Presidente do BNDES, indicada ao cargo por Temer, renuncia

Da Redação*
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26/05/2017 às 16:37.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:44
 (Tomaz Silva/Agência Brasil)

(Tomaz Silva/Agência Brasil)

A presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Silvia Bastos Marques, indicada ao cargo pelo presidente Michel Temer, informou oficialmente a renúncia ao cargo nesta sexta-feira (26).

Em comunicado interno distribuído nesta sexta aos funcionários, Maria Silvia informa que toda a diretoria, que chegou ao banco junto com ela há cerca de um ano, seguirá no cargo.

"Informei pessoalmente ao presidente Michel Temer a minha decisão de deixar a presidência do BNDES", diz Maria Silvia, no início do comunicado interno. Na agenda oficial da diretoria do BNDES, constava reunião com Temer, marcada para 14h30, em Brasília.

Aos funcionários do BNDES, Maria Silvia alegou motivos pessoais para renunciar. "Deixo a presidência do BNDES por razões pessoais, com orgulho de ter feito parte da história dessa instituição tão importante para o desenvolvimento do País", diz o comunicado, fazendo referência à sua passagem anterior pela diretoria do banco, no início dos anos 1990.

Maria Silvia buscou também enaltecer o quase um ano de gestão à frente do BNDES, durante o qual diz ter buscado "olhar para o futuro, estabelecendo novos modelos de negócios e estratégias para o banco, sem descuidar do passado e do presente, sempre tendo em mente preservar e fortalecer a instituição e seu corpo funcional".

A assessoria do banco esclareceu que o diretor Ricardo Ramos, pertencente ao quadro de carreira do BNDES, responderá interinamente pela presidência do Banco.

Temer

Menos de meia hora depois de informar oficialmente que não se manifestaria sobre o pedido de demissão de Maria Silvia Bastos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República divulgou uma nota para destacar que o presidente Michel Temer, agradece o empenho da executiva frente ao banco de fomento. "O presidente da República, Michel Temer, manifesta seu profundo agradecimento a Maria Silvia Bastos Marques, que presidiu o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social de forma honesta, competente e séria por pouco mais de um ano", diz o texto.

Em meios às críticas nos bastidores da classe empresarial de que a executiva estava fazendo uma gestão dura no banco, ampliando a dificuldade de acesso ao crédito, a nota ressalta que o trabalho de Maria Silvia "honrou o governo e moralizou um setor estratégico para o País". "Despolitizando a relação com o setor empresarial e elegendo critérios profissionais e técnicos para a escolha de projetos a serem contemplados com financiamentos oriundos de recursos públicos", afirma. "Deixará como legado um modelo a ser seguido em toda máquina pública", completa.

Temer esteve com Maria Silvia nesta sexta-feira, às 14h30, numa reunião que foi incluída posteriormente em sua agenda. Logo após, o BNDES divulgou um comunicado oficial informando sobre a saída da executiva.

Investigações

Nessa quinta-feira (25), a AFBNDES, Associação dos Funcionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), rebateu acusações de possível envolvimento de técnicos da instituição de fomento em irregularidades envolvendo as operações com o frigorífico JBS. 

As operações do BNDES com a JBS foram alvo da Operação Bullish, deflagrada no último dia 12. O banco voltou à berlinda com a revelação, no dia 17, do acordo de delação premiada de executivos do frigorífico. Coordenada pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) do Distrito Federal, a Bullish cumpriu 47 mandados envolvendo técnicos, executivos ou ex-executivos do BNDES. 

Em editorial publicado em seu jornal interno, a AFBNDES disse que as acusações são "descabidas", que as investigações policiais sobre essas operações precisam ser "racionalizadas" e lembrou que o banco de fomento vem sendo investigado pelos órgãos de controle, inclusive por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). 

A Operação Bullish foi baseada em investigação do Tribunal de Contas da União (TCU). A PF produziu um laudo contábil no qual aponta seis irregularidades nas operações de crédito e de compra de ações, que somam R$ 8,1 bilhões, no cálculo da investigação. Os investigadores sustentam que há indícios de gestão temerária e fraudulenta nas operações, além de corrupção e lavagem de dinheiro.

Uma das suspeitas foi o fato de as análises de algumas operações terem sido rápidas demais. Segundo a AFBNDES, isso não significa favorecimento. "A questão aqui envolve apenas a convenção para medir o prazo de avaliação. Na prática, a avaliação ocorreu por meses no BNDES. Propriamente comparada ao universo de operações semelhantes, verifica-se que o prazo de avaliação dessa operação está muito longe de ser excepcional", informou o texto da AFBNDES.

A associação rebateu também a alegação de que o BNDES abriu mão de garantias nas operações de compras de ações. "Essas operações, que envolvem participação societária, não são operações de crédito que tipicamente contam com instrumentos de garantia real ou fidejussória", disse o texto. Mesmo no caso da compra de títulos de dívida, não houve leniência na exigência de garantias. "No caso das debêntures conversíveis, elas eram mandatoriamente conversíveis e só poderiam ser pagas com ações não geravam fluxo de pagamento de juros. Como as ações já existiam, a 'garantia' estava dada", continuou o editorial.

A AFBNDES também questionou o método de investigação. Segundo a associação, faria sentido mirar em investigados com poder de decisão. "Uma investigação criminal não deveria começar com os que assinaram a Ata de Diretoria, e, não, como está ocorrendo, com os que assinaram relatórios de análise e notas técnicas?".

O editorial também rebateu declarações do presidente Michel Temer, que, no pronunciamento do último sábado, já após a revelação da delação premiada dos executivos da JBS, disse que nomeou a presidente Maria Silvia Bastos Marques para "moralizar" o BNDES.

"Não há nenhuma 'moralização' ocorrendo no processo de nomeação de conselheiros em empresas investidas da BNDESPar. Os empregados do BNDES indicados para conselhos de administração ou fiscal das empresas investidas pelo banco não recebem remuneração no exercício dessa atividade", diz o editorial.

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