Produtores mineiros estão em alerta amarelo após decisão dos EUA de suspender carne brasileira

Filipe Motta
fmotta@hojeemdia.com.br
23/06/2017 às 17:49.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:13
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

Os exportadores de carne bovina mineiros tiveram um aumento de 20,9% nas receitas de janeiro a maio deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, com a entrada de US$ 204 milhões. Mas, a situação pode se transformar  com a decisão do governo dos Estados Unidos de interromper as compras de carne in natura do Brasil.

Na contramão do restante do país, as exportações, que representam cerca de 20% da produção bovina mineira, têm sido um ponto de equilíbrio para a indústria da carne, que viu o preço da commodity despencar no mercado interno, com a sucessão de fatos envolvendo o setor neste ano – já abalado pela operação Carne Fraca, em março, e as delações premiadas dos proprietários da JBS, em maio.

Fato é que, em média, a cotação da carne no mercado mineiro está 15% menor neste mês na comparação com junho de 2016, aponta a Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg). Hoje o preço da arroba do bovino macho se encontra em torno de R$ 125. Só entre maio e junho, a queda no preço do boi foi de 8,8% e as exportações vinham amenizando este impacto. 

A queda no preço ocorre devido ao aumento do excedente do produto no mercado interno. “Diferente de outros estados produtores, em que a JBS tinha quase o monopólio, Minas têm uma diversidade de empresas na indústria da carne, o que contribuiu para esse avanço que vínhamos tendo nas exportações”, explica Wallisson Lara Fonseca, analista de agronegócios da Faemg.

Leônidas Maciel, do Sindicato da Indústria da Carne de Minas, afirmou que as empresas ainda avaliavam o impacto da decisão americana no setor.

A interpretação de especialistas é a de que ainda que os Estados Unidos não sejam um grande mercado para a carne produzida no Brasil, tendo retomado a compra do produto brasileiro somente em agosto do ano passado, a venda do produto para aquele país era estratégica para se alcançar outros mercados com restrições sanitárias tão ou mais rigorosas.

“Desde 1999 vínhamos trabalhando arduamente para abrir o mercado dos EUA. Essa abertura dava a chancela para mercados como Canadá, Japão e Coreia do Sul, para os quais não temos tradição de venda”, explica Wallisson Fonseca, da Faemg.

Antônio Pitangui, da Comissão de Carne  da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), lembra que a situação é ainda mais desagradável já que, antes dos três acontecimentos que abalaram o setor, as perspectivas  eram positivas, com condições climáticas   favoráveis e  insumos em queda. 

De fora

Nenhum dos cinco frigoríficos com notificação de abcessos pelos Estados Unidos é mineiro, conforme Wallisson Lara Fonseca, analista de agronegócios da Faemg. Os frigoríficos mineiros retirariam a parte da carcaça tomada pela inflamação causada pela vacina – o que resulta na perda de cerca de 3 quilos por unidade.

Para Antônio Pitangui, da Comissão de Carne de Corte da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), a importância do Brasil no mercado também ocasiona problemas com importadores.
“Problemas parecidos como esse sempre virão. São problemas comerciais. Sentimos mais um baque e vamos continuar a ser atacados, dada nossa importância para a produção mundial”, afirma Pitangui.

Segundo o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, além do problema sanitário, existe uma pressão de produtores americanos para criar uma barreira à carne brasileira. “Somos grandes concorrentes mundiais e estamos vendendo carne para eles”, disse o ministro. “O mercado brasileiro também está aberto aos EUA, mas eles não conseguem vender aqui, porque têm produtos mais caros que os nossos”, disse.

Suínos
O mercado de suínos também foi impactado pela operação Carne Fraca e Delação da JBS. 
As exportações mineiras, no acumulado de janeiro a maio, se mantiveram no mesmo patamar de US$ 16,5 milhões do mesmo período do ano passado, aponta relatório da Secretária de Agricultura.
Além disso, o preço do quilo da carne, que se encontra em R$ 4,10, está 7% menor que o mesmo período do ano passado.
Com Agência Estado

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