Posse de Trump é uma incógnita para a América Latina

Agência France Presse
18/01/2017 às 17:28.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:27

O bilionário Donald Trump será empossado na sexta-feira (20) como o novo presidente dos Estados Unidos sem ter delineado ainda um plano coerente para as relações de Washington com a América Latina, em uma situação que mergulha toda a região na incerteza.

Durante toda sua campanha eleitoral e em declarações posteriores à sua vitória, Trump apenas sugeriu que poderia reverter os avanços feitos até agora na reaproximação com Cuba e insistiu na construção de um muro na fronteira com o México para impedir a entrada de imigrantes.

Ele também criticou os acordos comerciais assinados pelos Estados Unidos e prometeu renegociá-los, uma ameaça que, a princípio, afeta diretamente o México, com o qual está unido - juntamente com o Canadá - no Tratado de Livre Comércio da América do Norte.

Assim como em outros aspectos de sua plataforma de governo, o novo presidente não esboçou uma estratégia geral ou uma doutrina que possa guiar as relações de Washington com o resto do continente, nem incentivou planos para alianças em que possa estar especialmente interessado.

Para o cientista político e assessor parlamentar Marc Hanson, a análise de possíveis cenários das relações entre Trump e a América Latina é fácil de resumir: "ninguém tem ideia do que podemos esperar", declarou.

Contradições  

Segundo Hanson, é significativo que Rex Tillerson, indicado por Trump para comandar o Departamento de Estado, tenha passado um dia exaustivo respondendo a perguntas de uma comissão do Senado sem fazer qualquer menção à América Latina, além de comentários genéricos sobre Cuba.

Mas ainda com relação a Cuba, acrescentou Hanson, há contradições internas na equipe que cerca o presidente.

A equipe de transição ao novo governo no Departamento do Tesouro, afirmou, inclui "o maior lobby de Washington a favor de manter o embargo a Cuba", mas Tillerson é contrário à aplicação de sanções a países porque as considera um obstáculo para empresas americanas.

Trump "é tão confuso, tem um temperamento tão explosivo e tem uma capacidade de concentração tão curta que posso ver como a liderança dos Estados Unidos na região se dissipará a ponto de ser inexistente", disse Hanson à AFP.

Na opinião de Hanson, o "instinto" de Trump "o levará a ser abusivo: quando vir países que não podem se defender sozinhos ou líderes que enfrentam desafios, não hesitará em intimidá-los. Parece não saber exatamente em que direção gostaria que a região avance".

 Uma engrenagem pesada 

De acordo com o economista Mark Weisbrot, do Centro de Pesquisas de Economia e Política (CEPR), isto é assim não só porque Trump não parece ter um plano preparado para estas relações, mas porque as ferramentas que operam mudanças na política externa compõem uma engrenagem enorme e pesada que tem seus próprios interesses, além de estar ligada à segurança nacional.

"Eu não esperaria algo muito diferente de Trump. O 'estado de segurança nacional' é tão poderoso e tão grande que se um presidente quer uma mudança de política externa realmente tem que torná-lo uma prioridade", comentou o especialista à AFP. 

  

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