Incra teria negociado para 'salvar' fazenda

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27/07/2017 às 10:18.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:46
 (MST/Divulgação)

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Duas semanas após a Frente Nacional de Luta (FNL) desocupar a Fazenda Esmeralda, em Duartina (SP), do coronel da reserva João Baptista Lima Filho, amigo e ex-assessor do presidente Michel Temer, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) passou a negociar a transferência da Fazenda Santo Antonio, em Bauru (SP), para os sem-terra. O caso levantou suspeita de tráfico de influência - o Incra teria cedido à pressão da FNL em troca da desocupação do imóvel do amigo de Temer.

O presidente do Incra, Leonardo Góes Silva, se encontrou com um dos líderes da FNL, José Rainha Júnior, em Bauru, em 14 de junho de 2016 para discutir a transferência da Santo Antonio, segundo o jornal El País. A Esmeralda havia sido invadida em 23 de maio. Uma semana após a ocupação, Temer recebeu Rainha no Planalto. Um procurador da República ouvido pelo jornal viu nos fatos indícios de tráfico de influência.

A Santo Antonio, que teria sido oferecida pelo Incra em troca da liberação da propriedade do amigo de Temer, pertence ao frigorífico Mondelli e tem 2,2 mil hectares. A área foi arrolada no processo de falência do grupo e já foi levada a leilão três vezes, sem ser arrematada. Desde 16 de março deste ano, parte da fazenda está ocupada por integrantes da União Camponesa, ligada à Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Rurais.

Conforme o jornal, o Incra iniciou negociações uma semana após a delação premiada de executivos da JBS que atingiram o presidente. O dono da Fazenda Esmeralda é apontado pelos investigadores da Lava Jato como operador de propina de Temer.

A propriedade de Duartina foi invadida pela primeira vez em março de 2016, pelo MST. Em maio, voltou a ser invadida pela FNL, liderada por José Rainha. A invasão pela União Camponesa ocorreu na madrugada de 22 de maio último. Cerca de 150 sem-terra entraram no local "em protesto contra os fatos apontados na delação da JBS".

O registro da ocorrência feito pela Polícia Civil aponta que a ocupação se deu "com a finalidade de pressionar o senhor presidente da República, Michel Temer, que é amigo pessoal da vítima João Baptista Lima Filho". A invasão é objeto de inquérito.

Em nota, o Incra diz que, caso tivesse ocorrido o suposto tráfico de influência, a aquisição da Santo Antonio já teria ocorrido. "O fato de o Incra discordar do valor estipulado no leilão judicial - R$ 9 milhões acima da primeira avaliação do perito judicial - demonstra de forma inequívoca que a questão sempre foi tratada no âmbito do instituto com base em critérios puramente técnicos e impessoais."

Lima Filho não respondeu aos contatos da reportagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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