Operação da PF mira 4 maiores fundos de pensão do Brasil e bloqueia R$ 8 bi

FolhaPress
Hoje em Dia - Belo Horizonte
05/09/2016 às 16:43.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:42
 (WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO)

(WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO)

A Polícia Federal deflagrou na manhã desta segunda (5) a Operação Greenfield, que investiga supostos desvios nos quatro maiores fundos de pensão do Brasil. Os alvos são Funcef (fundo de pensão de funcionários da Caixa Econômica Federal), Petros (trabalhadores da Petrobras), Previ (Banco do Brasil) e Postalis (Correios), além da sede da Eldorado Brasil -empresa do grupo J&F- em São Paulo. Funcef e Petros estão entre os controladores da Eldorado Celulose.

Os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da J&F, holding que é proprietária de uma das maiores empresas de processamento de proteína animal do mundo, a JBS, foram alvos de busca e apreensão e condução coercitiva. Wesley depôs nesta manhã. Como está fora do país, Joesley não foi levado à PF.

O empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, também foi levado para depor nesta operação. Ele também foi preso novamente pela Operação Lava Jato por tentativa de obstruir os trabalhos da CPI da Petrobras, mas sem relação com a Greenfield. Cristiano Kok, sócio da engevix, foi alvo de condução coercitiva.

A PF ainda fez buscas na residência o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto em São Paulo. Ele está preso há mais de um ano em Curitiba no âmbito da Lava Jato.

Ao todo, a operação envolveu 38 pessoas jurídicas e 74 de pessoas físicas. Entre as empresas investigadas estão Santander, Brookfied, WTorre, a vice-presidência de fundos de ativos da Caixa, Deloitte, GruPar (aeroporto de Guarulhos), Sete Brasil, Rio Bravo, Engevix, IBG Eletrônica (nova Gradiente), HAG Participações (holding da Gradiente) e Invepar.

Outros alvos são a BRAM (Bradesco Asset management) e a BEM DTVM (distribuidora de títulos e valores mobiliários), também do Bradesco, além da massa falida do BVA, LD Consultoria, R.S. Consultoria e Lakeshore. Buscas foram feitas também na casa do ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, no Rio de Janeiro.

Segundo a investigação, a ação é baseada em análise de déficits bilionários dos fundos de pensão. Ainda de acordo com a PF, em 8 de 10 casos analisados foram realizados investimentos de forma temerária ou fraudulenta pelos fundos de pensão, por meio dos FIPs (Fundos de Investimentos em Participações).

A Justiça bloqueou bens e ativos de pessoas físicas e jurídicas investigadas no valor de aproximadamente R$ 8 bilhões. Os investigados podem responder por gestão temerária ou fraudulenta, além de outros crimes contra o sistema financeiro.

O nome da operação, Greenfield, remete a investimentos que envolvem projetos incipientes, ainda no papel, como se diz no jargão dos negócios.

A PF ainda pretende apurar a suposta participação de políticos no esquema de desvios de pensão.

A Eldorado disse, por meio de assessoria de imprensa, que não se manifestaria até ter as informações sobre a operação.

"A Polícia Federal solicitou ao Santander o fornecimento de alguns documentos relacionados aos fundos Funcef, Global, Petros, Previ e à Sete Brasil. Fundamental esclarecer que essas investigações não têm qualquer relação com o Santander, mas sim com os referidos fundos", disse o banco Santander em nota.

O Grupo WTorre, em nota, disse que não tem negócios na esfera do Poder Público. "A companhia não teve e não tem nenhuma relação direta com nenhum dos fundos de pensão citados na Operação Greenfield. A companhia e seus executivos estão, sempre que solicitados, à disposição da Justiça e demais autoridades."

"A BRAM e a BEM, na qualidade de prestadores de serviços para terceiros, respectivamente para gestão e administração de fundos de investimentos, informam que seguem estritamente o regulamento dos fundos sob sua gestão e administração e as regras definidas pelos reguladores. Acrescentam ainda que estão prestando toda a colaboração requerida pelas autoridades", diz a nota divulgada pelo Bradesco.

Em nota, a Funcef afirmou que "confirma operação da Polícia Federal em sua sede, em Brasília, para o cumprimento de mandados judiciais". "A Fundação reitera que possui rigorosos padrões éticos em todos os investimentos e na relação com seus participantes e assistidos e reafirma que está, como sempre esteve, à disposição das autoridades competentes para prestar os esclarecimentos que vierem a ser solicitados."

A Caixa afirmou que "já havia criado força-tarefa específica, constituída por técnicos do quadro de carreira da instituição, para apurar a existência de eventuais irregularidades no âmbito dos investimentos da Fundação, inclusive os que possuem administração do banco". O banco disse, ainda, que essa equipe mantém contato permanente com as autoridades e que colabora com as investigações.

A Postalis afirmou, em comunicado, que se colocou à disposição das autoridades e que "tem todo o interesse" em que os fatos sejam esclarecidos.

A Petros disse, em nota, que está colaborando com as investigações e que a busca e apreensão limitou-se a investimentos decididos até 2011. "A Petros reforça o comprometimento da gestão com a transparência, as práticas de boa governança e a responsabilidade", defendeu.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Previ disse que "possui um modelo de governança maduro e transparente" e que a CPI dos Fundos de Pensão, concluída recentemente na Câmara dos Deputados, não constatou nenhuma irregularidade no fundo.

A Rio Bravo afirmou ter "poucas relações com os fundos de pensão que são objeto desta investigação, mesmo trabalhando com a maior parte das empresas deste segmento, sempre com lisura, ética e total observância à legislação". A empresa disse ainda que apoiará as ações das autoridades brasileiras no combate a práticas ilegais de agentes públicos e privados que está à disposição para prestar informações e auxiliar as investigações. A Gradiente informou que não vai se posicionar sobre a operação.

A reportagem ainda não conseguiu contato com as outras investigadas nem com a defesa de Vaccari.

MANDADOS

Ao todo, foram emitidos 127 mandados judiciais pela 10ª Vara Federal de Brasília, sendo 7 de prisão temporária, 106 de busca e apreensão e 34 de condução coercitiva. A operação ocorre nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Amazonas, além do Distrito Federal.

São Paulo
Capital - 44 mandados de busca e apreensão, 17 conduções coercitivas e 1 prisão temporária
Campinas - 1 mandado de busca e apreensão e 1 condução coercitiva
Santos - 1 mandado de busca e apreensão

Rio de Janeiro
Capital - 28 mandados de busca e apreensão, 7 conduções coercitivas e 1 prisão temporária
Niterói - 3 mandados de busca e apreensão e 1 condução coercitiva

Espírito Santo
Vila Velha - 1 mandado de busca e apreensão e 1 prisão temporária

Bahia
Salvador - 1 mandado de busca e apreensão e 1 condução coercitiva
Ilhéus - 1 mandado de busca e apreensão;

Paraná
Curitiba - 1 mandado de busca e apreensão

Rio Grande do Sul
Porto Alegre - 2 mandados de busca e apreensão e 1 condução coercitiva

Santa Catarina
Florianópolis - 3 mandados de busca e apreensão, 1 condução coercitiva e 1 mandado de prisão temporária

Amazonas
Manaus - 2 mandados de busca e apreensão

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