul.

Indiciados pelos crimes de formação de quadrilha, peculato, estelionato, fraude previdenciária e falsidade ideológica, Ladim, Marineide e Toninho apoiaram as campanhas dos deputados petistas Paulo Guedes e Reginaldo Lopes, os mais votados no Estado para Assembleia e Câmara Federal, respectivamente.
Segundo o inquérito, não há evidências do envolvimento dos deputados com as fraudes, mas as campanhas deles acabaram sendo beneficiadas. Já os deputados alegam que não têm condições de controlar todos os aliados no Estado. 

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